Psicoterapia pode substituir medicação na disfunção eréctil

Responsável do Laboratório de Investigação em Sexualidade Humana sugere que o Ministério da Saúde disponibilize tratamento psicoterapêutico

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O Sexlab é um espaço de investigação sobre aspectos da sexualidade humana Adriano Miranda

Pedro Nobre entende que a psicoterapia pode substituir a medicação no tratamento da disfunção eréctil e advoga que o Ministério da Saúde ofereça tratamento psicoterapêutico a estas pessoas. “Não fica assim tão caro, mas até pode ser gratuito se houver investimento em psicólogos especializados nos hospitais públicos”, assegura o também presidente da Associação Mundial de Saúde Sexual (WAS). “Se houver uma rede de hospitais públicos que possa oferecer tratamento psicológico a homens com disfunção eréctil, como alternativa à medicação, estamos a oferecer um tratamento que aparentemente é eficaz”, garante. E que tem efeitos a longo prazo superiores aos da medicação. Esta é uma das principais conclusões preliminares de um dos estudos em curso no primeiro Laboratório de Investigação em Sexualidade Humana (SexLab) em Portugal, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, um espaço de investigação experimental e psicofisiológica de diferentes aspectos da sexualidade humana que Pedro Nobre lidera.

Os investigadores compararam a eficácia do tratamento da medicação com a psicoterapia numa amostra de 25 homens com disfunção eréctil. Durante o tratamento, um grupo tomou diariamente um comprimido para a disfunção enquanto um segundo participava nas sessões de psicoterapia. Aqui, os psicólogos deram estratégias aos participantes para que conseguissem ter mais pensamentos sexuais positivos e menos negativos. Os investigadores concluíram ainda que os homens, que antes tomaram medicação e o deixaram de fazer durante meio ano, diminuíram a sua resposta sexual. Já a maioria dos que teve psicoterapia como tratamento, manteve a resposta sexual seis meses depois.

Os especialistas estão ainda a comparar a resposta genital, a actividade cerebral e o foco de atenção visual de um grupo com disfunção eréctil com um outro saudável. “Estas três medidas nunca foram usadas e publicadas em nenhuma revista internacional”, assegura Pedro Nobre, que afirma não existir nenhum estudo do género a nível mundial. Igualmente inovadora é outra experiência em curso, que recorre a câmaras térmicas, em vez dos instrumentos mais clássicos, como medida de avaliação da resposta genital, que permitem estudar a alteração da temperatura ao nível dos órgãos genitais. “Fomos o primeiro laboratório em Portugal” a fazer esta experiência.

O que é que a comunidade ganha com este conhecimento? “As pessoas em laboratório, com todos os constrangimentos — com instrumentos colocados nos órgãos genitais, investigadores do outro lado sala —, são capazes de ter emoções positivas e pensamentos sexuais que aumentaram a sua resposta sexual”, diz. “Logo, é muito provável que, na vida real, numa relação com outra pessoa, os pensamentos sexuais e eróticos sejam o que mais pode melhorar o prazer sexual”. A resposta sexual não se limita à erecção/lubrificação no homem e na mulher. É muito mais do que isso; também envolve uma componente emocional importante. Os investigadores estudam, assim, as emoções dos participantes quando estão a visualizar filmes com conteúdo erótico. A ideia é perceber que tipo de pensamentos a pessoa teve durante as experiências, os filmes que viu e como esses pensamentos e emoções interferem na sua resposta sexual.

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