Cada voto conta mas há canetas que os fazem desaparecer

PCP juntou os seus candidatos e eleitos para falar sobre a estratégia no terreno para as autárquicas de 1 de Outubro. A cartilha está lida e a campanha quase na rua.

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dro Daniel Rocha

Há truques, muitos truques para fazer desaparecer votos ou fazê-los aparecer. Acompanhar os velhinhos do lar, trocar as canetas na câmara de voto por umas com tinta que desaparece ao fim de umas horas, levar o boletim de voto para a família e os amigos, contar os votos com a caneta na mão, anular votos porque a perninha inferior esquerda está fora do quadrado apesar de ser clara a intenção de voto, colocar o presidente da câmara ou da junta à porta do local de voto, dar boleias constantes aos vizinhos mais idosos – “criatividade e imaginação não faltam” pelo país em dia de eleições, veio avisar Margarida Guerreiro, militante comunista de Aveiro.

E tudo isto somado, nas freguesias e nos 308 concelhos do país, dá muitos votos perdidos para uns e ganhos para outros. “Por um voto se perde, por um voto se elege”, avisou, recordando o caso de uma freguesia em Aveiro, em 2013, em que por mais dois votos a CDU teria um eleito na Assembleia de Freguesia, algo que não acontece desde 1993. A solução? Apostar na formação dos delegados às mesas de voto, torná-los mais atentos e aguçar o sentido da fiscalização.

Margarida Guerreiro foi uma das dezenas de militantes que ontem subiram ao palco da Aula Magna, em Lisboa, no encontro nacional do PCP sobre as eleições autárquicas, onde se falou sobre estratégias e prioridades de campanha, financiamento, descentralização, assimetrias regionais, gestão autárquica, relação com os eleitores e com os munícipes e até dificuldades de ser comunista em regiões de tradição de direita. Desfilaram eleitos e candidatos – incluindo Bernardino Soares (Loures), Ilda Figueiredo (Porto) e João Ferreira (Lisboa) – e discursou Jerónimo de Sousa.

Carlos Gonçalves, do Comité Central (CC), deixou as directrizes para a propaganda: a presença dos cartazes da CDU será progressiva, começando com o 25 de Abril e o 1º de Maio – ocasiões ímpares para agregar militantes e simpatizantes –, e em Julho virão os outdoors em força, “equilibrando sempre a mensagem autárquica com a nacional”; no site do PCP e da CDU e nas redes sociais, “mais do que a fulanização, importa relevar o símbolo e o grafismo PCP-PEV [a foice e o girassol]”.

Ao contrário do PS, PSD e CDS que contratam empresas, o trabalho na CDU tem a “grande vantagem” de ser feito pelos militantes, lembrou Margarida Botelho, da Comissão Política do CC. A estratégia é clara: estes devem “tirar o tempo que a lei permite para a campanha e ajudar no mês antes das eleições”, ajudar a organizar acções, usar o autocolante, promover reuniões ou encontros com candidatos. Ir a todas as ruas, a todas as lojas, ouvir toda a gente – haveria de insistir também o dirigente Armindo Miranda.

Regina Janeiro, vereadora no Barreiro há 12 anos e que desta vez se estreia como candidata à presidência mas da Câmara de Vila Franca de Xira - onde foi deputada municipal entre 1993 e 1997 -, disse ao PÚBLICO que se tem notado um reforço desta estratégia de uma maior ligação à população, seja nas campanhas ou depois de eleitos. "Participação, participação, participação - de ambos os lados, não só na construção do programa eleitoral para cada município mas depois na concretização. Com o aumento da abstenção, o afastamento  e o desacreditar das pessoas na política é cada vez mais importante essa estratégia da proximidade", conta a comunista que até com os padres todos do concelho se reúne. "Temos que ir mais ao terreno para que as pessoas sintam que estão no centro da decisão."

“A CDU tem trabalho feito. Mas o trabalho não fala por si – temos de ser nós a falar da obra.” E não é só falar – é também “ouvir muito para intervir com acerto”, precisou Margarida Botelho. O momento da apresentação deve ser “cuidadosamente escolhido” – “atenção ao calendário escolar e às férias” – e depois manter uma “programação que lhe dê sequência”, indo às “festas populares e todos os convívios”, defendeu a dirigente comunista. A mobilização para Festa do Avante! é fundamental, ouviu-se todo o dia. “Temos que preparar a intervenção de domingo como o maior momento de massas da campanha”, avisou Margarida Botelho. E sem esquecer, claro, de, na rua, “divulgar os elementos distintivos” em relação às outras candidaturas, “em especial ao PS”.

Sim, porque apesar do apoio no Parlamento, nas autárquicas os socialistas são tão concorrentes como PSD, CDS ou BE, avisara Jorge Cordeiro no arranque do encontro. “Andam para aí uns, o PS mais em particular, procurando usar como pretexto o quadro político nacional para ver se a CDU lhe emprestaria a credibilidade autárquica que não têm. (…) Que ninguém se iluda.”

Mas como financiar tudo isto? Aumentando as quotizações, pedindo a contribuição financeira dos militantes e simpatizantes – é normal a recolha de envelopes com donativos nos comícios –, e diminuindo os custos. “É preciso que cada despesa tenha previamente garantida a correspondente receita”, realçou. Manuela Ângelo, do Comité Central.

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