“O râguebi é um bichinho difícil de largar”

Aos 39 anos, Marcello D’Orey regressou aos relvados no final da época no RC Famalicão “para manter o gosto”, mas continuar ligado ao râguebi será “difícil”

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Luís Carlos Moutinho

Nasceu no Rio de Janeiro há 39 anos, mas vive desde os 12 em Portugal. Advogado de profissão, Marcello d’Orey começou por jogar no CDUP, ainda nas camadas jovens, e foi no clube portuense que fez praticamente toda a sua carreira. Porém, “um diferendo com a direcção” dos “universitários” ditou a sua saída do clube, quando era treinador. Como técnico, comandou ainda o RC Famalicão e, no final desta época, o “bichinho” fê-lo regressar aos relvados, com a camisola dos minhotos. Em relação ao futuro, Marcello d’Orey diz que continuará “sempre ligado” ao râguebi, mas reconhece que é “difícil conciliar o lado profissional com ser treinador”.

 

Quando é que começou a jogar?

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Comecei com 15 anos, na época de 1991-92. Tinha amigos da escola que jogavam e como eu gostava de desporto, tinha algum jeito e era grande, chatearam-me. Um dia fui e gostei.

 

Jogar a segunda-linha agradava-lhe?

Sim. Também joguei a “8” e fiz alguns jogos a primeira-linha, mas sempre gostei muito de jogar a segunda-linha.

 

O que é que é preciso para se ser um bom segunda-linha?

Tem que se gostar de algumas coisas: trabalhar no jogo, ou seja limpar rucks, andar metido nos rucks, fazer força, defender os mauls, defender os rucks, gostar do contacto. Tem que se ter uma certa agressividade, pois tem que se impor nas mêlées. Tem que querer empurrar e querer fazer o outro “sofrer” um pouco. E, principalmente, tem que se gostar de trabalhar para que outros brilhem. É preciso ter também algumas qualidades físicas específicas: ser alto e se possível ter agilidade para saltar, ser forte e ter espírito de sacrifício, porque sofre-se bastante nas mêlées.

 

É preferível ter um capitão de equipa no pack avançado ou nas linhas-atrasadas?

Existem várias teorias a nível internacional para isso. Há quem prefira que seja um avançado ou um formação, porque estão sempre junto ao árbitro e da bola. Dentro desta ideia, há quem defenda que seja um segundo-linha por ter uma certa estatura física e assim não se começar o jogo já a olhar para cima. Depois, há quem prefira um três-quartos, porque tem um pouco mais de calma, está com menos tensão e com mais frieza. Acima de tudo, é preciso ser um líder, alguém respeitado e com lugar garantido na equipa

 

Voltou a jogar no final da época passada no RC Famalicão. O que o fez regressar?

Já não jogava há quatro ou cinco anos, mas jogar râguebi é um bichinho. Joguei durante quase 20 anos e dar treinos não é a mesma coisa, não tem a mesma piada. Parei porque já não tinha tempo para me dedicar a sério, além que o corpo já começava a dar sinais que estava a ficar gasto. Por isso, quando voltei agora, foi para um escalão mais fraco, em que a intensidade é menor. Só para manter o gosto. Houve ainda o facto de ter algumas pessoas de que gosto nesse clube. Serviu como diversão e descompressão.

 

O que aconteceu para ter abandonado o CDUP?

Houve um diferendo com a direcção, que optou por outro caminho. Não dava mais. O meu clube é o CDUP, mas foi inconciliável. Foi uma opção que a direcção tomou.

 

Representou quase sempre o CDUP, mas também esteve em Inglaterra…

Estive quase sempre no CDUP, excluindo um ano em Inglaterra, em Erasmus, onde joguei na Universidade em Essex e num clube da cidade de Colchester. Foi muito giro. Foi o clube onde o Jason Leonard começou e jogava lá o irmão dele. O Jason Leonard ia às vezes ver os jogos e assim conheci-o. Foi uma experiência fantástica.

 

Pensa continuar ligado ao râguebi?

Eu adoro o râguebi e hei-de continuar sempre ligado. Este ano, para não perder contacto, estive com o RC Famalicão e trabalho com eles a nível técnico. Mas não sei. Neste momento é difícil conciliar o lado profissional com ser treinador. Mas vou continuar. O problema é que o râguebi é um bichinho difícil de largar.

Leia a segunda parte da entrevista aqui

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