Nuno Artur Silva diz ter sido “alvo de uma campanha difamatória reles, miserável, sem escrúpulos”

Administrador com pelouro dos conteúdos continua em funções até à nomeação do seu substituto, após decisão do conselho geral independente da RTP por “incompatibilidade” das funções.

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Nuno Ferreira Santos

Nuno Artur Silva, que não será reconduzido no seu cargo na administração da RTP por o conselho geral independente (CGI) ter considerado que a sua continuidade é “incompatível”, falou esta quinta-feira pela primeira vez publicamente sobre o tema, via Facebook, para dizer que foi “alvo de uma campanha difamatória reles, miserável, sem escrúpulos”. O administrador, que continua em funções, assinala que foi uma “campanha bem-sucedida”.

O produtor e programador não se refere directamente à decisão que, há precisamente uma semana, pôs fim às suas funções na estação, mas sim às consequências. Na mesma mensagem em que agradece “as dezenas e dezenas e dezenas de mensagens que por todos os meios” tem “recebido de amigos, conhecidos, desconhecidos”, o fundador e proprietário da Produções Fictícias diz ter sido “inundado” por contactos de “ouvintes e espectadores dos canais da RTP”, que “não percebem o que se passou e que estão a gostar cada vez mais desta RTP e a encontrar nela a evidência de serviço público”.

Quarta-feira, a Associação de Realizadores de Cinema e de Audiovisual (ARCA) — da qual faz parte António-Pedro Vasconcelos e que, não sendo a mais representativa das associações destes profissionais em Portugal, suplantada pela Associação Portuguesa de Realizadores em número de associados, é bastante interventiva publicamente — lamentou a decisão de “afastar quem nos últimos três anos protagonizou a reestruturação da RTP, com os resultados que conhecemos e que, de facto, a distinguem das operadoras privadas pela positiva”. 

Nuno Artur Silva diz que o fito daquilo que classifica como “campanha difamatória” tinha um único fim: “O intuito de impedir a minha continuidade na administração da RTP”. Aponta o dedo a “tablóides onde trabalham pessoas que se fazem passar por jornalistas e que representam a pior escumalha da comunicação social”, depois de há uma semana ter sido decidido pelo conselho geral independente da RTP reconduzir Gonçalo Reis na presidência da rádio e televisão públicas, mas não os seus outros dois membros — Nuno Artur Silva e Cristina Vaz Tomé. A última tinha o pelouro financeiro e Nuno Artur Silva, também accionista do Canal Q, o pelouro dos conteúdos.

O CGI tinha, aquando da sua nomeação, sugerido que Nuno Artur Silva vendesse a empresa e que as Produções Fictícias não tivessem relação com a estação pública, mas verificou-se que o administrador não o fez e que algumas ficções ou ex-colaboradores históricos das Produções trabalharam para a RTP. O CGI deliberou que existe um “conflito de interesses entre a sua posição na empresa e os seus interesses patrimoniais privados cuja manutenção não é aceitável”, mas vincou que nestes três anos em funções tal vínculo não foi “lesivo da empresa”. Apesar da decisão que o afasta, o organismo considera-o “responsável, nos últimos três anos, pela reconfiguração estratégica da política de conteúdos da empresa, numa óptica de serviço público de media, tarefa que desempenhou de modo altamente meritório e sucessivamente reconhecido pelas instâncias de escrutínio da empresa”.

Para Nuno Artur Silva, que se congratula por ter concretizado muito, “foram três anos empolgantes”. “Agora é tempo de regressar ao meu lugar de sempre: um qualquer sítio onde possa ter ideias, escrever e desenvolver projectos com outras pessoas. Continuarei sempre a fazer o que gosto. Com quem gosto. Tenho os inimigos certos. Que mais posso desejar?” O autor e administrador disse ainda que o balanço positivo do seu trabalho por parte das pessoas que cita foi “inesperado, comovente, redentor”.

O conselho geral independente da RTP tem uma nova formação desde dia 22 de Janeiro, sendo presidido por António Feijó  e composto pela professora catedrática Helena Sousa, pelo diplomata Seixas da Costa (indicado pelo Governo), pelo catedrático José Carlos Vieira de Andrade (indigitado pelo Conselho de Opinião), pela gestora cultural Simonetta Luz Afonso e pelo professor Diogo Lucena. Compete-lhe supervisionar e fiscalizar o cumprimento das obrigações de serviço público de rádio e televisão e escolher e indigitar os membros do conselho de administração, entre outras funções.

Notícia corrigida às 11h32 de 2 de Fevereiro: Helena Sousa não transitou do anterior CGI, ao contrário do que estava erradamente indicado

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