Somos a geração que faz um prato "gourmet" com esparguete e salsichas

Esta minha geração do Bairro Alto e das noites na Adega Leonor bem que sabe o que é contar os tostões que ficaram na gaveta das meias; é a geração das merendas "fashions" e da roupa em 2.º mão pelo Facebook

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kreg.steppe / Flickr

Bem, vamos a mais uma crónica sobre as glórias e as “desglórias” de ser jovem; sobre as resignações dos tempos de crise e como é negro o futuro dos quase ou recém-licenciados. Pois bem, falando no meu papel de estudante universitária, sim, o futuro parece-me negro e o medo de sair do “ninho” é cada vez maior.

Mas, esta minha geração do Bairro Alto e das noites na Adega Leonor bem que sabe o que é contar os tostões que ficaram na gaveta das meias; é a geração das merendas "fashions" e da roupa em 2.º mão pelo Facebook. Nós, que damos a volta e que temos a mentalidade do desenrasca, que nos matamos a estudar e que mesmo assim temos umas horas na agenda para beber uns copos com os amigos, sabemos que, por má que a situação esteja, mesmo que tenhamos uns 15 euros por semana para gastar, agarramo-nos ao que temos e avançamos para a frente. Este tempo de crise é uma pequena incubadora de mentes pensativas, de jovens que se arrastam e que conseguem sair da toca.

Sim, existem jovens que se perdem no meio do turbilhão do que é hoje o nosso país. Mas os mais fortes, mesmo desempregados, mantêm-se de pé e lançam projectos novos e irreverentes, mantêm-se e tentam sobreviver e acreditam que há luz ao fim do túnel. Mas, será que aqueles, tal como eu, que ainda têm esperança não estão com os pés na terra? Será que ao sermos sonhadores iremos chegar a algum lado?

Penso que sim, sonhar nunca fez mal, desde que ainda tenhamos a percepção do que a realidade nos cinge amanhã. Só a sermos sonhadores é que somos jovens. E só no ser jovem (quer de espirito quer fisicamente) se vê o novo e é no novo que há esperança. A minha geração do desenrasca é uma boa geração. Ao contrário do que muitos dizem, é a geração da reabilitação, que pega no podre e consegue enaltece-lo; é a geração criativa que com esparguete e salsichas faz um prato "gourmet".

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