O Dr. Miguel Seabra recebe o salário em retroactivos?

Quando é que a FCT começará a tratar os bolseiros como pessoas com vidas, famílias, encargos? Quando é que a FCT começará a considerar os investigadores?

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Athit Perawongmetha/REUTERS

Enquanto o Dr. Miguel Seabra dá entrevistas floreadas à revista “Nature”, os bolseiros da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) voltam a estar em apuros. Os pagamentos que deveriam ter sido efectuados no dia 1 de Junho (nos casos de que tenho conhecimento e nos quais me incluo, de bolsas com início neste mesmo dia) não o foram. E não há explicações, não há respostas, não há o mínimo de respeito para com quem, ainda que a medo, acreditou erradamente na FCT.

A documentação foi entregue dentro do prazo, o contrato chegou confirmando o início dos pagamentos no dia acordado. Mas foi só isso.

Após um primeiro contacto telefónico, sem qualquer justificação, fui informada de que os pagamentos não seriam processados até ao dia 15 de Junho e que não seria possível precisar com exactidão uma data para tal acontecimento. A versão de hoje (escrevo este texto no dia 9 de Junho) é que, possivelmente, os pagamentos serão realizados a 1 de Julho, uma vez mais, sem qualquer esclarecimento. Mas nada é certo, e no dia 1 de Julho talvez a história seja outra. “Os pagamentos em atraso serão efectuados”, dizem, porém, a renda, o supermercado, a água, a luz e o gás não podem ser pagos em retroactivo. Quando é que a FCT começará a tratar os bolseiros como pessoas com vidas, famílias, encargos? Quando é que a FCT começará a considerar os investigadores? Quando é que os investigadores portugueses poderão finalmente acreditar na FCT e apostar numa carreira científica justa, sem receio da péssima gestão e pior organização desta instituição?

O orgulho que senti ao receber esta bolsa transformou-se agora em desilusão, preocupação e frustração.

Tudo isto não passa de uma grande falta de respeito, mais uma. E, infelizmente, as desilusões não ficarão por aqui. E não, nada vai mudar. Por muito que eu gostasse de acreditar que sim. Por muito que o meu orgulho português me faça acreditar que o meu país um dia vai fazer valer todas as palavras de amor que lhe dedico e que me saem do coração sempre que oiço “PORTUGAL”... Entretanto, ao mesmo tempo que o panorama científico português está de pernas para o ar e sem luz ao final do túnel, o Dr. Miguel Seabra é eleito presidente da Science Europe. Dá que pensar…

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