“Não queria fazer deste jogo uma despedida”

Aos 34 anos, João Correia vai disputar, neste sábado, a última partida pela selecção nacional, mas garante que ainda se sente com capacidade para “dar alguma coisa ao râguebi”

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João Peleteiro

Qual foi o momento que o marcou mais ao longo da sua carreira?

A minha chamada à selecção nacional. Jogava há muito pouco tempo e, de repente, vi-me envolvido numa coisa com a qual nem sequer tinha sonhado. Mas é claro que a ida ao Mundial 2007 vai marcar-me para sempre. Foi o ponto mais alto da minha carreira. Também me marcou ter sido nomeado capitão da selecção, em 2008.

Esteve quase a transferir-se para França. Não ter jogado no estrangeiro foi a principal frustração na sua carreira?

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Não vou ser hipócrita. É óbvio que gostaria de ter tido a experiência de jogar lá fora, mas considero ter tomado a decisão certa. Na altura faltavam-me apenas dois anos para terminar o curso de Medicina e, se fosse profissional de râguebi a tempo inteiro, dificilmente iria concluir os estudos. E também já tinha a minha família... Juntos decidimos colocar esse assunto de lado. Não me sinto frustrado por não ter ido para França, pelo contrário. Só me sinto lisonjeado por isso.

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Quais foram os treinadores que mais o marcaram?

O primeiro treinador, o Pedro Pinto Fernandes, é sempre o primeiro. Logo no treino inicial disse que um dia eu iria fazer parte da selecção. O Pedro Murinello foi o treinador que me levou dos juniores da Costa de Caparica, onde eu jogava na altura, aos seniores. Apostou em mim. Trabalhei muito com ele e incutiu-me muito o espírito de sacrifício. O Tomaz Morais motivou-me imenso. Foi pela mão dele que me tornei internacional. Fiz mais de 50 jogos pela selecção sob o comando dele e isto marca muito. Todos os treinadores deixam um pouco deles em nós, mas creio que estes três foram os que mais me marcaram em toda a minha carreira.

Até quando pensa continuar a jogar no GD Direito?

Não queria pensar muito nisso, nem queria fazer deste jogo [frente à Espanha] uma despedida. Teremos de fazer uma, mas não nos podemos dispersar neste jogo, porque temos de ganhar. Vou continuar a jogar [no GD Direito], porque acho que não é tão exigente. Ainda me sinto bem fisicamente e considero que posso vir a dar ainda alguma coisa ao râguebi.

É considerado um exemplo por muitos. Como se vê a si próprio?

Sou uma pessoa normal. De carne e osso. Quando me dedico a uma coisa faço-o a 100%. Não gosto de deixar pontas soltas. Quando enverguei pelo râguebi e entrei para Medicina foi para ser até ao fim. Não entraria em projectos destes para acabar a meio. Vejo-me como uma pessoa com perseverança e que luta para atingir os seus objectivos.

Por que razão lhe chamam "Pipas"?

Isso já é de há muito tempo. Quando era pequeno era muito gordinho e os amigos da rua passaram-me a chamar isso, por me parecer com uma pipa. Quando fui para o râguebi o nome foi pegando. E como eu bebia umas cervejinhas de vez em quando, o nome ficou. No râguebi sabem quem é o "Pipas", agora se perguntarem pelo João Correia já não é bem assim...

Que história curiosa relembra?

Às vezes, quando socorro os meus colegas no balneário por feridas no couro cabeludo ou no sobrolho, os árbitros entram e perguntam o que é que eu estou a fazer. Tenho de justificar que sou médico e que assim de evitam as viagens ao hospital. Muitas vezes, nas viagens ao estrangeiro, quando os médicos não nos acompanham também sou eu que faço esse papel. Os árbitros já viram e acham estranho, mas depois compreendem.

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