A geração que não sabe ter férias

Somos jovens que perderam a noção da possibilidade de dar largas à imaginação

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Reuters

Agora que estou de férias, em que, supostamente, me foi entregue a sorte de poder fazer tudo aquilo que me apetecer, fico, subitamente consternada com o facto de, na realidade, não ter tempo para coisa nenhuma, independentemente de todos os planos que faça no primeiro dia de liberdade. Acordo de manhã para tratar daqueles assuntos chatos que são, não obstante ao resto dos recados apontados na minha agenda, questões necessárias e, para as quais, só posso dedicar o meu tempo, nesta altura do ano. De tarde, é tempo para estar com os amigos, almoçar em casa da família mais próxima, ajudar o namorado a pintar a sala e tempo para fazer aquelas limpezas a fundo, que se adiam até ao limite.


Ainda assim, o ócio também é reservado, em menor escala, para nós. Por vezes, é um encontro que se desmarca ou o clima que não permite uma ida à praia e, em vez de se ler um livro ou de se jogar à cabra cega, passam-se tardes infinitas, com a mão no rato (que nem sequer animal é), olhando para um ecrã, num atordoamento fictício, clicando "like" nos "posts" de coisas que, na grande maioria das vezes, nem gostamos, mas fazemo-lo para «não sermos esquecidos» e «dar um ar da nossa graça», para que não soframos com a limpeza esporádica que os nossos "amigos" fazem nas redes sociais. Somos jovens que perderam a noção da possibilidade de dar largas à imaginação.


Parece que perdemos a vontade de viver activamente, alimentando-nos do sedentarismo de ter tanto por onde escolher, que acabamos por ficar parados no tempo, em frente ao monitor, sentados no sofá. Já nem sequer me sinto confortável em dizer que vemos televisão, porque, verdade seja dita, essa é uma das potencialidades que a Internet nos proporciona, não ter que haver a necessidade e o trabalho de irmos buscar o comando e fazer um "zapping". Através de um simples instrumento, o nosso (querido) computador está sempre lá, permitindo-me a visualização dos filmes e séries que eu quiser, quando eu quiser, as vezes que eu quiser.


Não me cabe na cabeça estar de férias, quando, de facto, fico em casa, sentindo o sol esconder-se atrás do prédio amarelo em frente à minha janela, escondida na bruma de um perfil que me permite dizer 24 por 7, o que penso, o que ando a fazer e como me sinto. Terá a nossa geração virado um bicho que vive hibernado no seu próprio casulo pessoal? E onde foram, realmente, parar as férias onde havia tempo para se fazer tudo e onde tudo, sempre, ficava feito?

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