"Eu conheço um violador"

"Je connais un violeur". É assim que se chama um blogue francês que está a tirar do silêncio muitas vítimas de violação

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Damir Sagolj/Reuters

"A imagem do violador psicopata que vive à margem da sociedade é um mito que afecta apenas uma pequena minoria dos violadores. Em 67% dos casos, a violação aconteceu na casa da vítima ou do agressor, que é um amigo ou um ente querido. Em 80% dos casos, o agressor era conhecido da vítima. Uma em cada três violações são cometidas pelo marido ou pelo parceiro regular". Esta é também a apresentação de Pauline, uma francesa de 27 anos que criou um blogue. Je connais un violeur (Eu conheço um violador) quer que as vítimas de violação partilhem com o mundo os "retratos" dos seus agressores.

O blogue criado a 31 de Agosto fez assim com que, pelo menos na Internet, o silêncio seja menos silencioso. São centenas os testemunhos publicados até agora neste espaço, que traça descrições de violadores, homens e mulheres.

Esta forma inédita de divulgação anónima online de crimes de violação criou um buzz mediático, que levou os orgãos de comunicação franceses a noticiar o assunto. 

A autora, que também foi vítima de violação, assume aqui uma oportunidade para falar de violação sem tabus. Pauline, explicou, em entrevista à imprensa francesa, que pretende assim acabar com a ideia feita de que os violadores são sempre "os outros". No seu blogue sublinha que "em 80% dos casos, o agressor é conhecido da vítima". 

Os textos que se vão sucedendo, dando força à tese da administradora de Je connais un violeur, reflectem que na maioria das vezes os agressores vivem perto das vítimas. São pais, irmãos, primos, tios, avós, vizinhos, médicos de familia, professores, psicólogos, amigos do amigo, que como diz Pauline, "não actuam em parques de estacionamento escuros à noite, como nos filmes".

A jovem aponta este cliché como a razão para a falta de repercurssões judiciais sobre os violadores.

As vítimas encontram assim uma forma de mudar uma imagem errada dos agressores que a sociedade foi assimilando como marginais. Mas ainda nada está feito, porque não se trata apenas de partilhar testemunhos. Pauline quer angariar informações suficientes para estabelecer um retrato robot do violador comum: idade, profissão e caracteristicas físicas.

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