Rodrigo Possebon, de Manchester a Saigão em menos de dez anos

Chegou a jogar ao lado de Cristiano Ronaldo no United e ainda passou pelo Sp. Braga. Em 2018, vai jogar no Vietname.

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Possebon e Ronaldo no banco do United em 2008 Reuters/Action Images/Jason Cairnduff

Entre 1986 e 2013, Alex Ferguson ganhou tudo o que havia para ganhar no Manchester United, da Premier League (13 títulos) à Liga dos Campeões (duas), mais um Mundial de Clubes e uma Taça Intercontinental. Há quem diga que sir Alex é o melhor treinador da história do futebol, não apenas pelos títulos que conquistou, mas também pela sua capacidade de detectar talento jovem e pela paciência para o desenvolver. A famosa “Classe de 92”, que teve Giggs, Beckham, Scholes e os irmãos Neville, é um exemplo maior disto, tal como Cristiano Ronaldo, que chegou a Old Trafford um lingrinhas com madeixas e dentes tortos, e de lá saiu uma “estrela” de impacto global. Mas nem todos os que foram tocados por Ferguson se transformaram em ouro. Rodrigo Possebon era um promissor médio brasileiro que chegou ao United em 2008. Dez anos depois, está a jogar no Vietname

Rodrigo Pereira Possebon foi um dos 210 jogadores que estiveram às ordens de Alex Ferguson no Manchester United, contemporâneo de Ronaldo, Nani, Giggs e Rooney. Nunca tinha feito um jogo sénior quando um dos olheiros do United no Brasil deu por ele nos escalões de formação do Internacional de Porto Alegre. Dessa prospecção brasileira, os “red devils” ficaram com três, Possebon e os gémeos Fábio e Rafael da Silva, da formação do Fluminense. “Pela sua capacidade de passe e futebol cheio de estilo, Possebon está destinado a ter um grande futuro”, eram as primeiras entusiásticas impressões do “Manchester Evening News” sobre o jovem brasileiro que tinha o número 34 nas costas e que ia fazendo algumas aparições na primeira equipa ao lado dos consagrados.

Não tinha sido uma transferência louca, apenas três milhões de libras, e não havia pressão para Possebon resultar no imediato. Ferguson não esperou muito tempo. Logo na primeira jornada da Premier League, Possebon entrou aos 63’ para o lugar de Giggs, na segunda jornada entrou aos 76’ para o lugar de Anderson. Menos de um mês depois, era titular pela primeira vez, num jogo da Taça da Liga, em Old Trafford, frente ao Middlesbrough. Aos 65’, o jovem brasileiro sofre uma violenta entrada a pés juntos do austríaco Emanuel Pogatetz (que foi expulso) e temeu-se que tivesse ficado com uma perna partida. Não ficou, mas foi uma lesão que o tirou da equipa durante quase dois meses. Depois, só jogou mais cinco vezes, ainda assim, o suficiente para ser ter no currículo um título de campeão inglês e uma Taça da Liga.

Não teve espaço em Old Trafford para a época seguinte, mas ainda não era motivo para entrar em pânico e Possebon, que entretanto se estreara na selecção sub-21 de Itália por ter dupla nacionalidade, foi por empréstimo para o Sp. Braga de Domingos Paciência. Tudo o que fez no Minho foram 34 minutos num jogo da Liga Europa na condição de titular, mas não gostou de ter sido substituído antes do intervalo e não voltou a contar para Domingos. Pediu para sair a meio da época, mas já não voltou a Manchester. Saiu para o Santos, por lá ficou até 2012 e ainda voltou a tentar o futebol europeu, com uma passagem nada brilhante pelo Vicenza da Série B italiana.

Não demorou muito a voltar ao Brasil. Foi saltando de um clube para o outro (Criciúma, Mirassol, Juventude, Náutico), ainda andou pelo Bahrein (Al Riffa), e voltou ao Brasil, com passagens pelo URT de Minas e pelo Passo Fundo, uma equipa do Rio grande do Sul que o apresentou com a foto que ilustra o texto e a seguinte legenda: “Um dos dois é a nossa nova contratação para o Gauchão 2017!” Infelizmente para o Passo Fundo, não era Cristiano Ronaldo, mas o jovem veterano itinerante de 27 anos à procura de uma carreira.

E assim chegamos aos primeiros dias de 2018 e à grande contratação do Ho Chi Minh City FC para a nova época. Não é todos os dias que um ex-jogador do Manchester United vai jogar para um clube vietnamita, e a chegada de Possebon gerou enorme expectativa entre os adeptos e a imprensa local. Mas como é que uma antiga promessa de um dos maiores clubes do mundo acaba a jogar no sudeste asiático? O que se passou na última década para Possebon não estar a brilhar nos grandes palcos do futebol europeu?

“Não sei exactamente o que tem acontecido para eu não ter tido uma ascensão maior”, contava Possebon numa entrevista ao site ESPN em 2013, nos tempos em que estava no Juventude, da Série C brasileira, uma altura em que ainda teria alguma esperança de voltar a clubes grandes. Não voltou e não há registo nos principais sites de estatística de futebol dos jogos de Possebon nos últimos anos. Foi o que lhe perguntou um jornalista vietnamita do site Goal.com, para ele explicar porque é que só tinha 100 jogos nos últimos dez anos.

“Esse número não está correcto”, respondeu o médio de 28 anos. “Joguei muito mais. Mais de 300 jogos.” Ou seja, Rodrigo Possebon andou tão por baixo na hierarquia no futebol que ninguém deu por ele, mas ainda conseguiu um contrato, segundo a imprensa local, muito acima dos padrões do futebol do Vietname. Será o clube da cidade anteriormente conhecida como Saigão a última paragem futebolística de Rodrigo Possebon? “Não sei. Ainda sou novo, tenho muitas coisas para alcançar.”

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