Banqueiros: os gorilas do dorso prateado

Se olharmos para a contemporaneidade, percebemos que quem domina o mundo são os banqueiros (no aparente mundo da licitude) e os traficantes de armas, droga, prostituas e escravos e alguns ditadores (no mundo da ilicitude)

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Ivan Alvarado/Reuters

Apesar de Charles Darwin já ter explicado à humanidade que todos somos primatas, que provimos dos macacos, ainda há muitos que não entenderam (aceitaram?) este facto. Em particular, quando se tenta analisar a sociedade humana, desprezar os ensinamentos de Darwin é o caminho certo para a mistificação…

Não podemos teorizar sobre sociedades sem partirmos da base: somos primatas! Sei que temos um cérebro mais desenvolvido, temos a região dos lobos pré-frontais mais desenvolvida (o que nos concede algumas características diferenciadoras dos demais) mas somos primatas! Precisamos de oxigénio, precisamos de água (temos sede), precisamos de calorias (temos fome). Temos a compulsão sexual e precisamos de dormir. Defecamos, urinamos e temos que preservar a nossa temperatura corporal na casa dos 37°. Isto é quase tudo, o resto é folclore…

No domínio social, a nossa natureza impele-nos para a protecção da família (do nosso núcleo mais chegado) e para a competição com os demais. Em particular os homens (carregados de adrenalina e testosterona) são muito propensos à competição e à guerra (são sempre homens os bombistas, os assassínios em série, os assaltantes mais violentos…).

A história da humanidade está feita de lutas de poder entre homens, com sangue suor e lágrimas à mistura. Se olharmos para a contemporaneidade, percebemos que quem domina o mundo são os banqueiros (no aparente mundo da licitude) e os traficantes de armas, droga, prostituas e escravos e alguns ditadores (no mundo da ilicitude). Esses são os machos dominantes, os gorilas de dorso prateado, da nossa sociedade.

No presente contexto da crise financeira que nos assola, os banqueiros têm sido os mais visados como grandes responsáveis do mundo mal ordenado. Mas querer acabar com os banqueiros e seus bancos na convicção de que isso resolveria os problemas do mundo demonstra uma profunda ingenuidade…

É certo que eles têm muito poder (a mais) e que têm grandes responsabilidades na crise actual. Mas não nos esqueçamos dos outros senhores do mundo: os traficantes e produtores de armas que lucram com as guerras e que as catalisam, os traficantes de droga que regozijam com as proibições (e muitas vezes até com as capturas) da droga que lhes permitem actuar no mercado com margens de lucro astronómicas, os traficantes de prostitutas que satisfazem os prazeres alheios, os ditadores que vivem do petróleo, dos recursos naturais, da subjugação dos povos, e todos ligados pelo óleo visceral do sistema: o dinheiro. Que passa de mãos em mãos, de paraíso fiscal em paraíso fiscal, de mercado financeiro em mercado financeiro, onde estes actores principais trocam lucros e favores.

Os banqueiros, é certo, têm maior responsabilidade: porque da sua actividade se esperava a licitude e o contributo para o desenvolvimento das nações. Na prática, estes operadores financeiros de alto nível têm-se comportado como donos do mundo, como os gorilas dominantes que comem mais (bananas em restaurantes de luxo), acasalam mais (com prostituas de alta gama ou afins), têm maior território (no alto das suas torres citadinas ou no conforto das paradisíacas ilhas fiscais), lutam entre si pelo poder (esmagando brutalmente os competidores) e sugam os subjugados (fazendo-os pagar pelas suas falências e exotismos ruinosos).

Porém, a oeste nada de novo, esta é a história da humanidade: uma história de sucessão do poder de mãos em mãos, ora por herança, ora por revoluções e guerras, ora por golpes de bastidores. Hoje, para além dos já mencionados tradicionais violentos (quais reis ou senhores da guerra do antigamente) temos os banqueiros que se especializaram no domínio remoto, à distância, que, em vez da violência física, usa a violência financeira. Mas não haja ilusões: violência é sempre violência, e estes gorilas de dorso prateado continuam a ser viciados em adrenalina (do sobe e desce dos mercados), carregados de testosterona (que os motiva para a ganância e o querer ficar sempre em primeiro) e até na droga que usam (é sabido o uso extensivo de cocaína nas grandes praças financeiras) e nos hábitos sexuais que apresentam (o recurso intensivo à prostituição) são em tudo iguais aos senhores do antigamente.

Aos subjugados resta apenas perceber que são dominados e que a luta contra os dominantes é a única solução. Lutai pois, os que não querem ser subjugados, na convicção porém, de que nunca findará a subjugação…

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