“Levar os sevens aos Jogos Olímpicos seria grandioso”

O nome Adérito Esteves foi o pontapé de saída para uma entrevista onde o internacional português revela ter o sonho de representar Portugal no Rio de Janeiro 2016

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João Peleteiro

Com uma coincidência de nomes como pretexto, fomos entrevistar aquele que é, actualmente, um dos nomes mais reconhecidos do râguebi português. Mas o nome Adérito Esteves foi só o pontapé de saída. Daí, aproveitámos balanço para uma conversa que deu vários ensaios. Fomos placados por algumas respostas inesperadas. Mas sempre leais. Ao longo de uma conversa de mais de uma hora, percebemos que a força maior de um atleta com 1,93 metros e 107 quilos é a perseverança. O que o faz correr é a vontade de querer ser sempre melhor. E que apesar dos obstáculos que às vezes o deitam a baixo, ele vai levantar-se sempre. É essa a sua marca. É isso que o faz deixar para trás adversários e adversidades.

Outra coisa fácil de perceber foi a timidez do Adérito. Para a tentar contornar, servimo-nos do nome. Desarmámo-lo com o conhecimento profundo do que é chamar-se Adérito Esteves. Foi esse o caminho que decidimos seguir quando nos encontrámos com ele no Jamor, no final de mais um treino que antecedeu a partida para Hong Kong, onde nesta sexta-feira se inicia mais uma etapa do Circuito Mundial de sevens. 

 

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Adérito, vamos lá saber: que nome é esse?

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(Risos) Este nome… Como é que eu hei-de explicar… Eu penso que tem a ver com a minha terra – São Tomé [e Príncipe]. As pessoas são meio-brincalhonas e quando eu nasci, o meu pai meteu na cabeça que me ia chamar Adérito. Mas Adérito?! Fica Adérito, pronto. É jogar o português com o crioulo de São Tomé. Mas acho que toda a gente acha piada. É diferente. Eu gosto. Às vezes é difícil. Tu tentas dizer a uma pessoa: ‘chamo-me Adérito’. “Adirito”? Não. A-dé-ri-to. E as pessoas lá tentam uma, duas, três vezes. E pronto. Dás o nickname e elas ficam com esse.

 

Mas tens outro nome que prefiras?

Às vezes gosto que me tratem por “Tiny” ou mesmo pelo meu último nome, Esteves. Quem me conhece melhor trata-me por “Tiny”, que é um nome de família. Ou por Esteves. Lá fora tratam-me por Esteves. É mais fácil e é o nome que eu tenho na camisola.

 

E alguma vez chegaste a pensar que os teus pais podiam não gostar de ti, uma vez que te chamaram Adérito?

(Risos) Nããã. Não, não. (mais risos) Há nomes piores: Arlindo, acho que é pior. Ou Zacarias. (riso prolongado). Adérito é um nome fora do comum mas é engraçado. Custa a dizer, mas as pessoas acabam por gostar.

 

Em média, quantas vezes precisas de repetir o teu nome até que as pessoas percebam que não te chamas Américo, nem Alberto, nem outro nome começado por “A”?

Nem “Adrito”. Umas três vezes, em média (risos). Depois é como te disse, acabo por dar o nickname porque penso: “ok, ganharam”. Digo: Dédé. E as pessoas acabam por me tratar por Dédé.

 

Deves ser o primeiro contacto do telefone de muita gente. É muito comum ligarem-te sem querer?

Sim. E sabes que isso já me deu problemas (risos). Em casa, principalmente, com a minha namorada a perguntar-me: “Então, mas quem é?” E eu… (encolhe os ombros, como que a pedir desculpa). E depois as pessoas dizem: “Adérito, desculpa, foi engano” ou “foi o meu filho que tocou no telemóvel”. Mas já houve muitos enganos, sim.

 

Outra coisa, então tu é que és o “Estebes”?

Pois (risos). Já aconteceu. Principalmente a malta do Norte. Chega cá a baixo e “olha, Estebes, anda cá para tirar uma foto”. É sempre em tom de brincadeira.

 

É normal que não saibas, mas tens a responsabilidade de cumprir um dos meus grandes sonhos: ver o nome Adérito Esteves inscrito na história dos Jogos Olímpicos (JO). O que pensas disso?

(Gargalhada) O meu sonho também é chegar lá. E ando a trabalhar arduamente para conseguir esse objectivo. É um sonho conseguir esse marco na história portuguesa e ser mais uma das equipas colectivas a conseguir ir aos JO.

 

Vai ser o regresso do râguebi ao quadro competitivo dos JO.

Sim. E deve ser grandioso. Para o râguebi português seria mais um motivo de orgulho. Mais um passo no objectivo de darmos a conhecer o râguebi português. Mostrar quem somos. Tivemos o Mundial de XV [em 2007], quando houve aquele “boom”. E foi óptimo para chamar mais crianças para os clubes. Agora, conseguir levar os sevens aos JO seria grandioso porque o mundo pára para assistir. E vai ser um orgulho ter Portugal todo a torcer pelo râguebi. Eu acredito que vamos conseguir.

 

É uma convicção forte?

Nós estamos motivados. Tem sido feito um grande trabalho entre o staff e os jogadores da selecção. Vamos conseguir.

 

O torneio de classificação será no Verão. Até lá, ainda há algumas etapas do Circuito Mundial para fazer…

Vamos ter agora [as etapas de] Hong Kong e Tóquio, depois as últimas são Londres e Escócia. E só depois vem a derradeira tarefa de batalharmos por esse objectivo que são os JO. Vai ser complicado porque temos mudança de jogadores, com gente nova a entrar, mas com a raça que temos, vamos dar a volta por cima.

 

Que conclusões têm tirado das etapas que já disputaram, em relação à entrada desses novos jogadores? 

Eles estão a ser bem integrados na equipa. São miúdos novos que estão a trabalhar bem. Agora, eles têm de se habituar à ideia de que vão para grandes palcos. Vão directamente para a boca do lobo. E isto significa jogar com estádios cheios, onde a atmosfera é grande, o que aumenta o nervosismo. A probabilidade de os erros acontecerem também pode ser maior. Mas é aquela oportunidade única. É pensar: “Estou aqui. Via estes ‘gajos’ a lutar por isto, e eu quero fazer parte disto”. Quando eu comecei a jogar râguebi não conhecia esta realidade. A primeira vez que vi a modalidade na televisão, foi um jogo de sevens. E depois comecei a jogar com muitos dos jogadores que tinha visto. E senti-me grande por dentro. Finalmente estava ao pé daquela malta. É isso que os mais novos têm de querer e de agarrar. 

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