"Carosello", Jorge Quintela ganhou um prémio com um "filme de bolso"

O P3 foi a Guimarães falar com o realizador vencedor do Festival Curtas de Vila do Conde. Em Portugal, diz Jorge Quintela, "o financiamento é muito reduzido"

Cartaz de Carosello
Fotogaleria
Cartaz de Carosello
Jorge Quintela, vencedor do 21º festival Curtas Vila do Conde
Fotogaleria
Jorge Quintela, vencedor do 21º festival Curtas Vila do Conde

“Tinha de lá estar para entregar um prémio e não para o receber”. Jorge Quintela não estava à espera de receber o Grande Prémio “Cidade de Vila do Conde”. Mas aconteceu. “Carosello” foi o grande vencedor da 21ª edição do festival Curtas Vila do Conde —; foi a segunda vez na história deste festival que o prémio de melhor filme em competição foi atribuído a um português. Sete anos após João Nicolau ter ganho o mesmo prémio com o filme "Rapace".

O realizador nasceu no Porto, tem 32 anos e formou-se em Fotografia e em Audiovisual, em 2003, pela Escola Superior Artística. Desde 2004 que trabalha assiduamente em cinema como director de fotografia de curtas e longas-metragens. Realizou, ainda, o filme documentário sobre o músico The Legendary Tigerman “On The Road To Femina” e o filme “Ausstieg”, que mereceu uma Menção Honrosa na secção da competição experimental, também em 2010, do Curtas de Vila do Conde.

“Carosello” é o segundo de uma série de “filmes de bolso”, como o próprio lhes chama. Jorge Quintela dá-lhes esta designação por não envolverem uma grande estrutura de produção. E são uma espécie de série porque partilham das mesmas premissas. Tanto “Ausstieg” como “Carosello” resumem-se a um só plano onde a palavra assume um papel relevante e as personagens, estrangeiras, são a perspectiva de um português sobre a cultura e o universo retratado nesse filme.

As imagens fazem parte de um arquivo pessoal do realizador e surgem do acaso. São captadas instintivamente porque Jorge sabe que, um dia, ao rever essas imagens a ideia de construir um filme surgirá. Por isso, coloca a câmara a jeito e deixa o momento acontecer sem interrupções ou manipulação. É com base no que surge que depois recria a narrativa.

Metáfora da vida

Foi num plano do carrossel filmado na Piazza della Repubblica, em Florença, que surgiu a ideia de realizar este filme. Tudo o resto foi fiel à imagem criada. “Carosello” é uma metáfora da própria vida daquela personagem, um reformado italiano. O lado constante do movimento circular do carrossel e os momentos recorrentes que se repetem ao longo da vida do actor. "A palavra é que vai avançando" e com ela a mensagem que cada espectador vai tirando do filme. 

A realização de um filme de bolso sobre um português está longe de ser concretizada. Na opinião de Jorge Quintela, só "é possível quando existem essas diferenças culturais". Um caso português "não é um caso imaginário, é uma realidade".

Jorge Quintela é também um dos sócios da produtora Bando à Parte (com Rodrigo Areias), que teve quatro curtas em competição no festival deste ano. "Carosello" foi produzido sem qualquer financiamento, mas o apoio de estrutura da produtora foi crucial para a criação da curta-metragem. Refere, ainda, que "o financiamento [em Portugal] é muito reduzido" quando comparado à quantidade de filmes que são produzidos por ano noutros países da Europa. Por outro lado, são estas debilidades que permitem "uma liberdade de criação que está a dar frutos". Considera que "a partilha de conhecimento de pessoas envolvidas na área" são de extrema importância para tornar a produção de filmes possível.

Ao contrário de uma produção normal em que tudo é programado, estes filmes de bolso surgem quando se proporcionam. Por isso, não se sabe quando voltará a produzir o próximo. Certo é o seu próximo projecto, no qual irá trabalhar como director de fotografia. Um filme financiado pelo Instituto de Cinema e Audiovisual a estrear no fim de 2014.

Sugerir correcção
Comentar