Animais somos todos nós, seres humanos, no sentido biológico do termo. Mas só alguns são animais no sentido pejorativo que a palavra pode carregar.

Só alguns são animais porque só alguns renegam a compaixão, a empatia, a misericórdia, o amor e o respeito pelo outro. Só alguns renegam o Estado de Direito e a civilização.

São animais aqueles que matam a família com tiros de caçadeira, só porque o divórcio ia acontecer. São animais aqueles que pontapeiam e esfaqueiam cães e gatos por diversão. São animais as mães que negligenciam os filhos e os deixam ao abandono, à fome ou os vendem aos comerciantes sem escrúpulos.

São animais (os Muse dizem-no bem) aqueles banqueiros que roubam tanto que semeiam a miséria alheia. São animais os que violam crianças. São animais os que violam. Ponto. São animais os que espancam as mulheres quase até à morte. Até à morte. São animais os que conseguem sorrir com a dor alheia, aqueles que sentem força quando humilham e esmagam os fracos. São animais os que matam outros com catanas. São animais os que torturam só porque alguém pensou ou disse diferente. São animais os que escravizam. São animais os que batem nos outros, só porque esse outros não lhes são iguais.

Volto a dizer. Neste sentido, não somos todos animais. Há quem nunca tenha roubado, há quem nunca tenha violado. Há quem nunca tenha espancado e há quem nunca tenha matado. Há quem não discrimine. E há até quem acolha, quem conforte, quem auxilie.

Se nascemos quase iguais, tornamo-nos diferentes. E há seres humanos que têm um saldo de benignidade altamente positivo. Outros, trasbordam de malignidade. Perdem a condição humana, encarnam a condição do animal.

Os seres humanos são a única espécie viva com consciência alargada e com o sentido de moral. Um ser humano sem moral não sei se o continua a ser. Sei bem que muitos dos nossos antepassados remotos eram animais nos dois sentidos do termo. Mas acredito no progresso. E esse faz-se na direcção da progressiva extinção do segundo sentido da palavra animal.