A Grécia e o valor do que não é auto-sustentável

Solidariedade e cooperação não podem ser palavras redundantes ou arriscamos a extinção dos nossos modelos de vida

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Yannis Behrakis/Reuters

Com a Grécia em cheque, devido a uma União Europeia que não lhe quer passar mais cheques em branco, surgem novas questões que tocam a todos os europeus.

Na vida mais confortável dos países mais desenvolvidos da europa tem restado pouco espaço político para questões estranhas à economia, quando se fala dos outros estados. Tudo é economês e o principal objetivo é a optimização própria de um neoliberalismo que exige dietas aos estados. Mas esses europeus parecem esquecer que a economia é uma ciência social, com dimensões que vão muito para além da pura contabilidade. É ainda menos assim na gestão dos estados e das entidades supranacionais como é o caso da União Europeia.

Se a União Soviética iniciou o seu fim com a queda do Muro de Berlim o mesmo poderá ter acontecido ao projecto europeu. Terminada a ameaça externa comunista desapareceu a ameaça evidente ao futuro das democracias da europa ocidental. Tal como dizia Hobbes, não havendo uma ameaça externa deixa de haver necessidade para formas de cooperação internacionais.

Só que as ameaças à europa democrática não desapareceram com o fantasma do comunismo, muito pelo contrário. Surgiu a fénix renascida do neoliberalismo que minou grande parte dos projectos sociais dos vários estados europeus. Parecia que só a economia, na sua vertente contabilística, interessava. A União Europeia não vinga porque lhe parece faltar utilidade indiscutível.

Mas agora vemos que as ameaças são imensas. Desde o capitalismo agressivo vindo do oriente longínquo, à expansão bélica russa, passando pelo terrorismo extremista emanado do médio oriente, já para não falar nas tensões e intolerâncias internas entre povos e culturas, a Europa contínua ameaçada. No norte de África surgem vagas de emigrantes que demonstram a nossa incapacidade coletiva. Nem os nossos aliados parecem ser de total confiança, quando colocam sobre escuta os dirigentes europeus.

Por isso, o futuro da europa não está garantido. A Grécia vale muito mais que a sua economia, especialmente pela sua posição geopolítica e cultura. Imaginemos que se ponderava desmembrar os vários países, que se amputavam aquelas zonas mais desfavorecidas ou que não são auto-sustentáveis, mas que contribuem de outros modos? Podemos reduzir escala e seguir por ai fora, para as cidades, os bairros e as famílias. Como ficaríamos? Como poderíamos viver se amputássemos às sociedades as suas componentes essenciais constituintes, ainda que não sejam as mais produtivas? Aquelas outras partes que mais contribuem simplesmente deixavam de o conseguir fazer, pois, quer queiram ou não, dependem das outras. É simples e evidente.

Assim é a Grécia e os outros países ditos insustentáveis. Deles depende a estabilidade e a qualidade de vida da Europa democrática. Solidariedade e cooperação não podem ser palavras redundantes ou arriscamos a extinção dos nossos modelos de vida. 

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