Nova fez do telemóvel um banco portátil em Moçambique

Projecto NOVAFRICA contribui para o desenvolvimento local no interior de Moçambique e garante estágios a alunos da Universidade Nova

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É possível que o duo tecnologia-ruralidade não soe bem num primeiro impacto, mas o NOVAFRICA está no terreno para provar que a união resulta. Pode um serviço de "mobile banking" funcionar como um factor de desenvolvimento local nas zonas mais rurais de Moçambique? O centro de conhecimento que a Nova School of Business and Economics, da Universidade Nova, criou em parceria com a Angola Business School diz que sim.

A ideia é simples. Fazer do telemóvel com serviço bancário uma ajuda preciosa para quem está suficientemente longe da civilização para poder deslocar-se facilmente a um banco, para quem contorna esse problema trocando dinheiro por animais, para quem enterra latas de dinheiro no chão.

Foi aproveitando a oportunidade de “cerca de 80%” da população de Moçambique já ter telemóvel que a Carteira Móvel, detida pela operadora de telecomunicações mCel e pelo IGEPE, um organismo público, que o NOVAFRICA apostou nesta investigação: "Percebemos que muitas pessoas não tinham como poupar dinheiro nesses sítios. E outras nem sequer sabem o que significa a palavra ‘poupar’”, disse ao P3 a directora executiva do centro, Cátia Batista.

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Alunos da Nova SBE podem beneficiar de estágios nestes países africanos DR

Crescimento do sector privado

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Projectos da Novafrica são sobretudo em Moçambique, mas também em São Tomé e Angola DR

O objectivo deste centro de conhecimento passa por fomentar o desenvolvimento sustentável, sobretudo no sector privado. Mas o "mobile banking" é apenas um dos projectos em que o NOVAFRICA faz investigação neste momento.

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Projecto de mobile banking está a ser bem aceite pela população DR

Com “testes em pequena escala”, o centro tenta perceber que impacto podem ter determinadas iniciativas no desenvolvimento de um país. “A nova economia do desenvolvimento defende que existem iniciativas específicas que podem levar ao crescimento”, explica Cátia Batista, que lidera o centro ao lado de Pedro Vicente.

Pelos testes feitos até agora, o "mobile banking" está a ser bem acolhido pela população das zonas mais rurais: “Sabemos que 64% das pessoas a quem fornecemos o serviço, passando dois meses tinham usado o 'mobile banking' depois de iremos embora.”

O "mobile banking" está também a ser utilizado por migrantes na zona de Maputo, com o objectivo de facilitar o envio de dinheiro para a família (“tradicionalmente, as pessoas só o fazem através de um condutor de autocarro, o que fica bastante caro e é arriscado, ou esperam por uma viagem até casa”, desenvolve) e por microempresas, com o objectivo de incutir uma gestão mais eficiente das micro-poupanas.

Mais 50 participações

No próximo Verão, o NOVAFRICA deve contar com a participação de mais 50 pessoas (dez alunos da Nova SBE e 40 moçambicanos). O objectivo último dos projectos é a implementação em larga escala , algo que Cátia Batista espera ver acontecer com o projecto de "mobile banking" no prazo de um ano.

A relação privilegiada que o centro consegue estabelecer com empresas – há, nesta fase, uma série de parcerias e protocolos de colaboração a serem fechados – funciona também como um catalisador para a entrada de alunos portugueses no mercado moçambicano (onde a maioria dos projectos decorre para já), são tomense e angolano.

O que mais alicia Cátia Batista, que regressou a Portugal depois de 12 anos fora para abracar a causa, é a “ideia de longo prazo” que o NOVAFRICA defende: “A ideia de que Portugal deve estar imanado com estes países não só na óptica de mandar para lá pessoas para ganhar dinheiro, mas sobretudo como facilitador do desenvolvimento nesses sítios”, explica.

Além dos projectos de investigação económica, o Novafrica promove workshops, conferências, estágios profissionais e intercâmbio de professores. A próxima conferência anual será em Outubro, em Maputo.

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