Um dia chegou-me um texto verdadeiramente idiota por email com o nome de: “Ideologias Políticas para Idiotas”. Era idiota mas conseguia passar relativamente bem a mensagem. Nele recorria-se à gestão caseira de gado, mais concretamente de vacas, para explicar, de um modo bem-humorado mas muito simplista e até algo estúpido, as várias diferenças entre algumas ideologias base e sistemas políticos. Na minha natural idiotice vi ali algum potencial e converti-o num texto resumo que se pode consultar num dos meus blogues.
Isto para dizer que somos de facto idiotas – tese que já defendi aqui no P3 em Os Idiotas que não rebentam com os partidos –, e talvez recorrer a exemplos como o das vacas não seria má ideia para fazer luz sobre um tema que, não sendo popular, é importante - tanto que arrisco trata-lo. Apesar das ideologias políticas serem cegamente odiadas nunca foi tão fácil arranjar exemplos práticos para as definir. Mas haverá ainda alguém que dê uma segunda (ou terceira, e por ai fora) oportunidade às pobres ideologias, tão incompreendidas e desprezadas, de justificarem as políticas dos nossos governantes?
No que toca às ideologias há que fazer justiça ao atual Governo. Apesar de não terem cumprido as promessas eleitorais, são coerentes e respeitadores dos seus princípios - bem conhecidos de quem andava atento. Este Governo pode ser socialmente insensível, querer ser o melhor aluno da Troika e o campeão da austeridade, mas cuida dos seus afetos ideológicos acabados em “ismos”. Este Governo tem valores: tem uma ideologia bem definida e que se revela por si própria de tempos-a-tempos. É como aquela criança nervosa que esconde no casaco um animal de estimação do qual não se consegue desapegar, sempre preocupada e ansiosa por disfarçar os ruídos e movimentos do bicho ocultado.
Sim, as opções por privatizar, reduzir funções sociais do Estado, incentivar o recurso ao ensino privado através dos cheques ensino, reduzir a proteção social aos trabalhadores, aumentar o orçamento das forças armadas, fazer depender a saúde e as reformas de seguros privados são claramente ideológicas.
Sim, a ideologia está lá, é inegável. Então se está por que é que não é explicada ou assumida como tal? Ah, porque isso se tornou impopular e desinformar ajuda a governar… Supostamente não há ideologias boas e más, elas são simplesmente diferentes na tentativa de construir uma sociedade melhor. Pelo menos em teoria é isso. Então e na prática? Será que os políticos contemporâneos têm medo de assumir o que querem e acham mais correto? Ou será que temem perder o apoio popular quando explicarem exatamente o que pretendem fazer, movidos pelas suas ideologias?
