O Maria Pia diz que está a ser empurrado para fora de casa. Para o basquetebol dar lugar ao futsal

Clube de basquetebol da Graça acusa a junta de São Vicente de estar a empurrá-lo para fora do pavilhão, onde treina há vários anos, para favorecer uma escolinha de futsal. Junta diz que não fecha as portas aos clubes da freguesia e o espaço não tem regime de "exclusividade".

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O Maria Pia não aceita os novos horários que foram propostos pela junta Mário Lopes Pereira
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O Maria Pia Sport Clube está quase a entrar no restrito clube das colectividades centenárias da cidade. Ali, na Graça, as bancadas do Pavilhão Municipal Manuel Castelbranco, onde se costumam driblar bolas laranjas e onde se repetem lançamentos ao cesto, encheram-se, na noite de quinta-feira, com "a família do Maria Pia". Mas, desta vez, não foi para gritar pelos jogadores da casa. Atletas, pais e apoiantes do clube, reuniram-se para exigir explicações à junta de freguesia de São Vicente que acusam de estar a empurrá-los para fora daquele equipamento desportivo onde treinam há vários anos. 

Queixam-se de que têm cada vez menos horas disponíveis para treinar no espaço e acusam a junta de estar a transformar o pavilhão, construído para ser dedicado à prática do basquetebol, num campo de futsal em favor de um outro clube da freguesia, o Desportivo da Graça. 

A gota de água, diz o director desportivo do clube, António Silva, foi na quarta-feira quando uma das equipas chegou para treinar e se deparou com as marcações de um campo de futsal e com balizas colocadas debaixo das tabelas, sem ter sido feito qualquer aviso. 

Por isso, convocou um protesto, entre grupos nas redes sociais e passa a palavra. Expectantes e revoltados, os membros do clube esperavam por ouvir as justificações da junta de São Vicente, que já durante a tarde, tinha emitido um comunicado através da página de Facebook.

Presente para esclarecer os munícipes, o responsável pela pasta do Desporto, Afonso Dias, encarou o facto de estarem balizas debaixo das tabelas, que impediam a prática do basquetebol, como um “mal-entendido”. E refutou todas as críticas feitas pela população, considerando que o pavilhão não é direccionado exclusivamente nem para o basquetebol, nem para o futsal. Assim como não é exclusivo para nenhum clube, considerou. 

“Não é justo que para um grupo como o Desportivo da Graça, que tem 60 jovens a praticar desporto, que a junta, tendo essa capacidade, não lhes ceda um espaço”, referiu ao PÚBLICO Afonso Dias. 

“Não é nada contra o Clube Desportivo da Graça”, repetiam os responsáveis do clube, assim como os apoiantes que acusavam o executivo de de estar a “abrir as portas, mais uma vez, ao futebol”.  

A negociação "não está fechada"

A escolinha de futsal deste clube foi criada no ano passado, altura em que foi pedido à junta de freguesia a ocupação durante dois dias do pavilhão. Só que as inscrições foram aumentando, logo a necessidade de ter mais horários disponíveis para treinos também cresceu.  

Assim sendo, a junta optou por estabelecer uma “mancha de ocupação” para o pavilhão, que não terá agradado nem ao Maria Pia, nem ao Graça, disse o responsável pela pasta do Desporto. 

Nos novos horários, o Maria Pia, que tem sete equipas e cerca de 70 atletas, reclama ter ficado sem o “horário nobre” de utilização do espaço (das 19h às 21h) e diz que os treinos das suas equipas foram empurrados para lá desta hora, terminando muito tarde para crianças e jovens que têm aulas no dia seguinte.

“Nós temos atletas que estão a abandonar o clube para outras equipas porque os treinos são até mais tarde do que deveriam ser. Eu entendo que se possa contemplar algum espaço para outra colectividade, mas é importante que o Maria Pia não saia prejudicado”, atirou António Silva. 

A junta, porém, afirma que o que estava acordado era que, com o início da época, os treinos “iam ser iniciados com a mancha que existia” e que, se iam fazendo ajustes até “satisfazer as três partes”. 

“Não queremos de maneira alguma expulsar o Maria Pia e estamos a tentar defender os interesses de todos. Mas tem sido difícil quando as pessoas interrompem as negociações”, referiu Afonso Dias, admitindo que o director desportivo do clube teria faltado a uma reunião. António Silva rapidamente respondeu, dizendo que tinha falhado a reunião porque estava doente. Mais, o responsável do clube admitia que a “negociação não está fechada” porque lhe pediam a utilização do pavilhão, por parte do Desportivo da Graça, “três, quatro dias, por semana, até as 21h”. “E isso é incomportável”, notou. 

“Nós também temos de privar o Maria Pia de alguns espaços porque há outras entidades da freguesia que têm tanto direito ao pavilhão como tem o Maria Pia e o Desportivo da Graça. Mas não está a haver esse entendimento e essa compreensão”, retorquiu Afonso Dias. 

O autarca adiantou que já foram iniciadas “negociações” com a escola Gil Vicente, onde o Maria Pia já treina, no sentido de conseguir mais espaços de ocupação para o clube. Esses custos serão assumidos pela junta, que deixa também a garantia de que o histórico clube da Graça não vai sair daquele espaço. 

Quanto às balizas do campo de futsal, o autarca garantiu que foi “condição” da junta que as balizas fosse amovíveis, reiterando que “ será encontrada uma solução”, para que aquelas estruturas não ocupem espaço próximo ao terreno de jogo. 

De candeias às avessas desde as autárquicas

A relação entre a junta e o clube começou a azedar há quatro anos quando Paulo Quadrado (PSD), presidente do clube e que era também o autarca da junta de São Vicente, perdeu as eleições para Natalina Moura (PS). A partir daí, o clube queixa-se de que o executivo o quer pôr fora do pavilhão “por haver uma pessoa que não é da cor do executivo”.

Paulo Quadrado, que é também presidente da assembleia de freguesia e candidato à junta nestas autárquicas, esteve no protesto, onde referiu ter estado afastado do clube “alguns anos”. 

Questionado pelo PÚBLICO sobre se esta teia de relações do presidente do clube põe em causa as suas reivindicações, António Silva referiu desconhecer que Paulo Quadrado ia estar presente neste protesto, repetindo que o mesmo tem estado “afastado” do clube. “Não queremos fazer disto uma guerra política”, sublinhou. Já a junta, por Afonso Dias, fala de aproveitamento político” por parte do candidato da oposição.

Num gesto de apoio, estiveram presentes antigos jogadores do Maria Pia que hoje são referência no basquetebol em Portugal. Entre eles, Sérgio Ramos, treinador adjunto da selecção nacional e Carlos Andrade, jogador do Benfica. 

“Eu vivia em Chelas, tinha tudo para dar errado. Pagaram-me a escola, livros, explicações. Castigaram-me quando tinha negativas e tiravam-me o que mais gostava de fazer”, contou Carlos ao PÚBLICO, reiterando o apoio ao clube que lhe “mudou por completo” a vida.

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