Nova atitude hippie em nuance psicadélica sem LSD

Este ano, o destino não é o hotel de cinco estrelas, é o parque de campismo de infinitas estrelas no céu escuro que abraça o pinhal. Lição aos meninos sobre outra forma de ver o mundo.

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Luca Mengoni/Flickr

Entre escadas rolantes que circulam em sentido descendente, economia nacional algemada à população portuguesa, sobre a qual paira uma nuvem depressiva que projecta contornos sombreados do fantasma da crise 24 horas por dia, urge procurar um caminho alternativo impulsionador dos lusitanos em pulo de trampolim, renovando a força de vontade pela inovação mental, visão em panorâmica de 180 graus.

Todas as ideias que elevem o estado anímico poderão ser válidas, num “brainstorming” colectivo cujo resultado pode ser imparável, porque a união sempre fez a força, repercutindo-se nas gerações futuras.

Porque não ser hippie?

Etimologicamente, a palavra deriva do adjetivo hip,"in the know", "awareness" "to open ones' eyes". A origem do termo só por si é uma lufada de ar fresco.

Como movimento cultural dos anos 60, em sentido estrito cultivava a paz e amor, em atitude de visão crítica do mundo com rejeição de valores institucionalizados como materialismo e a sociedade consumista.

A irreverência hippie reflectia-se na forma de vestir, na vida comunitária, na liberdade sexual e consumo de drogas como meio de atingir estados alterados de consciência.

Em análise aprofundada dessa mentalidade defensora do pacifismo, de outras expressões de amor e da utopia de melhorar o mundo com arreigada noção de fraternidade, um hippie é um humanista.

Neste mundo narcisista o que interessa é ter — um “gadget”, a roupa de marca “fashionista”, o carro com mais cilindrada — ou aparecer — a festa onde se vai para se ser visto, a “selfie” recordista de “likes”.

As técnicas de marketing, de lupa atenta ao potencial consumidor, renovam embalagens do mesmo produto; o que importa é a novidade, o último grito, estar “in”. E estimulam o comportamento autodestrutivo do ser humano.

Com tanta gritaria, o cérebro agita-se e dispersa-se, incapaz de absorver os “inputs” incessantes dos estímulos ubiquitários.

Em tudo, o fundamental é o estado de equilíbrio, base que evita a entropia.

A cultura hippie assume ainda o regresso à ligação com a natureza.

A antropologia, ciência observadora da organização dos povos primitivos, tem alertado para os riscos que corre o mundo ocidental. Claude Levi-Strauss foi um visionário do apocalipse (sem a conotação religiosa de aviso profético ou messiânico) que se aproxima, consequência do estilo de vida em parafernália tecnológica.

Nem 8 nem 80. A apologia do regresso às cavernas, viver à luz das velas, total desconexão com os novos mundos virtuais, é uma atitude radical de teimosia; o uso doseado da convivência na aldeia global, pode dar bons frutos. Os intervalos de “reset” permitirão o reencontro interior.

Esse é o objectivo das férias, mas pode ser também adoptado como prática regular, levando à assimilação da relatividade da importância da coisas — pela religião, pela meditação ou introspecção, ou apenas assumindo uma diferente perspectiva da vida.

A expansão mental permite a fusão cultural com outras formas de viver, sem preconceitos, de lado os juízos moldados à nossa bagagem de valores imprimidos pela nossa escola da família, do bairro, da classe social, do corporativismo profissional, orelhas moucas ao desdém do ego "que sabe tudo e é o maior". Revelação do verdadeiro tesouro de estar vivo.

O governo de um país, assumindo uma postura sem influência de lobbies ou despotismo, ouvindo todos os elementos da Assembleia, representantes eleitos democraticamente pelos cidadãos, com total isenção, teria uma atitude hippie se cada proposta de lei justa e interessando ao bem comum, independentemente do lado da bancada, fosse aprovada sem duelos de cor política.

Identifico-me cada vez mais com essa cultura hippie, seja neo, pseudo ou hippie de nova geração (a denominação sem importância) , o conceito de estar alerta, amplitude de visão sem tabus, tolerante e solidária, com baixo volume do ruído do progresso, e aumentando o som da natureza, fertilizando o interior, é no mínimo apelativo.

Por isso vou de férias, família numerosa na bagagem, conforto básico. Este ano, o destino não é o hotel de cinco estrelas, é o parque de campismo de infinitas estrelas no céu escuro que abraça o pinhal. Lição aos meninos sobre outra forma de ver o mundo.

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