Professoras sem alunos viram design do avesso

Ana Silva e Maria João transformam móveis antigos, resgatam objectos do lixo, pedem velhas televisões ao vizinho da frente. Sem lugar numa escola, abriram uma loja-atelier. Depois das cadeiras, haverá mesinhas de cabeceira ao serviço da arte.

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Nelson Garrido

Este ano, Ana Santos, 33 anos, professora de Educação Visual e Tecnológica, e Maria João, 35 anos, professora de Ensino Especial a frequentar o mestrado na mesma área, não conseguiram lugar numa escola.

A loja de usados que uma amiga montou e abriu numa semana na Figueira da Foz funcionou como um clique. Perceberam que abrir um negócio por conta própria não era um bicho de sete cabeças e afastaram a palavra impossível do dicionário. E não mais pararam. 

“Não queríamos que fosse apenas uma loja de usados, mas sim uma coisa mais elaborada”, conta Maria João. Numa manhã de muitos chás em cima da mesa, a ideia acabou por surgir. Uma loja, um atelier, um espaço onde o velho vira novo e o novo é diferente de tudo o resto.

Espreitaram sótãos, baús, guarda-vestidos, caixotes do lixo. Transformaram-se em pintoras, carpinteiras, artesãs, artistas, empresárias, e há cerca de um mês abriram uma loja-atelier na Rua Velha de Santo António, uma das vielas mais antigas da cidade de Oliveira de Azeméis.

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Nelson Garrido

“Misturamos um bocadinho as tradições, as rendas, o croché com técnicas modernas e fora do vulgar”, diz Maria João. Arregaçaram as mangas e a loja-atelier não tardou a abrir as portas com muito material.

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Nelson Garrido

Um aparador inspirado no universo do pintor catalão Miró, estrados de camas de bebés transformados em cabides para roupa, uma máquina fotográfica antiga, vinis que não param de tocar, uma janela velha colada na parede, roupa vintage, candeeiros dos anos 80, revistas de outros tempos, um baú recuperado, e objectos de vários designers nacionais.

Cabe tudo na Virar do Avesso (que tem um blogue para partilhar ideias). Na parte da frente, produtos expostos. Na parte detrás, os materiais, as tintas, os móveis para recuperar, revistas e jornais antigos para a "decoupage".

As horas e os dias passaram a ser mais intensos, mais preenchidos. “Acordar de manhã é outra coisa. Abrir a loja... acabar uma peça...”, revela Maria João, visivelmente contente pela nova ocupação. 

O senhor Martinho repara televisões e outros electrodomésticos do outro lado da rua, mesmo em frente. Ana e Maria João namoraram as velhas e pesadas televisões antigas, com traseiras generosas, bateram à porta e pediram alguns exemplares que deixaram de ter qualquer utilidade.

Simpaticamente o vizinho arranjou-lhes alguns modelos e acabou por contribuir com uma ideia. O gato do senhor Martinho gosta de se aninhar dentro das televisões sem ecrã. A esposa fez uma espécie de almofada para colocar na carcaça do televisor e assim nasceu uma alcofa para gatos dentro de uma televisão antiga. “Estamos no sítio certo”, confessa Maria João. E até a senhoria gostou da ideia das meninas. Traz-lhes flores, roupa que deixou de usar e até fez um bolo para o dia da abertura da loja. 

Depois das cadeiras, as mesinhas de cabeceira

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