Paulo Furtado e Paredes de Coura: “Espero que envelheçamos juntos”

Este ano, Paulo Furtado actua no Vodafone Paredes de Coura enquanto The Legendary Tigerman. É um regresso a um palco que conhece bem, como músico e espectador. Eis o testemunho que escreveu para o livro comemorativo dos 22 anos do festival

Fotogaleria
Paulo Pimenta
Fotogaleria
Paulo Pimenta

A primeira lembrança que tenho de Paredes de Coura é de 1994, a segunda edição do festival. É verdade, em 1994 já fazia música, é um facto.

Na altura tocava com os Tédio-Boys, cada saída para um concerto era uma aventura.

Estranhamente lembro-me do concerto, que correu bem, e lembro-me de ver os Cosmic City Blues, os Jarojupe (fiquei maravilhado com um pedal que o guitarrista tinha, que ligava uma ventoinha nos solos!) e os maravilhosos Ena Pá 2000. Mais tarde nessa noite lembro-me de ver o rabo alvo do Manuel João a desaparecer nas águas escuras do Rio Coura. Inesquecível.

Voltei muitas vezes a Coura, dos dois lados do palco. Lembro-me de ver os The Cramps, doente e com febre, na primeira fila, lembro-me da PJ Harvey, Yeah Yeah Yeahs, At the Drive-In, Queens Of The Stone Age e tantos outros. De dançar e viver o festival como amante de música.

E depois o outro lado, claro.

Toquei tantas vezes neste festival, entre Tédio-Boys, Wraygunn e The Legendary Tigerman, a começar à tarde no palco pequeno, e depois ano após ano a subir na programação até ao momento de fechar o palco principal com os Wraygunn. O peso da responsabilidade a pesar no ombros, subir ao palco e sentir e ver aquele enorme tsunami de gente que parece que nos vai engolir, ávidos por música, suor e "rock´n´roll". O medo de falhar. Esquecer o medo, conquistar. Foi bonito demais. Ainda hoje sinto que foi bonito demais. Rir e abraçar e beijar todos na banda enquanto lavo a lama que me cobre o corpo com garrafas de água de litro e meio. O Zé Pedro a vir abraçar-me. E muitos anos antes disso, à tarde, no palco pequeno, o calor a apertar, o bombo a fugir-me dos pés e dez pessoas a ver um concerto de Tigerman.

Muita coisa mudou desde 1993 até este momento. O palco principal mudou de sítio, cresceram outros, Paredes de Coura agigantou-se e é neste momento um marco no panorama dos festivais em Portugal, incontornável, como músico ou como público.

Mas para mim Coura será sempre este local etéreo, este sítio na minha mente onde guardo tantas memórias afectivas e musicais, tantos momentos de partilha inesquecíveis.

Sabe bem ter lá estado no início, e espero que envelheçamos juntos.

Sugerir correcção
Comentar