Fyodor Books: livros para todos os tamanhos

Querem que as pessoas entrem ali da mesma forma que entrariam numa loja de roupa. É este o desafio de Sara e Paulo. Os preços são fixos: três euros um livro, dois, cinco euros

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A ideia é simples: bons livros a preços acessíveis, para acabar com as desculpas de quem não lê. Querem que as pessoas entrem ali da mesma forma que entrariam numa loja de roupa. É este o desafio de Sara e Paulo. Têm cerca de 13 metros quadrados para o conseguir.

Com um nome escolhido a dedo, a Fyodor Books abriu há cerca de um mês no Chiado, na Calçada Nova de São Francisco, uma das muitas ruas de Lisboa com escadas e olaias que, por esta altura, já não estão em flor, e onde se leu, em tempos, na parede: "Nós somos o sítio que nos falta". A ideia é simples, bons livros a preços acessíveis, longe daquele "conceito provinciano de livraria em que o livro é encarado como um objecto intocável, caro, raro, à disposição de um grupo restrito de pessoas", explica Paulo Ferreira, 29 anos, escritor publicado, que divide agora o seu tempo entre o doutoramento em História e a livraria que gere com Sara Rodrigues, 27 anos, licenciada em História e habituada a trabalhar com livros.

"As pessoas não vêem o livro como um produto que pode ser consumido, vêem como uma raridade ou uma coisa inacessível. Ninguém entra numa loja de calças e pergunta se as há em azul. Não, as pessoas querem ver, querem experimentar. Mas quando vão a uma Bertrand ou a uma Fnac rendem-se logo, porque acham que não percebem nada do assunto, e dirigem-se ao funcionário. Essa é uma atitude que deve ser combatida. As pessoas têm de acreditar que é normal entrar numa livraria, assim como entram noutra loja qualquer. Caso contrário, nunca terão uma relação saudável com a literatura e a arte em geral", refere Paulo.

Os livros vêm de particulares: herdeiros de bibliófilos pouco interessados em pó e traça, amigos e conhecidos. Vale a compra, a troca ou a oferta. Os preços são fixos: três euros um livro, dois, cinco euros. "A ideia não é lucrar por aí além. Se fosse, os preços seriam diferentes. Queremos criar a sensação de que o livro está em movimento, de que há pessoas que os vêm buscar e se interessam de facto, sem terem aquela ideia 'snob' de livros e livrarias", explica Paulo.

Edições raras e comerciais

Literatura, Política, História, Sociologia, Arte, Design, Arquitectura. Traduções e originais. Edições raras e comerciais, antigas e recentes. O catálogo é generoso e promete não fazer cerimónia. De pé, donas da estante, uma edição de "Madame Bovary", de Flaubert, publicada em 1960 pela Estúdios Cor, onde trabalhou Saramago, e "O Vermelho e o Preto", de Stendhal, edição de 1964, com tradução de Branquinho da Fonseca. Paulo acrescenta outras sugestões: Dostoievski, Virginia Woolf, Arthur Koestler, as edições novas de Philip Roth, as da Penguin, que têm funcionado como autênticos chamarizes, as colecções de Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, etc.

A imagem da loja, do logótipo aos "flyers", cartazes e sacos de pano, ficou a cargo de João Alves dos Reis, 24 anos, designer gráfico com trabalhos para peças de teatro. "Depois de conhecer o conceito da loja, que é muito simples, achei que também devia criar algo simples e claro, de fácil associação, que se adequasse quer à fisionomia da loja, quer à ideia de negócio que eles têm", explica.

Outros projectos complementares: utilizar o espaço para fazer apresentações de livros, com presença dos autores, "workshops", e mais tarde, talvez, agarrar no conceito e levá-lo a outras paragens. Tudo bons pretextos para difundir um certo espírito literário, isto é, "descontraído". "Não queremos levar-nos demasiado a sério. O nosso trabalho é sério, claro, mas nós, enquanto pessoas, não pretendemos ser vistos assim. Vamos a qualquer livraria noutro país e os funcionários são super descontraídos. Não queremos assustar ninguém", assegura Sara.

Sejam pois bem-vindos à Fyodor Books.

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