Fardos de palha não servem só para os três porquinhos

“Arrisco que existam 15 a 20 construções com fardos de palha em Portugal. Actualmente em França devem existir cinco mil e com tendência a crescer”, comenta a arquitecta Catarina Pinto

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Depois de um percurso na arquitectura “dita convencional”, Catarina Pinto começou a explorar materiais mais ecológicos, como fardos de palha, num trabalho em que a realidade ultrapassa a história infantil de "Os Três Porquinhos".

Portugal continua longe de países como Inglaterra, Eslováquia ou Alemanha, onde a palha serve como matéria-prima na construção. Em França, há já o projecto para uma sala polivalente por iniciativa da autarquia de Mazan, exemplifica à Lusa Catarina Pinto, do estúdio de Arquitectura TerraPalha, responsável pelo projecto Casulo (jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, Verão de 2011).

 

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A arquitecta quis afastar-se das "auto-experiências" que nem sempre têm os melhores resultados e aprendeu as bases da arquitectura mais tradicional e ecológica, que começa a interessar mais os estudantes nas faculdades. Catarina Pinto adianta que "curiosos" se dedicam "ao fim de semana" a esta construção e acabam por dar “má imagem”, uma vez que são necessárias precauções extra nestes trabalhos, como utilizar um beirado (limite do telhado) mais longo para proteger as paredes.

No seu currículo, além de participações em projectos internacionais, figura uma formação com o "guru" norte-americano Andrew Morrison, na qual se ergueram paredes de um edifício com 400 metros quadrados para servir de armazém numa produção de cogumelos.

Pouca palha em Portugal

Em Portugal, são poucos os edifícios construídos com recurso a fardos de palha e os que existem talvez nem sejam visíveis para a maioria das pessoas, porque, segundo a arquitecta, a palha equivale aos tijolos — é revestida e fica com a “aparência equivalente” a outras casas.

“Arrisco que existam 15 a 20 construções com fardos de palha em Portugal. Actualmente em França devem existir cinco mil e com tendência a crescer”, comenta. Porém, um auditório de uma comunidade alemã no Alentejo orgulha-se de ser o maior da península ibérica construído segundo esta técnica.

Na lista de vantagens deste tipo de construção ecológico, está o “excelente isolamento térmico” e o “material em abundância”. Já o ponto negativo é a falta de enquadramento legal e que coloca questões de como licenciar estes edifícios. Como a técnica está ainda no início, também há pouca mão de obra especializada, mas a arquitecta acredita que já está a crescer a “bola de neve”.

Catarina Pinto nota que as dificuldades burocráticas podem ser ultrapassadas e que se pode evitar as maiores despesas, quase sempre relacionadas com a inovação técnica e com o facto de poucas pessoas fazerem este trabalho. Além disso, sublinha, um empreiteiro pode assumir que o lucro será menos importante do que os conhecimentos que vai adquirir.

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