O outro lado do bairro 6 de Maio

“Realidade na Tela” é um filme de 30 minutos produzido por dez jovens que vivem e frequentam um bairro considerado problemático

Foto
O documentário foi produzido por dez jovens Filipe Arruda

Ghetto, este bairro 6 de Maio, na Amadora. É o que diz um dos graffiti que por lá se encontram. Assim começa o filme “Realidade na Tela”, apresentado num auditório da Escola Intercultural, na vizinha Venda Nova. Um documentário produzido por dez jovens que vivem e frequentam este bairro considerado problemático, no Damaia Film Making Project, um "workshop" com o cineasta americano Jared Katsiane.

Eles nasceram num lugar a que os outros costumam chamar "problemático", filhos de cabo-verdianos e guineenses — este bairro foi sendo construído, ao longo dos anos, pela comunidade cabo-verdiana.

A maioria não tinha experiência com câmaras. Mas Jared orientou-os, explicou-lhes como se faz um filme. Ensinou-lhes a trabalhar com câmaras, tripés, microfones, a editar, a fazer entrevistas. Eles escolheram a história, o caminho a seguir. Este é um documentário deles — "eles é que decidiram tudo, eu só os orientei", garante.

Foto
O que gostavas de mudar no bairro? Filipe Arruda

Durante duas semanas, entrevistaram gente do bairro, entrevistaram-se uns aos outros. Filmaram seis horas e, em duas semanas, transpuseram-nas para um documentário de 30 minutos.

No projecto participaram outros dois jovens, da Alemanha e da Letónia, voluntários da Associação Máquina do Mundo, uma organização não-governamental instalada à entrada do bairro, que, em conjunto com a embaixada dos Estados Unidos da América, organizou o Damaia Film Making Project.

Jared Katsiane diz ter ficado tão satisfeito com o resultado deste projecto que vai procurar financiamento para, no próximo ano, levar o grupo a Boston, onde ensina jovens de um bairro desfavorecido e de diversas nacionalidades — muitos deles cabo-verdianos e portugueses até.


A realidade da tela
"O que gostavas de mudar no bairro?". É uma das perguntas que fazem aos entrevistados. Tudo, responde Inês Almeida, de 19 anos, na tela (esteve dos dois lados da câmara). Gostava de recomeçar, do zero. O 6 de Maio sempre lhe pareceu normal — é lá que vive, foi lá que nasceu. Até lhe terem perguntado se queria que o bairro fosse abaixo.

"Não tinha olho para ver o que os outros vêem", reconhece após a exibição do filme. Então o bairro passou de "uma coisa normal" para "uma coisa para mudar". E esta é a altura para mudar, acredita. "Se continuamos assim, ficamos com as mãos e os pés atados."

Lê o artigo completo no PÚBLICO

Sugerir correcção
Comentar