A Sexta de Bicicleta de Márcio Vitor

O criador do projecto Pedal Açores usa a bicicleta para passear e deslocar-se para o trabalho. Márcio Vitor defende o uso da bicla nas ilhas daquele arquipélago e quer percorrê-las todas ao pedal

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O seu projecto, Pedal Açores, é percorrer as nove ilhas dos Açores de bicicleta. Quer perceber as razões que levam as pessoas a escolher a bicicleta como meio de transporte. É que de onde vem, Araçuba, Brasil, a convivência do povo com a bicicleta é algo “tão natural como respirar”. É por isso compreensível que tenha questionado o porquê de na Terceira, onde vive, e restantes ilhas, a utilização da bicicleta ser tão reduzida. Quando chegou aos Açores foi contagiado e não voltou a usar a bicicleta durante cinco anos, até ter ido viver na Áustria por uns tempos, de onde voltou com a paixão pelas biclas.

De que formas usas a bicicleta à sexta-feira?

A minha condição permite-me ter um horário mais flexível, pois não estou a trabalhar. Utilizo na maioria das vezes para ir ao mercado e, claro, para passear.

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Existem alguns mitos — sobre a utilização da bicicleta— que tenhas vencido?

Pessoalmente, acho que nunca tive este problema. Desde muito cedo que vejo a bicicleta como algo que entra na vida das pessoas para melhorar e não para atrapalhar, se tais mitos existiram ultrapassei-os todos na juventude. Em termos mais globais penso que é preciso dar o salto e fazer mais pessoas compreenderem que toda a discussão sobre mobilidade abordada pelo "pessoal das bicicletas" só vem melhorar a nossa sociedade e movimentos como a "Sexta de Bicicleta" só vêm reforçar ainda mais a necessidade que as pessoas sentem de ter espaços urbanos mais agradáveis não só para ciclistas. Acho que este mito ainda existe.

O que poderia melhorar nos percursos que realizas?

Gostaria de poder melhorar o comportamento de alguns condutores e de alguns ciclistas também. Acho que o respeito mútuo é a melhor ferramenta para que todos possamos utilizar as ruas da melhor maneira. Não acredito que a segregação das vias seja uma alternativa viável para os Açores, pois não temos espaço para isso. Acho que falta iniciativa nas câmaras municipais em estudar e testar soluções para zonas de coexistência e para a adopção da "Zona 30". Existem inúmeros casos de sucesso no mundo todo e devem ser raros os locais onde a conversão para zona pedonal não foi positiva económica e socialmente. Os nossos problemas são pequenos, é preciso coragem para observá-los decentemente e resolvê-los.

Um momento em que se sentes mesmo bem a andar de bicicleta.

Em jornadas mais longas, quando o trânsito permite, adoro olhar para um ponto mais distante no caminho e pensar que vou lá chegar. Quando o Sol está baixinho acho uma delícia ver a sombra, longa, a passar por cima dos muros, da relva... é muito bom!

Uma pessoa da praça pública que gostarias de ver a andar de bicicleta e porquê?

Os políticos, de maneira geral, mas não só de bicicleta. Gostaria de vê-los a utilizar os transportes públicos diariamente, para sentirem na pele o que funciona e o que não funciona. Muitos falam de soluções para os transportes públicos sem conhecimento de causa e apenas debitam. Estão muito distantes da realidade. Se tivesse que escolher alguém aqui dos Açores, seria Vasco Cordeiro, o nosso presidente, e Vítor Fraga, que é o actual secretário regional do turismo e transportes. Era um bom começo.

O que tens a dizer a quem diz que andar de bicicleta na sua cidade é impossível?

Digo que está enganado/a mas aqui é sempre complicado e o argumento do vento e da chuva vem sempre à baila. A verdade é que ninguém começa a andar de bicicleta à força. Acredito que a curiosidade, a necessidade e até a moda, de uma certa forma, são os principais aliados das pessoas que vêem na bicicleta não uma alternativa mas sim uma solução para muitos dos problemas que temos hoje em dia nas nossas cidades.

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