Pizarro não fecha a porta a uma nova coligação com Moreira

Manuel Pizarro, Ilda Figueiredo e Álvaro Almeida debateram as suas propostas para o Porto cara-a-cara. João Teixeira Lopes entrou na discussão via satélite, a partir da Grécia. O caso Selminho esteve sempre presente, apesar de Rui Moreira não estar lá.

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O debate desta noite foi o primeiro no Porto

Manuel Pizarro não fecha completamente a porta a uma nova coligação com Rui Moreira, caso o candidato independente não vença as eleições autárquicas do dia 1 de Outubro por maioria absoluta. No primeiro debate da TVI sobre as eleições autárquicas dedicadas ao Porto, ao qual faltou Rui Moreira, que à mesma hora assistia ao jogo da selecção com as Ilhas Faroé, Manuel Pizarro disse contudo que “não haverá um acordo nas mesmas condições” em que foi feito o entendimento político que o PS celebrou há quatro anos com Rui Moreira e que garantiu a governação da cidade.

As primeiras palavras dos candidatos, ainda antes de o debate começar, logo fizeram antever o que seria a hora seguinte: (quase) todos a apontarem baterias a quem era para se ter sentado na cadeira vazia. A Rui Moreira, mas também a Manuel Pizarro, que logo numa das intervenções iniciais deixou cair a ideia de que aceitaria coligar-se de novo com o independente e concluiu: “A coligação resultou bem em 2013”.

No início do debate, via satélite, João Teixeira Lopes fez questão de deixar um apelo a Moreira. “Venha prestar contas e esclarecimentos sobre o caso Selminho”, disse. A seguir, acusou-o de “sendo monárquico” não gostar da república e “sendo conservador” não gostar do 25 de Abril. Já Ilda Figueiredo, da CDU, lamentou a falta de respeito do actual presidente pelos portuenses e pelas forças políticas que o representam.

Na ausência de Rui Moreira, Manuel Pizarro acabou por ser saco de pancada. O candidato do PS foi especialmente atacado pelo candidato bloquista. João Teixeira Lopes fez contas e disse, por exemplo, que Moreira tinha posto em prática 87% do programa do PS. “Pizarro esteve em pacto de silêncio com Rui Moreira”, disse depois a propósito do caso Selminho.

Neste capítulo, a comunista disse que esse caso não está encerrado para a CDU, revelando mesmo que pode ser aberto a qualquer momento. “O dr. Rui Moreira não podia ter feito o que fez”, afirmou a candidata, citando um documento do tribunal. “O que depois [o tribunal] considera é que até ao momento ele não ganhou com isso. Mas o processo pode ser reaberto se dali resultar algum benefício para Rui Moreira ou a família”. Ilda Figueiredo recordou que a CDU tentou na câmara e na assembleia que este processo fosse clarificado, o que ainda não aconteceu.

“Nós não achamos que esta questão é de ilício criminal. Achamos que é uma questão de ética”, comentou por sua vez João Teixeira Lopes, que defendeu a nulidade do processo e das decisões. “Aquele terreno valia zero, porque não era possível edificar. Com as promessas que foram feitas, e com a indemnização que sobre ele pende, o terreno vale hoje dez milhões de euros. É evidente que temos de ouvir Rui Moreira acerca disto”, acrescentou.

Chamado ao debate sobre a mesma questão, Manuel Pizarro disse ter confiança “na equipa técnica que geria a revisão do Plano Director Municipal” e fazia “a análise técnica à capacidade construtiva” dos terrenos da Selminho, que ficam na encosta do Douro. Até agora, assumiu, “não vi nenhum relatório que impedisse a construção”.

O independente que se candidata pela coligação PSD/PPM, Álvaro Almeida, pouco falou no caso Selminho (falou pouco, em geral), mas considerou que é um processo que “mostra desrespeito pelos cidadãos do Porto”, apesar de ainda não implicar perda de mandato. “Era ético que o candidato à Câmara do Porto declarasse esse conflito de interesses”, quando se candidatou há quatro anos, defendeu.

Álvaro Almeida nem por um instante deixou, contudo, que se instalasse a confusão sobre a sua filiação. “Não sou do PSD”, repetiu. “A tentativa de colar o PSD a este executivo é disparatada”, esclareceu depois, defendendo-se dos ataques de que o PSD fez o jogo do actual presidente. “Não vale a pena votar no PSD, disse, por seu lado, Ilda Figueiredo. “Porque depois os vereadores fazem aquilo que Moreira quer”.

Foi quando o jornalista Pedro Pinto, que conduziu a entrevista, lhe perguntou sobre as suas propostas para a cidade que Álvaro Almeida mais falou. Prometeu, por exemplo, devolver metade do IRS aos portuenses e disse que “é um erro pensar que o Porto é o centro histórico”. Também criticou a promoção da especulação imobiliária e aí teve a concordância de Ilda Figueiredo.

A comunista considerou que os últimos anos foram trágicos para o Porto, com a “perda enorme de população” que aconteceu. “Não basta ter casas. É preciso que as populações possam viver nelas”, disse, insistindo na reabilitação urbana como prioridade, mas não para insistir na especulação.

“Rui Moreira e Manuel Pizarro transformaram boa parte da cidade numa banca de negócios”, disse João Teixeira Lopes em jeito de quem tira uma conclusão sobre o mandato em que o PS apoiou o independente na presidência. O bloquista sugeriu ainda que o “turismo hoteleiro tem de ser taxado”. Ignorando a crítica de Teixeira Lopes, Manuel Pizarro concordar que a ideia de que “reabilitar o edificado é melhor do que construir novo”.

No final do debate, Pedro Pinto pediu as primeiras medidas de cada um. No caso de Pizarro, foram indicadas duas: resolver o problema do lixo urbano e criar condições para promover o mercado de renda acessível. Reter a população do Porto que tem abandonado a cidade a ritmos insustentáveis (reduzindo o IRS) e eliminar parquímetros em zonas residenciais, foram as medidas enunciadas por Álvaro Almeida. João Teixeira Lopes anunciou a habitação, os transportes e o apoio aos idosos como prioridades. Dar resposta às mil famílias que estão à espera de casa seria a sua primeira medida como presidente. A última a falar foi Ilda Figueiredo que disse desejar que o Porto seja uma cidade solidária, com rendas mais baixas para quem não pode pagar muito. Falou ainda em remunicipalizar serviços como a limpeza urbana e os parcómetros, anulando outras empresas municipais. Com Sónia Sapage

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