Rui Alves: o designer que juntou os animais ao mobiliário

Um descascador de batatas ou a forma como as pessoas “interagem com os objectos” podem ser o mote para um projecto, onde o utilizador terá “sempre a última palavra”

Welcome to the Jungle, projecto vencedor no Red Dot Award, em 2010
Fotogaleria
Welcome to the Jungle, projecto vencedor no Red Dot Award, em 2010
DR
Fotogaleria
DR

Foi com “Welcome to the Jungle”, um conjunto de cinco peças de mobiliário, cada uma representando um animal diferente, que Rui Alves, de 35 anos, viu o seu trabalho ser reconhecido. Primeiro, no Festival Internacional de Design de Berlim e depois no Red Dot Award, onde viu o júri eleger o seu projecto como um dos 29 melhores, entre os 3023 nomeados. “Acredito que o júri tenha visto o conceito como algo simples, curioso, mas eficaz”, afirma Rui Alves.

 

Três adjectivos que assentam na perfeição às peças do designer natural de Paços de Ferreira. O gosto por inventar e reinventar a realidade nasceu cedo, algo quase “inato”, ou não houvesse raízes na família. “O meu avô era artesão, carpinteiro e dedicava uma atenção ao detalhe absolutamente fora do vulgar. O meu pai trabalhava numa fábrica que produzia mobiliário escolar”, conta Rui Alves ao P3. Por isso, acabou por conhecer “duas realidades: a artesanal e a industrial”.

 

Ainda miúdo, gostava de construir os seus próprios brinquedos, “não só desenhar, mas também materializar”. A oficina do pai transformava-se na fonte das suas incursões criativas, de onde “ia roubando materiais que encontrava”.

 

Funcionalidade sempre presente

A preocupação em imbuir as peças de uma identidade vincada e, ao mesmo tempo, de um fim de utilização claro é transversal a todo o seu trabalho. “Poderei ter projectos mais conceptuais, mas o utilizador deverá ter sempre uma última palavra a dizer na utilização do objecto”, salienta.

 

O quotidiano e aquilo que “passa despercebido” exerce uma influência primordial no processo de conceber uma nova peça. “Quando abrimos a gaveta onde temos os utensílios de cozinha, estão lá verdadeiras peças de design. Não estou a falar da ultima criação, da última marca, mas daquele descascador de batatas que a nossa avó usava, e continuamos a encontrar no mercado, ou de uma escova dos sapatos”, sublinha.

 

Outra das rotinas que ajuda a fluir as ideias reside na observação dos comportamentos das pessoas – não de uma forma “obsessiva” —, de modo a discernir se “os objectos estão a cumprir a sua função”. “Gosto de ir tomar o pequeno almoço sem grandes pressas no sentido de tentar perceber hábitos e costumes e como é que as pessoas estão a cuidar dos objectos, como é que interagem com eles, porque acabam por fazê-lo de uma forma mais simples e despreocupada naquela pressa do dia a dia”.

 

Entre 17 e 22 de Abril, o designer português vai apresentar em Milão cinco novos projectos. E Rui não tem dúvidas: “O reconhecimento vem sempre de fora para dentro” e, desde então, “as portas abrem-se com maior facilidade”. 

Sugerir correcção
Comentar