“É evidente que há quem precise de sair da sua zona de conforto”

Criar emprego não é uma responsabilidade do Estado, "sair da frente" para que as pessoas criem sim. O deputado do CDS Michael Seufert quer mais flexibilização nos contratos com os jovens

Daniel Rocha
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Nelson Garrido
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Para jovens com menos de 30 anos ou para quem procura o primeiro emprego, os contratos deviam ser "mais flexíveis" e “isentos de contribuições para a Segurança Social (SS)”. As empresas não contribuíam – e assim cortavam 30% nos custos com o trabalhador – e os jovens não pagavam, ficando fora da SS.

Quem o propõe é o deputado do CDS Michael Seufert, que admite que a proposta possa não ser “politicamente correcta”, mas acredita que seria uma forma de pôr os jovens dentro do mercado de trabalho. “Entre estar desempregado sem apoio ou com um apoio fraco e ir trabalhar e poder fazer a diferença, acho que era preferível trabalhar.”

A ideia é “embaratecer a contratação sem mexer nas remunerações”, resume o deputado de 29 anos. Se isso não eternizaria a contratação por essa via por parte das empresas? “É possível, mas acontece na mesma com os recibos verdes, esses são os verdadeiros precários”, responde um dos mais novos deputados da AR, estudante e geek assumido. 

Flexibilizar a lei

“É mais frutuoso mexer a nível da flexibilização da lei laboral”, afirma, dizendo que as últimas alterações, recentemente promulgados pelo Presidente da República, Cavaco Silva, têm “pouco efeito nos jovens”. A ideia de ficar fora do sistema social não é coisa que o assuste: "É provável que a reforma que vou ter quando chegar aos 60 ou 65 anos, se é que vou ter, seja insignificante."

Em relação ao programa de combate ao desemprego entre os mais novos, Impulso Jovem, o deputado não tem dúvidas: “É um sinal importante, mas não vai resolver o problema do desemprego.” É que, apesar de ter efeitos imediatos, é “pouco estruturante”.

Palavra de quem faz do empreendedorismo – um dos pilares do programa – um dos temas de trabalho preferidos na Assembleia da República. Michael Seufert não hesita em dizer que concorda a opinião do secretário de Estado da Juventude, Alexandre Mestre: “É evidente que há pessoas que precisam de sair da sua zona de conforto”, repete. “A nossa visão de sair do curso superior e começar a trabalhar numa empresa e isso ser um emprego para a vida à porta de casa acabou. Muitas pessoas ainda pensam assim e outras felizmente já não.”

É dos jovens – e dos restantes cidadãos – a responsabilidade de arranjar emprego: “O Estado nem sequer tem a responsabilidade de criar emprego, tem é de sair da frente quando as pessoas querem criar o seu próprio emprego”, acredita.

Cortar nos cursos com pouco emprego

E os números recentes, que mostravam que apenas 0,5% dos desempregados criaram o seu próprio emprego em 2011, não são surpreendentes. “Fazer a diferença está reservado a poucos”, reage o deputado do CDS, que admite que o “auto-emprego e o empreendedorismo não são uma panaceia para resolver os problemas em massa”.

Uma medida importante foi o “benefício de vagas para cursos do ensino superior que têm mais empregabilidade”, aponta. É “um drama” ver pessoas formadas sem emprego, “mas também é verdade que a licenciatura, o mestrado e o doutoramento não são um passaporte para o emprego”. É preciso “abrir horizontes e rasgar novos caminhos”, aconselha a quem está estagnado num curso sem saída profissional.

Sair do país pode também ser uma solução – “a nossa geração é do Erasmus e da migração” – e é “natural” que seja uma opção neste momento. “Temos visto o fenómeno com alguma preocupação, mas também achamos que é uma escolha compreensível em qualquer clima económico”, aponta o deputado, que admite que a única coisa que é preciso assegurar é o regresso.

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