IP analisa recomendações do inquérito ao incêndio no túnel do Marão

Relatório revela um "hiato temporal" de "36 minutos" entre o alerta inicial e o início do combate. Deputado do PSD suspeita que o túnel abriu sem "estarem integralmente asseguradas" as condições de segurança. Foi "à pressa".

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A Infraestruturas de Portugal (IP) fez saber que vai analisar as recomendações do inquérito ao incêndio num autocarro dentro do Túnel do Marão, em Junho, e diz que vai trabalhar com vista à implementação das medidas determinadas pelo Governo.

Um autocarro de passageiros ardeu integralmente a 11 de Junho dentro do Túnel do Marão, inserido na Autoestrada 4 (A4), que liga Amarante a Vila Real, sem provocar feridos. As conclusões do inquérito, ordenado pelo secretário de Estado da Protecção Civil, foram tornadas públicas na sexta-feira e apontam algumas falhas, lacunas e descoordenação na intervenção. O documento citado pela Lusa aconselha melhorias a nível da agilização dos meios e procedimentos de evacuação.

Um despacho conjunto, entre os ministérios da Administração Interna e das Infraestruturas, publicado na quinta-feira, recomenda a revisão com urgência e até 31 de Março dos planos de Emergência Interna e de Intervenção, bem como a elaboração de um Plano de Prevenção e a posterior realização de um simulacro de incêndio.

Fonte da IP, responsável pela infraestrutura rodoviária, disse neste sábado à agência Lusa que "irá analisar as recomendações inscritas no relatório e trabalhar em conjunto com a diversas entidades, nomeadamente a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), no sentido de implementar as medidas determinadas no despacho conjunto".

O relatório revela um "hiato temporal" de "36 minutos" entre o alerta inicial e o início do combate e aconselha uma revisão dos procedimentos para agilizar a chegada dos meios.

Refere ainda que é preciso "aperfeiçoar os procedimentos previstos em matéria de evacuação" e aponta situações caricatas como o número de telefone do contacto da IP estar errado no Plano de Intervenção da infraestrutura rodoviária.

"Por conta própria"

O incêndio ocorreu na galeria sul, sentido Amarante-Vila Real, quando a viatura já estava imobilizada e o condutor utilizou dois extintores portáteis para tentar apagar as chamas.

De acordo com o documento, o condutor e os 19 passageiros "agiram por conta própria" até atingirem a galeria de emergência P5, onde aguardaram.

A ocorrência foi detectada pelo sistema de detecção automática de incidentes (DAI), implementado no túnel, às 20h29 e o centro de controlo de tráfego, da IP, alertou o Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS) do Porto cinco minutos e quarenta e sete segundos depois. O alerta ao CDOS já tinha chegado via 112 e o despacho de meios de socorro iniciou-se pelas 20h30.

O documento diz que as equipas de primeira intervenção, denominadas unidade móvel de inspecção e apoio (UMIA), disponíveis para o túnel, "levaram muito tempo a chegar ao emboquilhamento (três minutos e oito segundos)" e "não fizeram o procedimento de primeira intervenção".

Ouvidas durante o inquérito, estas equipas declararam que não se aproximaram do veículo sinistrado nem realizaram este procedimento devido "à dimensão do incêndio e por questões de segurança".

O documento conclui ainda pela necessidade de "aperfeiçoar os procedimentos previstos em matéria de evacuação, mormente em ordem a definir quem acompanha e coordena o grupo de utentes a evacuar (chefe de fila)" e "quem segue em último lugar no grupo". É também preciso prever a identificação de todos os utentes e verificar se foram todos evacuados para local seguro. Procedimentos que "não se verificaram nesta situação".

"Descoordenação"

Ter-se-á verificado ainda alguma "descoordenação", já que quatro passageiros do autocarro foram recolhidos por uma utente, que falou via posto SOS com um operador, mas essa informação não foi transmitida aos operacionais presentes no teatro de operações.

O relatório refere que a "ventilação ocorreu dentro da normalidade" quer na galeria sinistrada, quer na outra galeria, embora "houvesse bastante fumo no emboquilhamento da entrada norte, o qual impossibilitou a entrada dos bombeiros provenientes de Vila Real.

O deputado do PSD Luís Ramos afirmou, entretanto, que suspeita que o Túnel do Marão abriu em Maio de 2016 sem "estarem integralmente asseguradas" todas as condições de segurança, reagindo às conclusões do inquérito ao incêndio de Junho.

"E a prova é que se agora há urgência em rever os planos de actuação no Túnel do Marão, é porque as falhas são graves", disse à agência Lusa Luís Leite Ramos, vice-presidente da bancada parlamentar do PSD.

Túnel abriu "à pressa", diz PSD

"Juntando as peças, estou cada vez mais convencido de que não garantiram as condições para o túnel abrir. Faltou formação, faltam meios e falta articulação entre os diversos agentes da protecção civil", frisou. E faltou também, destacou, a realização de um simulacro antes da inauguração da infraestrutura rodoviária a 7 de Maio de 2016.

"A minha convicção é de que abriram à pressa e não garantiram as condições, por exemplo, o simulacro tinha que ser feito antes da abertura para garantir que os dispositivos estavam a funcionar. Nunca fizeram nenhum teste quer do plano de Emergência Interno, quer do plano de Intervenção, para verificar que as coisas funcionavam devidamente", sustentou.

Na sua opinião, o incêndio no autocarro "foi a primeira vez que os meios de intervenção, quer afectos ao túnel quer da protecção civil, foram testados".

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