A saga de Palito

A página pouco oficial de Manuel “Palito” Baltazar no Facebook é uma tremenda galhofa. Sê-lo-ia ainda mais se o caso não fosse tão sério

Foto
Facebook.com/NunoMaiaPhoto

Mais parece uma sequela constrangedora dos livros da Anita. Palito no Jamor, Palito a vender cerejas, Palito vai a Turim, Palito vende bolas de Berlim na praia de Carcavelos, Palito à conversa com o Goucha, Palito numa operação stop, Palito a ganhar um Globo de Ouro. A página pouco oficial de Manuel “Palito” Baltazar no Facebook é uma tremenda galhofa. Sê-lo-ia ainda mais se o caso não fosse tão sério.

Manuel Baltazar não é uma personagem inventada. Lá por ter a alcunha de Palito e de ser proveniente de Valongo dos Azeites, não significa que alguém tenha criado o sujeito. Mas eu entendo: é uma história tão boa, tão boa, que custa a crer que seja verdade. Manuel Baltazar terá assassinado, no fim-de-semana da passada Páscoa, duas mulheres e ainda ferido com gravidade outras duas. Desde então anda fugido, embora apareça com alguma frequência na imprensa nacional. Ora o vêem a comprar pão, ora visita um amigo, ora o acham na cave da própria casa, ora lhe arranjam umas sandes para que não passe fome.

Até aqui tudo engraçado, se isto fosse um filme do Rambo. Mas não é. Além de ter atentado gravemente contra quatro vidas humanas, Palito está a dar um bigode às autoridades, que andam aos círculos numa região relativamente restrita. E Portugal gosta, como se fosse este o Hannibal Lecter tuga, numa exibição matreira de capacidades de fuga. Mas a verdade é que temos um assassino à solta. A população de Valongo dos Azeites tem medo de sair à rua porque, dizem, Palito tem uma lista de 15 alvos a abater. Com aparente afinco, a Polícia Judiciária reforça as buscas e… nada.

Com o argumento de que Palito conhece melhor as grutas e cavernas e matagais da região, a GNR e a PJ andam doidas em busca de um homem cujo paradeiro é incerto mas provável. O director nacional da Judiciária teima em manter a sua polícia mais que competente no rasto do já emblemático morador de 59 anos de Valongo dos Azeites. Não querendo dar o braço a torcer, a PJ mantém a teima de não apelar ao Exército para ajudar nas buscas e palmilhar cada centímetro de terreno, julgando que a sua imagem não sai denegrida a cada dia que passa.

Não querendo armar-me em gajo expedito em publicidades e afins, posso garantir que permitir que um homicida continue nas ruas é uma negligência quase voluntária para com a segurança pública. O que torna um caso de polícia mediático é precisamente a sua não resolução. E, nos últimos anos, a PJ, que até tem uma grande reputação europeia a manter, tem sido pródiga em falhanços mediáticos: Joana, Maddie, Meco, Palito… Os casos desdobram-se e o povo vai rindo dos homens fardados, apoiando os foragidos e fazendo piadolas.

Como não sou polícia, cá vou contribuindo como posso: PJ, abram os olhos, o Palito está no avião da Malásia. Depois não digam que não sou amigo. Vejam lá isso.

Sugerir correcção
Comentar