O cérebro tem um escudo natural contra os efeitos da “cannabis”?

Uma molécula produzida pelo cérebro, a pregnenolona, parece funcionar como um escudo protector contra os efeitos nefastos da “cannabis”. Foi esta a conclusão de uma equipa de cientistas em França

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Rick Wilking/Reuters

“Roll one, smoke one, and we all just having fun” — é o que diz Wiz Khalifa na sua música com o  Snoop Dog, em relação à substância que dizem ser relaxante, de uso recreativo, e capaz de realçar as cores e os sons: a “cannabis”. Também parece ser lucrativa, a medir pelos resultados obtidos após a legalização da venda no Colorado, o primeiro estado norte-americano a fazê-lo. Califórnia, Arizona, Oregon e Alasca querem seguir o mesmo caminho. Pois bem, parece que foi descoberto o que pode ser mais um argumento para dar o “sim” aos que tanto querem a legalização: o nosso cérebro consegue proteger-se contra os efeitos da cannabis. 

Como? Uma molécula produzida pelo cérebro, a pregnenolona, parece funcionar como um escudo protector dos efeitos nefastos da “cannabis”. Foi esta a conclusão de uma equipa de investigadores do Insem (Instituto Nacional da Saúde e da Investigação Médica) em França.

A pregenolona é um precursor de todas as hormonas esteróides, ou seja pode dar origem a hormonas como por exemplo a testosterona, ou a progesterona. E é esta molécula que parece ter um mecanismo natural de defesa contra a “cannabis”, podendo assim servir até de base para um tratamento da toxicodependência.

Os cientistas administraram doses fortes de “cannabis” a ratinhos de laboratório, o que levou a um aumento significativo da concentração de pregnenolona no cérebro. Este aumento bloqueou os efeitos negativos do chamado princípio activo da “cannabis”, a THC. É a THC que iriar actuar ao nível dos receptores canabinóides (CB1) que estão nos neurónios, desencadeando assim a efeitos como sensação de paranóia, redução da capacidade de concentração, confusão, dissociação de ideias.

No estudo, as doses ingeridas foram de três a dez vezes superiores às que os consumidores regulares de “cannabis” estão normalmente expostos. À medida que as doses eram aumentadas, foi descoberto um processo natural, até agora era desconhecido, que evita a sobreactivação desses receptores canabinóides, protegendo dessa forma o cérebro e evitando os efeitos negativos da planta na memória.

Já foram feitos testes nestes mesmos receptores em humanos, que revelaram exactamente os mesmos resultados encontrados quando feito em ratinhos. No entanto, esta hormona é mal absorvida e rapidamente metabolizada pelo organismo. Para o efeito, os cientistas criaram derivados da pregnenolona, alterados de forma a poderem ser absorvidos sem passarem a hormonas esteróides, com vista a inclui-los no tratamento da toxicodependência. Contudo, esta novidade científica deve ser interpretada com cautela, uma vez que estas conclusões não eliminam todos os riscos do consumo de “cannabis”. 

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