A Sexta de Bicicleta de Humberto Candeias

O repórter de imagem costuma dizer que vê a vida a partir de um selim. Foi a liberdade que levou Humberto Candeias a começar a usar a bicicleta regularmente

Miguel Barroso
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Começou a andar de bicicleta aos oito anos, mas só aos 36 assumiu o verdadeiro significado da palavra "commuting" (fazer o percurso casa-trabalho-casa). Humberto Candeias tem 46 anos, é repórter de imagem, vive em Carcavelos e desloca-se regularmente de bicicleta, muitas vezes em conjugação com o comboio. Costuma dizer que vê a vida a partir de um selim e é por causa disso que criou o blogue Simply Commuting. Com menos regularidade do que gostaria, aproveita o que observa nas deslocações diárias para lançar algumas provocações no blogue. Tem uma filha de três anos e um filho de sete. Na cidade ou no Alentejo natal, alargou o uso da bicicleta ao resto da família, mas é quando vê o filho a pedalar sozinho para a escola que sente o maior orgulho.

O que te levou a começar a usar a bicicleta para te deslocares?

A liberdade.

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Que tipo de bicicleta ou equipamento usas?

Tenho várias. Há até quem diga que tenho demasiadas. Sempre que preciso de coordenar mais que um tipo de transporte com a bicicleta, ou quando vou de viagem, é-me muito útil a Dahon dobrável de roda 20’’. Habitualmente pedalo numa Trek com roda 28’’. São ambas máquinas muito fiáveis e bem equipadas. Uso alforges para transportar o que necessito. A roupa varia com o tempo e a disposição.

O que muda na tua vida nas sextas-feiras em que levas a bicicleta contigo?

As minhas bicicletas têm bastante vontade própria e, aqui que ninguém nos ouve, acho mesmo que chegam a passear sozinhas por aí. Como não ligam ao calendário dos homens, todos os dias são sexta-feira e, conhecendo-as bem, tento não lhes dar muita importância ou ficam demasiado mimadas. Mas sabem bem o quanto gosto de chegar ao trabalho pela manhã, com a cara cortada pelo vento. Só isso já faz com que muitas coisas corram melhor.

Existem alguns mitos (sobre a utilização da bicicleta) que tenhas vencido?

Não. A bicicleta entrou de forma tranquila na minha vida. Reparei um dia que era a maneira mais natural de me deslocar. De bicicleta, coloco-me numa escala humana. Desde o selim, olho o mundo à volta como que estando de pé, sem uma carapaça de metal nem a falsa sensação de segurança. Se virmos o mundo com um olhar mais humano, aí sim, derrubaremos muitos mitos.

O que poderia melhorar nos percursos que realizas?

São urgentes medidas que retirem preponderância ao veículo automóvel e a devolvam às pessoas, aos peões. Assim haverá efectiva liberdade de escolha e segurança. Quando o peão se sente seguro, todos os demais utilizadores do espaço público se sentirão bem. É esse o caminho tomado pelas cidades modernas. Por exemplo, a quantidade de ciclistas que usam a Marginal, seja para se deslocaram ou por desporto, de certeza que gostaria de ver aumentada a segurança nessa via. Alguém ainda duvida que há condições para mais pessoas optarem pela bicicleta.

Um momento em que te sentes mesmo bem a andar de bicicleta.

Todos! Mas destaco os passeios no Alentejo, com a família, a rebocar o atrelado com a minha filha e a partilhar as cores e os cheiros das amoras silvestres.

Uma pessoa da praça pública que gostarias de ver a andar de bicicleta e porquê?

É difícil escolher porque candidatos não faltam. Assim de repente, seria instrutivo obrigar o vereador Sá Fernandes a pedalar todos os dias um par de quilómetros naquela coisa a que chamou ciclovia, ao longo do rio, mas prefiro recomendar a bicicleta a pessoas que a mereçam!

O que tens a dizer a quem diz que andar de bicicleta na sua cidade é impossível?

Costumo dizer que nem imagina o que está a perder...

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