J. K. Rowling confirma ter-se inspirado em Salazar para dar nome a personagem da saga Harry Potter

A escritora britânica referiu no Twitter a relação entre o ditador português e o nome de Salazar Slytherin, o mais impiedoso e cruel dos quatro fundadores de Hogwarts.

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Suzanne Plunkett/Reuters

O período que J. K. Rowling passou a dar aulas de inglês no Porto, entre 1991 e 1992, foi de curta duração, mas marcou para sempre a literatura mundial ao servir de inspiração para a saga Harry Potter. Da arquitectura neogótica da livraria Lello ao traje académico portuense, são diversas as camadas de influência lusa na saga sobre o feiticeiro mais famoso do mundo. Desta vez, J. K. Rowling confirmou no Twitter uma teoria que há muito vinha sendo discutida entre os fãs – a de que o nome de Salazar Slytherin, um dos quatro fundadores da Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts, havia sido inspirado no nome de António de Oliveira Salazar. “De facto, fui buscar o nome [de Slytherin] ao ditador português”, respondeu a escritora, quando questionada por uma fã sobre a relação do nome daquela personagem com os tempos vividos em Portugal.

No universo Harry Potter, Salazar Slytherin é um dos quatro fundadores medievais de Hogwarts, a par de Godric Gryffindor, Helga Hufflepuff e Rowena Ravenclaw. Slytherin era um feiticeiro de sangue puro e sedento de poder que defendia que Hogwarts não deveria aceitar estudantes que não fossem, eles próprios, filhos de feiticeiros. Seleccionava, por isso, os seus alunos de acordo com o seu estatuto de sangue, a sua ambição e a sua inventividade para fugir às regras. Slytherin possuía, ainda, a rara habilidade de falar com serpentes, sendo esse o animal que representa a sua casa em Hogwarts. O antagonista da saga, Voldemort, não só tem a capacidade de comunicar com as serpentes, como partilha dos seus ideais racistas de sangue puro que servem de mote à grande luta do bem contra o mal que move a trama.

Não é descabido que J. K. Rowling se tenha inspirado em Salazar para dar nome a uma personagem tão impiedosa como Slytherin, já que o ditador manteve mão de ferro sobre Portugal durante 44 anos, isolando-o do resto do mundo, reprimindo com a tortura, a prisão e o exílio opositores do regime e procurando manter a juventude do país vinculada a uma cartilha ideológica assente no tripé “Deus, Pátria, Família”, nomeadamente com a criação da Mocidade Portuguesa. A escritora britânica terá naturalmente contactado com as memórias desta figura incontornável do século XX português nos anos em que leccionou na Encounter English, período durante o qual terá frequentado não só a Livraria Lello, mas também lugares como o Café Majestic, a discoteca Swing e os Jardins do Palácio de Cristal.

O Porto continua a ser quase um ponto de peregrinação para os devotos da saga, cujos sete volumes publicados entre 1997 e 2007 venderam mais de 450 milhões de exemplares e estão traduzidos em mais de 79 línguas. Recentemente, a peça de teatro baseada na oitava história criada por Rowling, Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, bateu um recorde ao arrecadar nove prémios nos Olivier Awards (equivalente britânico aos Tony Awards). Em Portugal, a história continua viva em palco: a 20 de Maio, um conjunto de 90 músicos da Orquestra Filarmónica das Beiras interpretará na totalidade a banda sonora de Harry Potter e a Pedra Filosofal, de John Williams, no Meo Arena, em Lisboa.

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