Mellow, o robô de cozinha em vácuo que se controla por app

Catarina Violante e José Ferreira criaram uma máquina de cozinha “sous vide”, que comunica com o utilizador através de uma aplicação. A Mellow está em pré-venda nos Estados Unidos por 400 dólares

Cozinhar em vácuo, usando a técnica “sous-vide”, já não tem de ser apenas coisa para chefs ou cozinheiros amadores excepcionalmente dotados. Dois portugueses a viver, actualmente, em Oakland, nos Estados Unidos, criaram um robô de cozinha capaz de cozinhar lentamente e a baixas temperaturas, em vácuo — tudo controlado através de uma aplicação para smartphone.

Catarina Violante, designer industrial especializada em desenvolvimento de produto, sempre se interessou por electrodomésticos. E por cozinha. Mas só quando, através de amigos comuns, conheceu o engenheiro mecânico José Ferreira, é que a ideia de um novo tipo de robô de cozinha começou a fervilhar. Três meses de trabalho intensivo depois, os dois jovens portugueses partiram para um acelerador de empresas em Cambridge, no Reino Unido. O objectivo? Desenvolver o primeiro equipamento de cozinha “sous-vide” vocacionado para um uso doméstico.

Em conversa com o P3 a partir daquela cidade norte-americana, via Skype, a jovem de 26 anos explica o que é isto do “sous-vide”: “A cozinha ‘sous-vide’ é um tipo de cozinha a baixa temperatura e lenta, que consiste numa fórmula de tempo e temperatura. O que acontece é que cada alimento tem uma fórmula mágica para chegar à sua perfeição.”

“A partir do dia em que compras a Mellow consegues usar uma técnica que muitos chefs aprendem, durante dois anos, numa escola”, resume. Os ingredientes são colocados dentro de um saco que é, depois, mergulhado em água. “A água faz com que os ingredientes fiquem muito aconchegados no saco. Os sucos nunca se chegam a libertar do alimento e é por isso que são tão saudáveis e saborosos, com uma textura tão diferente”, continua.

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Depois de Oakland, nos EUA, José e Catarina vão partir para a China, onde a Mellow vai ser produzida DR

Diz Catarina que este equipamento é ideal para quem passa o dia fora de casa e não quer perder muito tempo a preparar o jantar. Ao fim do dia ou durante o pequeno-almoço, basta escolher o que se quer cozinhar e colocar no saco, dentro da máquina. Nesta técnica, explica, cozinha-se “o herói da refeição”, isto é, a proteína (peixe, carne, ovos), ainda que os vegetais não estejam totalmente descartados. “A Mellow automaticamente começa a refrigerar mal sente a variação de peso e envia um alerta para o smartphone, para que o utilizador não se esqueça de dizer o que está lá dentro, como e quando o quer cozinhado”, descreve. Ao longo do tempo aprende o gosto do utilizador graças ao “feedback” que é pedido após cada refeição.

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(...) de um pedaço de carne rija consegues fazer uma experiência gastronómica, assegura Catarina DR

Um robô de cozinha para nativos digitais

O facto de esta ser uma técnica saudável e que confere um sabor único aos alimentos — “de um pedaço de carne rija consegues fazer uma experiência gastronómica” — é uma das vantagens que, aliada ao software desenvolvido pelos dois jovens portugueses, transforma a Mellow numa máquina consistente: “O mesmo tempo e a mesma temperatura vai dar sempre o mesmo resultado, o que é essencial para uma máquina de cozinha que promete comida perfeita todos os dias.”

A pergunta sobre a concorrência é inevitável: em que é que a Mellow difere, por exemplo, da Bimby? “Criámos um sistema que realmente encaixa na vida das pessoas: é fácil de perceber como funciona e de como é uma vantagem para o fluxo do dia-a-dia”, justifica Catarina. A Mellow é o robô de cozinha “para quem quer cozinhar no século XXI e tem entre 20 e 40 anos”, para nativos digitais.

Para já, a empresa de ambos, FNV Labs, apenas vende a Mellow para os Estados Unidos, por 400 dólares (cerca de 294 euros). As primeiras unidades devem estar prontas para entrega em 2015: mais de 500 pessoas já fizeram pré-encomendas, numa espécie de “crowdfunding” lançado no próprio site da empresa. “Queríamos, acima de tudo, reservar os direitos dos nossos clientes e só vamos levantar o dinheiro deles quando realmente entregarmos o produto”, assegura.

Nos planos de Catarina e José está a China: daqui a dois meses esperam deixar Oakland, onde participam em mais um plano de incubação de negócios, para se dedicarem à produção naquele país asiático.

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