“Ainda não me apercebi do que me está a acontecer”

Aos 19 anos, Pedro Bettencourt assinou um contrato de três anos com o vice-campeão europeu

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Nuno Ferreira Santos

Jogador Revelação da FPR em 2012-13, Pedro Bettencourt é a grande promessa do râguebi português. Com propostas do Clermont, de Julien Bardy, e do Toulon, de Jonny Wilkinson, o jogador do CDUP, de 19 anos, optou pela equipa do “7” da selecção nacional. O segundo-centro, que está a recuperar de uma pubalgia e pode não voltar a competir esta época, não tem dúvidas que ainda voltará a jogar na mesma equipa do seu irmão Martim, a sua principal influência.

Para além do Clermont, tinha uma proposta do Toulon. A escolha recaiu no Clermont por que motivo?

O Clermont pareceu-me a melhor opção para o meu futuro. Comparando as duas Academias e as condições de treino, agradaram-me mais as condições do Clermont, onde dão muito valor aos jovens e à formação.

A presença do Julien Bardy no Clermont também pesou na decisão?

Sim, até foi através dele que tive o primeiro contacto do clube. Depois, quando estive em Clermont durante três dias, passei muito tempo com ele. É um bom amigo.

Como será na primeira época?

Vou começar a pré-época em Julho com a equipa principal, porque os internacionais estarão fora. Depois passo para os Sub-23, para a Academia. Em princípio farei toda a época lá.

Com a transferência para a França será impossível na próxima época jogar no Circuito Mundial de Sevens…

Sim, será muito complicado. Não está nada definido, mas com um contrato profissional no estrangeiro as hipóteses de jogar nos sevens são muito reduzidas. O Clermont disse logo que não colocaria qualquer entrave em que eu jogasse na selecção de XV, mas nos sevens implicava que eu estivesse quase a época toda fora. Talvez seja possível fazer um torneio ou outro…

Em meia dúzia de meses venceu o Prémio Revelação da FPR, estreou-se na selecção de XV e agora surge uma transferência para o vice-campeão europeu. Alguma vez imaginou que tudo isto seria possível tão rapidamente?

Em sonhos sim… (risos). Se calhar ainda não me apercebi do que me está a acontecer. Foi tudo muito rápido. De repente estava a jogar contra as Fiji, estava a jogar o Mundial de Sevens, estava a treinar no Toulon com o Wilkinson e estava em Clermont na casa do Bardy… É um dos melhores períodos da minha vida. Tenho que aproveitar.

Que sonhos gostava de ver concretizados daqui a um ano? Jogar na equipa principal do Clermont?

Neste primeiro quero aprender e evoluir. Há essa possibilidade, mas não é a prioridade. A partir do segundo ou terceiro ano sim…

Qual é a posição onde mais gosta de jogar?

Neste momento é a segundo-centro, mas por jogar ao pé também posso ser “15”. A segundo-centro posso fazer um bocado de tudo e é isso que gosto quando estou dentro do campo…

Mostrou na selecção ter um bom jogo ao pé. É uma das características que pretende potenciar?

Gosto de treinar o jogo ao pé. No CDUP tínhamos bons pontapeadores e não ligava muito a isso. Com a selecção comecei a treinar mais. Nos Sub-16 e Sub-18 jogava a abertura e era o chutador. Quando era miúdo também tinha jeito para jogar futebol. Pode ser uma boa arma…

Tem algum ídolo no râguebi? Que jogadores tem como referência?

A nível internacional tenho que falar de dois. O Jonny Wikinson pela capacidade de trabalho que tem. É quase uma obsessão. Quando estive em Toulon, eu e um francês fizemos um treino de “skills” só com ele. E ele com passes e com os pés metia sempre a bola onde queria. Parecia um robot (risos). É perfeito. O outro é o Brian O'Driscoll. É o jogador completo. Em Portugal não posso deixar de falar do Joaquim Ferreira, que agora é o meu treinador no CDUP, e no meu irmão mais velho: o Martim.

Qual foi a importância do Martim na sua carreira?

Apesar de o meu pai ter sido internacional, nós entramos no râguebi por acaso, por influência de um primo materno. Eu devia ter cinco ou seis anos e o Martim 11. Mas eu gostava mais de jogar futebol. Só que um dia reparei que o meu irmão estava na selecção e depois quis ser como ele…

O Martim foi o Jogador Revelação da FPR em 2011-12. O Pedro foi em 2012-13. Acha que ainda vão voltar a jogar na mesma equipa?

Sem dúvida. Tenho quase a certeza que se ele não se tivesse lesionado em Outubro teríamos feito a estreia na selecção de XV juntos, em Novembro, contra as Fiji. E de que ele teria feito o Torneio Europeu das Nações todo. Mas teve o azar da lesão. Acredito que nos jogos teste de Novembro já estará em forma.

O Pedro e o Martim são ambos internacionais pela selecção de Sevens. O que é preciso fazer para alcançar o apuramento Olímpico?

Eu acho que é preciso fazer uma coisa com pés e cabeça. Se não fizermos nada, mais tarde ou mais cedo estamos fora do Circuito Mundial. Se conseguirmos a manutenção e na próxima época repetirmos um ano como este, ficamos fora. As equipas têm todas um plano e nós não. Estamos a dois anos dos Jogos Olímpicos e não se vê nada. Há jogadores que não podem ir aos torneios todos. Para ir à Nova Zelândia e a Las Vegas são três semanas fora de casa… Se fizerem um contrato profissional de um ano, independentemente do que recebam, podes não ter todos, mas terás a maior parte dos jogadores disponíveis.

Mas temos qualidade para estar nos Jogos Olímpicos?

Temos, mas é preciso fazer algo agora. E agora já é tarde…

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