As “cavaleiras” do Sport Rugby

Força, honra e união são características que unem a equipa feminina portuense, que se sagrou esta época vice-campeã nacional

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António Simões dos Santos

A agressividade, em comunhão com o “fairplay” intrínseco ao próprio jogo, faz o râguebi ser conhecido como “um desporto de brutos jogado por cavalheiros”. Contudo, se falarmos da equipa feminina do Sport Rugby, não será errado dizer que é disputado por por “cavaleiras”. O amor e a garra pelo “estandarte” do clube portuense não só confirmam esta premissa, como também respondem a uma questão tantas vezes colocada: sim, o râguebi (também) é um jogo de mulheres.

Catarina, Eduarda, Guita e Deolinda são alguns dos exemplos disso mesmo. Tal como os jovens rapazes da escola do clube que treinam neste mesmo dia, as “miúdas” do Sport não se fartam de lançar gritos de guerra, gerar discussões e fazer placagens durante grande parte do treino, “realizado todas as quartas-feiras às 21h00 devido à disponibilidade do campo inteiro”, como explica Nuno Gramaxo.

O “mister”, como algumas atletas lhe chamam, já era professor de grande parte das atletas no ISMAE e reencontraram-se no clube actual, cuja equipa foi formada pelas próprias ex-alunas. Apesar de não ser “apologista do râguebi de 15 para raparigas”, Nuno Gramaxo acredita que as mulheres, “mesmo sem a força física para placar ou a explosão dos rapazes”, têm tanta “garra e força de vontade” como os homens, o que as torna “ideais” para um “estratégico” jogo de sevens.

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Aparentemente a estratégia está a resultar. Com apenas um ano e meio de existência, ao Sport Rugby conquistou o segundo lugar no Campeonato Nacional, atrás do Benfica, o que traduz a força de vontade do grupo. E é esta força de vontade que movimenta esta nova equipa, que joga muitas vezes com os homens para “desenvolver a sua parte física”. Afinal, como várias alunas fizeram questão de frisar, “é duro, mas é muito importante jogar contra pessoas mais fortes”, já que “também existem equipas mais fortes”. No Sport Rugby não existe sexo fraco.

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E quem melhor para falar desta experiência do que as próprias protagonistas? Catarina Ribeiro tem 23 anos, e, curiosamente, começou a jogar râguebi no Brasil, um país com pouca tradição na modalidade, mas que, segundo a própria atleta, está a ver este paradigma alterado em virtude de receber os Jogos Olímpicos de 2016. “Foi lá que conheci a modalidade. Antes só jogava andebol”, ressalva a estudante de Educação Física. “Entrei porque tinha uma amiga que jogava, e tinha aquele ‘bichinho’ de conhecer. Então fui e adorei. É uma confusão dentro de campo, mas quando saem são todos amigos, todos se respeitam. Os valores do ‘fairplay’ são muito bem demarcados, e eu adoro isso no râguebi”, afirma.

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Ao contrário de Catarina, Eduarda Brandão não conhecia nenhuma atleta quando começou a praticar em 2010, ano em que ainda era uma “miúda de 15 anos". À data, Duda, como é conhecida no seu círculo de amigos, já havia experimentado o hipismo, a ginástica e o badminton, até que, sem nenhuma razão aparente, decidiu tentar o râguebi. “Entrei por estupidez. Foi uma amiga minha que me disse: ‘Olha, o râguebi deve ser giro, vamos experimentar’, e eu fui”. Quando questionada sobre a experiência, uma das mais novas do grupo diz que, tal como as suas colegas, iniciou o seu percurso no CDUP, e assume que já não consegue se ver “a fazer nada para além do râguebi”.

Olga, por outro lado, não tem qualquer problema em conciliar duas modalidades. Apaixonada por futebol e por râguebi, a “Guita”, diminutivo por que é conhecida, também faz parte da “fornada” do ISMAE e pratica incessantemente os dois desportos. Actualmente lesionada, a jogadora de 25 anos admite que, se não gostasse de râguebi, não faria “o esforço que faz” de conciliar os dois, mas explica que o futebol, a sua “paixão de infância”, “ainda fala um bocadinho mais alto”.

Daniela, tal como Olga, também começou pelo futebol. Contudo, e ao contrário da sua colega, a jogadora e directora da equipa feminina do Sport optou pelo râguebi no ISMAE, visto ter empatia com a “estratégia do jogo”. Desde então, não houve arrependimentos. Deolinda, como é conhecida, deixou de jogar à bola com os pés para dedicar-se de corpo e alma à modalidade que hoje faz parte da sua vida: “No início conciliava as duas, mas o futebol começou a puxar-me para trás por causa das relações e a entreajuda existente no râguebi incentivou-me a permanecer”.

Mas não basta paixão para se praticar um desporto. Deolinda, que considera o espaço de treino no Parque da Cidade “muito bom”, afirma que o Porto peca por ter “uma única equipa feminina”, o que dificulta os confrontos com outras formações. “Para competirmos vamos para Lisboa, mas nunca fomos para fora do país por falta de patrocínios”, explica. Ainda assim, desistir nunca foi opção. Faça chuva, faça sol, Deolinda vinca que o compromisso é muito forte, o que faz parte da “cultura do râguebi”: “Mesmo quando há chuva forte não paramos, é râguebi até morrer”.

É por essas e por outras que é impossível dizer que o râguebi também não é um desporto de mulheres. E isso ficou bem evidente nos excelentes resultados da selecção nacional em Moscovo e em Brive, no Women Grand Prix Series de 2014, competição onde o Sport Rugby esteve representado por Catarina Ribeiro e Daniela Correia. 

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