Outras batalhas que vão contar na noite eleitoral

O que se pode esperar de concelhos como Coimbra, Gondomar, Vila do Conde, Oeiras, Faro, Sintra, Covilhã e Matosinhos? Antecipamos alguns cenários para domingo.

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Campanha está ao rubro em alguns concelhos LUSA/NUNO VEIGA

Coimbra

Banzai pelo aeroporto?

Coimbra já tem uma “geringonça” a funcionar desde 2013. A CDU, que tradicionalmente elege um vereador e que na primeira fase da presidência de Manuel Machado (1990-2001) lhe garantia a oposição mais aguerrida, recebeu um pelouro em 2013 e deu ao autarca socialista o voto de que necessitava para governar. A solução não terá feito muito pela força eleitoral nem do PS nem da CDU. Quase todas as sondagens dão vitória sem maioria a Machado e um vereador, no máximo aos comunistas, que mantêm a aposta em Francisco Queirós. Rival político de Machado desde os anos em que com ele coabitou como governador civil, o social-democrata Jaime Ramos, da coligação PSD/CDS/MPT/PPM, surge em segundo lugar nas sondagens, numa curta distância. Coimbra tem duas candidaturas independentes: o ex-bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, estreia-se nas lides autárquicas; e o antigo vereador da CDU, Gouveia Monteiro, é o candidato dos Cidadãos Por Coimbra, que elegeram um vereador em 2013 e que se dividiram agora, com a entrada em cena de José Manuel Silva. A campanha de Coimbra ficou marcada pela polémica promessa de Machado quanto ao aeroporto. Muitos acharam que o autarca apontou alto de mais na promessa, descredibilizando-se; outros que apenas escolheu mal o momento e a forma de apresentar um objectivo antigo da cidade.

Gondomar

Para onde pende o coração?

Num dos concelhos mais populosos do Grande Porto, o actual presidente da câmara Marco Martins, garante que, com ele, “Gondomar tem mais futuro”, mas nestas eleições, e ao contrário do que aconteceu há quatro anos, há uma sombra do passado que pode baralhar as contas. Depois de ter conseguido 46,41% dos votos e sete em 11 mandatos, o socialista volta a pedir uma “grande maioria” mas, nas ruas, Valentim Loureiro anda a dizer que “O presidente” - ele próprio, que lá esteve 20 anos - ”está de volta”, e ainda por cima com “Coração de Ouro”. O independente e ex-PSD vê o seu antigo partido a candidatar, em coligação com o CDS/PP, um seu antigo adjunto, Rafael Amorim, que também diz ter “Gondomar no Coração”. Já a CDU espera “Que seja agora” que o seu trabalho à frente da união de freguesias de São Pedro da Cova e Fânzeres - onde foi buscar o seu candidato, Daniel Vieira - convença mais eleitores neste concelho no qual tem conseguido votos para um vereador. Os comunistas pretendem ter um papel relevante na governação de um município para o qual o Bloco de Esquerda apostou em Rui Nóvoa, para tentar dar “Mais Força para [o BE em] Gondomar”. Abel Coentrão

Vila do Conde

Adeus, PS?

Mais do que grandes propostas para o futuro do município, o que se quer ver em Vila do Conde, na noite eleitoral, é se, como esperado, o PS perde pela primeira vez desde as eleições autárquicas de 1976 a presidência da autarquia. Se se confirmar a vitória de Elisa Ferraz, o nome de quem preside ao município até nem vai mudar, mas já não será de PS que se fala, uma vez que a independente que, em 2013, liderou a lista pelos socialistas, zangou-se com as estruturas do partido e decidiu avançar sozinha, à frente do movimento NAU (Nós Avançamos Unidos). Consigo leva a actual vereadora da Educação, Lurdes Alves, e no outro lado do ringue vai encontrar o resto da sua vereação actual – António Caetano, vice-presidente de Elisa Ferraz, é o cabeça-de-cartaz do PS numa lista em que estão também os dois outros vereadores do PS no executivo ainda em funções: Aurélio Silva e Pedro Aragão. O PSD concorre coligado com o CDS (Mais Vila do Conde), apresentando Constantino Silva, o 2.º vereador social-democrata do executivo, como cabeça-de-lista, depois de Miguel Paiva ter dito que não queria concorrer. Em busca de um lugar na vereação estão também o comunista Pedro Martins e o bloquista António Louro Miguel. Criticada pela oposição pelo fraco investimento e as assimetrias que persistem no concelho, Elisa Ferraz tem para apresentar em sua defesa o facto de ter conseguido retirar o município do PAEL - Programa de Apoio à Economia Local, o que permitirá avançar com investimento no próximo mandato. Patrícia Carvalho

Oeiras

O concelho das famílias desavindas

Oeiras não é o único concelho do país com várias candidaturas oriundas do mesmo espaço político a concorrerem entre si, mas é um dos mais emblemáticos e que pode ter resultados inesperados. Isaltino Morais, que dirigiu a câmara durante mais de duas décadas com o apoio do PSD (e sem ele), tem do outro lado candidatos que podiam muito bem ir na sua lista, se um sem número de ses não tivesse existido. Se Marques Mendes nuca tivesse tirado a confiança política a autarcas sob investigação. Se Isaltino não tivesse passado mais de 400 dias preso depois das eleições de 2013. Se Paulo Vistas (seu antigo número dois) não tivesse assumido a presidência em da câmara. Se Vistas não se tivesse emancipado em relação a Isaltino, tomando contra do seu antigo movimento de independentes. Se Sónia Gonçalves (outra candidata) não tivesse quebrado o laço que a tornou deputada municipal em 2013, eleita nas listas de Isaltino. Se Ângelo Pereira tivesse deixado o PSD com Isaltino Morais ou Paulo Vistas, de quem é vereador com pelouros. Se nada disto tivesse acontecido, provavelmente Oeiras teria um bloco de direita contra José Raposo (PS), Heloísa Apolónia (CDU), Miguel Pinto (BE) e outros candidatos mais pequenos como Pedro Torres (PAN), Safaa Dib (Livre), Isabel Sande e Castro (Nós, Cidadãos!), Pedro Perestrello (PNR), André Madaleno (PTP) e Alda Gameiro (PCTP/MRPP). Resta saber se o vencedor seria o mesmo. No total, a corrida à Câmara de Oeiras conta com 13 adversários. Sónia Sapage

Faro

Baloiçando entre PSD e PS

O eleitorado de Faro costuma ser pouco “fiel” nas autárquicas. Desde o 25 de Abril, só um presidente de câmara, João Botelheiro (PS), renovou o mandato (mas não chegou ao fim da segunda legislatura). Assim, caso o social-democrata Rogério Bacalhau venha a ser reeleito, apoiado por uma coligação de direita, procurará puxar pelos galões, afirmando a capitalidade regional do concelho. Por conseguinte, a leitura nacional dos resultados de domingo passará, também, pela capital algarvia, com óbvias repercussões para dentro e fora do PSD. Do lado do PS, a candidatura é protagonizada pelo deputado António Eusébio, líder do PS/Algarve, acompanhado, na recandidatura a presidente da Assembleia Municipal, pelo secretário de Estado das Pescas, José Apolinário. Os socialistas transportam consigo a simpatia pela “geringonça”, mas no poder local CDU e o Bloco concorrem, cada qual por seu lado, a marcar o terreno para as legislativas de 2019. A média da diferença ente a vitória e a derrota, entre PS e o PSD, tem variado ente os 300 e os 400 votos. Em 2013 o PSD ganhou ao PS por 395 votos, mas as eleições de 2009 foram ainda mais disputadas. Macário Correia, do PSD, derrotou José Apolinário apenas por 130 votos, quando o socialista tentava ser reeleito. Idálio Revez

Sintra

Round 2: poderá Basílio deixar Marco KO?

Passaram quatro anos, os protagonistas são quase os mesmos, mas o duelo em Sintra não se adivinha tão renhido como o de 2013. Se nas últimas autárquicas o candidato socialista, Basílio Horta, venceu o então independente Marco Almeida por menos de dois mil votos, agora pode estar mais próximo de uma vitória com maioria absoluta. O combate a dois repete-se, mas se nesse primeiro round Almeida avançou sem o apoio da coligação PSD/CDS/MPT, agora regressa com voto de confiança de sociais-democratas e centristas, depois de ter conseguido o dobro dos votos do candidato do PSD, em 2013. Só que as sondagens mais recentes apontam para a consolidação da liderança socialista, conseguida há quatro anos, depois de 12 anos de gestão social-democrata com Fernando Seara à frente da autarquia, na qual Marco Almeida era número dois. A confirmarem-se as previsões, o PS poderá eleger seis vereadores (elegeu quatro em 2013) - entre eles Ana Duarte, mulher e ex-vereadora de Seara -, o que lhe daria a maioria absoluta. Já Marco Almeida deverá repetir os resultados das últimas eleições, garantindo quatro vereadores. Numa corrida com dez candidatos, a CDU continua na luta por manter Pedro Ventura. E o Bloco de Esquerda, com Carlos Carujo, luta por eleger um. Caso isso aconteça, a maioria absoluta de Basílio Horta pode estar em risco. Cristiana Faria Moreira

Covilhã

A campanha onde tudo aconteceu

Na Covilhã, houve de tudo: começou com uma dissidência no PSD: o ex-autarca Carlos Pinto quis regressar, mas o partido já tinha outro nome - Marco Batista. E o CDS, vendo uma oportunidade, candidatou um vice-presidente, jovem e com visibilidade Adolfo Mesquita Nunes, o ex-secretário de Estado do Turismo. No PS as contas eram mais fáceis: eleito pela primeira vez há quatro anos, Vítor Pereira lançou-se a uma renovação e votos, à procura de uma maioria. Mas houve de tudo, incluindo acusações de xenofobia. Num debate numa rádio local, uma presidente de junta imitou o sotaque de um rival, ex-emigrante e candidato centrista, e questionou a sua presença na aldeia: "Não estou apojada em ninguém. Podia estar apoiada. É bom que esse português melhore senão na Barroca Grande ninguém 'vai o' entender”. O CDS pediu contas aos socialistas e ganhou um palco. À direita, foi como em Lisboa: houve pouco PSD (mas mais adversários). Mas houve mais: até uma interrupção na campanha, devido à morte de um candidato (das listas da CDU). E a interrupção de um debate, devido a uma cãibra de um candidato. João Corono, do BE, acabou socorrido pelo adversário Carlos Pinto, que o massajou. O que vale a experiência, é o que vamos saber domingo. David Dinis

Matosinhos

A lota é uma lotaria para o PS

Em Matosinhos saiu a lotaria ao PS: nesta terra de pescadores, parece que tudo o que vem à rede é voto para o partido. E há este paradoxo: quanto mais o PS se balcaniza, mais esmaga a direita. A distrital liderada por Manuel Pizarro recusou a escolha da concelhia e impôs Luísa Salgueiro como candidata. É a vencedora provável, seguida por Narciso Miranda (independente que liderou a câmara durante 29 anos pelo PS) e por António Parada (o candidato oficial do PS que perdeu, em 2013, para o dissidente Guilherme Pinto, entretanto falecido, e que se candidata como independente com apoio do CDS) Narciso e Parada parecem ter uma força equivalente à de Salgueiro. O PSD, que apostou no médico Jorge Magalhães, arrisca novo mínimo histórico e empatar com a CDU em número de vereadores — um. Álvaro Vieira

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