“Há uma base de apoio grande a Carlos Amado da Silva”

Ricardo Nunes, vice-presidente da FPR, considera que têm sido feitas “críticas injustas e levianas” à direcção da federação

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Entrou para a direcção da FPR durante o segundo mandato de Carlos Amado da Silva e, numa altura de forte contestação à federação, Ricardo Nunes surge em defesa do presidente. Ex-atleta da Académica e antigo internacional português, o vice-presidente, de 38 anos, refere que “a direcção da federação assume por completo o desaire na selecção de XV e de sevens”, e deixa grandes elogios a Oliver Baragnon, “um homem de uniões e não de divisões”.

 

A direcção da FPR tem sido muito criticada nas últimas semanas. Considera essa contestação justa?

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Há três tipos de críticas diferentes. Há um primeiro tipo de críticas que começaram mal esta direcção tomou posse, e essas têm a importância que têm. Foram feitas principalmente pela internet, numa fase em que havia pouco ou nada para criticar. Depois, há um segundo nível de críticos que surgiram a partir do momento em que se começaram a vislumbrar eleições. Têm outro pendor e força, mas muitas delas vêm de pessoas que no passado estiverem ligadas a direcções anteriores. Faz parte do processo democrático. Há ainda um terceiro tipo de críticas, e penso que essas devem ser as mais valorizadas, que são construtivas e vêm de pessoas que estão de alguma forma junto desta direcção. Mais do que críticas, são sugestões para a melhoria da modalidade. Toda a gente tem interesse que as coisas más melhorem, mas o problema das críticas, é que quando não são construtivas e se lava roupa suja na imprensa, colocando as coisas de forma leviana, a própria marca râguebi sai enfraquecida. Essa é a minha grande tristeza. 

 

Que críticas injustas e levianas foram essas?

O que é que pode ser criticável no râguebi em Portugal? Os resultados das equipas seniores de XV e de sevens estiveram abaixo das expectativas, mas é preciso perceber que a gestão dessas expectativas, seja pela direcção da federação, seja por pessoas de fora, pode ter sido mal feita. E, quando se gere mal as expectativas, arriscamo-nos a que depois aconteçam estes fenómenos. Se perguntar a alguém do râguebi mundial se Portugal tinha mais ou menos possibilidade de ir aos Jogos Olímpicos, todos lhe dirão que tinha menos. A equipa de sevens não ir aos Jogos Olímpicos era expectável face à concorrência.

 

Mas as críticas surgiram por a selecção ter sido afastada da forma que foi…

Claro, mas os sevens estão onde nunca estiveram. Por mérito e classificação estão no Circuito Mundial. Antes não estavam.

 

Este formato com equipas residentes só surgiu durante o mandato desta direcção…

Sim, não existia antes. Havia convites e éramos convidados para uma ou duas etapas. Mas desde que existe uma classificação que rege a presença ou não no Circuito Mundial, Portugal manteve-se sempre. É evidente que a direcção da federação assume por completo o desaire na selecção de XV e de sevens. Nós fomos os principais responsáveis e sobre isso não há dúvida nenhuma. Não se deve pensar que foi o “fulano A” ou o ensaio que não entrou. Os principais responsáveis têm que ser sempre os comandantes e os comandantes assumem esse desaire.

 

Não foi essa a mensagem transmitida pelo presidente da FPR na entrevista à Bola TV…

Na minha opinião, e já falei com o presidente sobre isso, parece-me que a forma como a pergunta foi feita e a resposta foi dada não foram as mais correctas. Não é a primeira nem a última vez que alguém numa entrevista diz algo que não é o que realmente pensa. O presidente é o principal responsável e os vice-presidentes estão solidários com essa responsabilidade. Mas também são responsáveis por outras coisas e, se formos ver o que mudou nas últimas três semanas, foi apenas o resultado da equipa de sevens. Os resultados da equipa de XV não foram muito bons, mas estão em linha com o que foi feito nos últimos dois/três anos.

 

A selecção nacional de XV caiu do 19.º para o 29.º lugar no ranking da World Rugby nos últimos cinco anos…

Portugal não teria descido se não tivesse aceitado jogar no Quénia, em condições dificílimas. As equipas gerem este ranking conforme a sua conveniência. Este ranking não é o melhor barómetro para medir a qualidade de uma equipa. Não se pode olhar apenas para aí. Portugal continua no mesmo grupo [no Torneio Europeu das Nações] e hoje em dia as selecções de Leste estão muito mais fortes financeiramente do que a selecção portuguesa. Assumimos que o XV e os sevens não tiveram um ano bom, mas em tudo o resto estamos onde nunca estivemos. Nunca estivemos como estamos hoje em dia a nível das condições criadas para o futuro. 

 

Falando ainda da parte desportiva, as equipas técnicas nacionais, incluindo a de sevens, já tinham conhecimento de que não teriam os seus contactos renovados antes do torneio de repescagem para os Jogos Olímpicos. Foi um bom acto de gestão?

Não posso confirmar esses pormenores, por não serem essas as informações que tenho. No organigrama das selecções seniores, o Tomaz Morais, uma figura muito importante no râguebi português que temos que tratar bem e que pode ser importante noutras funções, exercia a figura de director técnico nacional e competia-lhe a indicação à federação dos treinadores para as diversas equipas.

 

Isso aconteceu ao longo de todo o mandato da actual direcção? Foi Tomaz Morais que indicou Errol Brain, Frederico Sousa e João Luís Pinto?

Posso falar do período em que estava e o Frederico Sousa e o João Luís Pinto foram indicados por ele. Acredito que com Errol Brain também tenha sido assim…

 

A contratação de Oliver Baragnon foi discutida em reunião de direcção?

Foi discutida em reunião de direcção e quem viu a conferência de imprensa da sua apresentação percebeu que ele é um homem de uniões e não de divisões. Quando os resultados não aparecem, compete às direcções escolher um novo caminho e mudar alguma coisa a ver se resulta. E como surge o Oliver Baragnon? Pouca gente sabe, mas ele é o braço direito do Pierre Villepreux, um dos maiores visionários e estudiosos que influenciou o râguebi no Mundo. Falamos com gente com muito conhecimento e muitos indicaram-nos o Olivier. Era a pessoal ideal. Neste momento temos cerca de 30 jogadores luso-descendentes, que podem entra no lote de convocáveis para a selecção, e como somos amadores, muitas vezes não os conseguimos trazer porque os clubes onde jogam são profissionais e não deixam. Esse é um problema que um dia a World Rugby tem que resolver. O Oliver Baragnon é francês e terá uma grande capacidade de interlocução junto das equipas francesas. Para além disso, já treinou jovens e seniores. Uma das mentiras que se disse foi que ele treinou os sub-18 escolares. Treinou os sub-18 franceses onde foi campeão e vice-campeão da Europa, treinou também o Colomiers, uma equipa profissional...

 

Sempre como adjunto…

Na selecção francesa foi principal, no Colomiers adjunto. A certa altura da carreira, decidiu voltar-se para a Universidade onde tem desenvolvido excelentes dinâmicas de râguebi colectivo. Ele foi campeão universitário de França dois anos seguidos. Um campeão universitário francês ganha a todas as equipas portuguesas de caras. Estamos a falar de outro nível. Ele tem estas várias vertentes: tanto pode treinar em ambiente mais profissional, como mais amador. Depois, consegue ter experiência de jovens e nós temos uma selecção jovem que precisa de ser trabalhada. Acho que foi uma injustiça o que se disse sobre ele. Não se trata assim uma pessoa com este currículo. 

 

Não teria sido preferível deixar a escolha do novo seleccionador para depois das eleições?

Percebo a pergunta, mas há uma cláusula no contrato de toda a equipa técnica de saída sem qualquer penalização financeira para quem ganhar as eleições.

 

Também surgiram críticas pelo facto de o seleccionador continuar a viver em França…

É outro mal-entendido. O Olivier será o principal interlocutor entre toda a comunidade que está em França e a federação, estará presente em todos os treinos da selecção portuguesa, em todos os jogos e em todos os eventos. Sendo o râguebi em Portugal um desporto amador, há muitos períodos em que a sua presença não será indispensável. Pode estar em França a acompanhar as equipas onde jogam os portugueses. Estará a trabalhar em full-time em dois países.

 

Acredita mesmo que a atitude dos clubes franceses vai mudar por o interlocutor ser francês?

Será mais do que mudar a atitude. Os clubes terão mais facilidade em libertar os jogadores, havendo um interlocutor que é uma figura do râguebi francês. É considerado um conhecedor profundo do râguebi francês e está numa universidade de onde saíram os melhores treinadores.

 

A responsabilidade disso não é, também, da federação? Saber com que conta para cada jogo?

Nós sabíamos com quem contávamos…

 

Durante estes últimos anos, foi recorrente jogadores abandonarem os estágios a dois ou três dias dos jogos após serem chamados pelos seus clubes franceses…

Isso não acontece só em Portugal. Há uma lacuna na legislação. Para os mantermos, temos que lhe pagar.

 

Que balanço faz deste último mandato? O que vai deixar esta federação de positivo?

Nunca houve uma direcção da federação que tenha promovido tanto a descentralização do râguebi em Portugal, tratando os clubes todos da mesma forma independentemente da sua dimensão e região. Realizamos muitos eventos fora de Lisboa: Algarve Sevens, jogos da selecção em Coimbra, Taça de Portugal de sub-16 e sub-18 no Alentejo. Outro ponto é a melhoria das infra-estruturas directas e indirectas. Nas directas há desde logo o investimento no CAR, no Jamor, onde há que realçar o papel do presidente da FPR. As condições que existiam antes eram muito complicadas. Há que destacar ainda as relações próximas deste presidente com as federações mundiais, como as portuguesas. A prova disso é que hoje Portugal é visto como um país do râguebi, o que não acontecia há seis ou sete anos. Portugal organizou mais eventos nos últimos três ou quatro anos do que na sua história toda. Voltando às infra-estruturas, há seis novos campos construídos para clubes portugueses com a ajuda directa ou indirecta da federação: Évora, São Miguel, Belenenses, Anadia, Santarém e Arcos de Valdevez.

 

Qual foi a influência da federação? Deu apoio financeiro?

Não. Em alguns, foi quem assegurou junto da Câmara Municipal determinadas condições. Noutros, abdicou de receber fundos para que os clubes recebessem.

 

Como está a situação financeira da federação?

A situação que esta direcção herdou da anterior era quase catastrófica. Havia uma dívida gigantesca que nestes anos foi reduzida em 60%.

 

Vai fazer parte da equipa que Carlos Amado da Silva apresentará para as eleições?

Neste momento, só é conhecido oficialmente um candidato a presidente, que é Francisco Martins, um ex-funcionário da FPR. As eleições deverão realizar-se no último trimestre deste ano e nesta altura é muito cedo para se tomar decisões.

 

O actual presidente já afirmou que se vai recandidatar…

Tanto quanto sei, o actual presidente está a pensar ser candidato, mas tanto quanto também sei, ainda não fez qualquer convite formal para as suas listas. Há uns tempos atrás, pensava que por motivos profissionais fosse a altura de não continuar. Com o clima e inverdades que têm sido ditas, não tenho uma resposta para dar.

 

Francisco Martins é um bom candidato?

Tem uma série de qualidades e foi funcionário da federação, mas tenho dúvidas que tenha peso institucional para ser presidente. Terá a sua utilidade no râguebi português, mas noutras funções… Mas é difícil comentar sem conhecer o seu programa e equipa.

 

Foi também anunciado que surgirá uma terceira via…

Sou a favor do surgimento de várias alternativas. A democracia é assim. Espero que essa terceira via seja de mudança, com pessoas criteriosas e capazes, e que não seja um regresso ao passado onde viveram-se tempos complicados.

 

Que informações tem sobre os apoios que actual direcção contará nas eleições?

Ainda é cedo, mas acho que há muitos clubes que têm medo desse regresso ao passado. Há uma base de apoio grande a Carlos Amado da Silva se ele apresentar uma lista. Algumas entrevistas que foram dadas fizeram mal o râguebi português e, curiosamente, isso despoletou uma série de reacções muito positivas face a esta direcção. Muitos clubes no dia seguinte prontificaram-se a fazer parte de um projecto comum.

 

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