Malala, advogada para os direitos da mulher

Malala não é Nobel da Paz, é muito mais, é a prova de que “os grandes actos espantam, mas os pequenos convencem”

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Faisal Mahmood

Quando se ouve Malala Yousafzai falar, não se ouve uma jovem de 16 anos, mas antes uma anciã com muitas décadas de experiência de vida, com uma visão envolvente do mundo e da realidade que a circunda.

Mas é mesmo verdade, Malala nasceu em Julho de 1997, é mesmo uma "teenager" paquistanesa e apenas, como se diria em inglês, “wise beyond her years” (sábia antes da idade). Em 2009, quando tinha 12 anos, Malala lançou um blogue sob pseudónimo, onde descrevia a ocupação talibã da sua terra natal no Paquistão, Mangora, no Swat Valley. Uma das consequências da ocupação era a proibição regular de raparigas irem à escola, algo que levou o blogue a ganhar notoriedade pelo facto de advogar igualdade de direitos e, em particular, de educação para mulheres/raparigas.

Quanto, em 2010, o "New York Times" fez uma reportagem sobre ela, já não havia anonimato, mas sim uma figura conhecida que seria inclusivamente recomendada pelo Bispo Desmond Tutu — Prémio Nobel da Paz em 1984 — para o International Children's Peace Prize, o equivalente ao Prémio Nobel da Paz, para crianças.

Após várias ameaças formais, em Outubro de 2012, Malala foi vítima de uma tentativa de assassinato ao regressar da escola, ao ser alvejada na cabeça por um talibã. Se os milagres acontecem por alguma razão, este tinha todas para acontecer e, após uma recuperação inicial num hospital local, a transferência para Inglaterra veio a acontecer e a colocar Malala longe dos talibãs e mais passível de ser protegida.

A recuperação deixou marcas, mas não diminuiu a sua determinação e certamente não a impediu de escrever o livro “I Am Malala”, em alusão ao "slogan" que fora usado no Paquistão e também numa petição feita pelas Nações Unidas, no sentido de todas as crianças terem acesso a educação até ao fim de 2015. No Paquistão, este movimento levou à criação da primeira Carta do Direito à Educação.

No início de Outubro de 2013, Malala foi convidada a ir ao talk show de Jon Stewart e deixou todos boquiabertos com a sua simplicidade de actuação perante a situação e, em particular, a ameaça de assassinato que pesava sobre ela desde 2010. Quando, naquela altura, as pessoas lhe perguntavam como iria ela interpelar o seu assassino, ela dizia: “Pensava em ter um sapato à mão, para lhe bater primeiro, mas isso far-me-ia baixar ao nível dele, por isso pensei em dizer-lhe que lutava também pelos direitos das filhas dele bem como dos meus e, depois, deixá-lo-ia fazer o que tinha a fazer comigo.”

Embora fosse a favorita para vencer o Prémio Nobel da Paz de 2013, Malala não venceu e o prémio foi atribuído à Organização para a Proibição de Armas Químicas. Se observarmos o critério do Comité Nobel para a atribuição do prémio, vemos a União Europeia em 2012, Barack Obama em 2009, Al Gore em 2007, a Agência Internacional de Energia Atómica com Mohamed El Baradei em 2005 e Jimmy Carter em 2002, o que revela o crescente carácter político e mesmo institucional do prémio com algum detrimento de pessoas que fazem a diferença no seu dia-a-dia.

Malala não é Nobel da Paz, é muito mais, é a prova de que “os grandes actos espantam, mas os pequenos convencem”.

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