Até domingo, na Alfândega, as obras de arte estão expostas na pele

A 3ª edição da convenção Oporto Tattoo espera receber até domingo mais de 10 mil pessoas. A organização diz que o evento cresceu e por isso muda-se de Gondomar para a Alfândega do Porto, onde estão mais de 350 tatuadores de todo o mundo.

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Sentada numa chaise-longue, tranquila e serena com a descontração de quem conta as horas numa esplanada, está Joana Matias. Há naquele momento agulhas a perfurarem-lhe a pele da perna, esboçando os contornos de mais uma decisão definitiva que tomou em forma de desenho. Poucos minutos passaram desde o início da 3ª edição da convenção de tatuagens Oporto Tattoo, que começou esta sexta-feira e decorre até domingo, pela primeira vez no Centro de Congressos da Alfândega do Porto, para onde se mudou depois de duas edições no Pavilhão Multiusos de Gondomar, e em todo o recinto as máquinas dos cerca de 350 tatuadores já trabalham. Até ao último dia, a organização, que diz ser esta a maior convenção do género em Portugal, espera superar as 10 mil entradas que registou no ano passado.

É a primeira vez que Joana visita a convenção. Aos 20 anos está a fazer a sétima tatuagem, uma das maiores. É resistente à dor, diz-nos. A que está a fazer ainda está no início e até ao momento ainda não deu para “vacilar”. Está no Oporto Tattoo para ser tatuada, mas também a trabalhar numa banca de materiais e produtos relacionados com a arte de tatuar. Outro motivo para a visita é conhecer técnicas de profissionais que chegam de todo o mundo para alargar o conhecimento de quem também começou há um ano a “desenhar” no corpo de outras pessoas. Foi por aí que se iniciou, pelo desenho. Tendo consciência de que o fazia bem e incentivada pela mãe aventurou-se noutro tipo de telas, “as humanas”.      

Quem a tatua é Rob Furtado, um “falso brasileiro”, diz. Nasceu em São Paulo, mas o pai é dos Açores e a mãe do Algarve. Está em Portugal há 20 anos, mas o sotaque conserva o do berço. Na perna de Joana, está a tatuar uma cara, embora estilizada e mais surrealista. É uma “peça de vanguarda” e de sua autoria, diz-nos. Neste caso, a “tela” confiou o conceito do desenho ao tatuador.

Esteve em todas as edições da convenção, que diz ser a maior e a que mais continua a crescer a nível nacional. Tatua um pouco de todos os géneros, mas é com cores que gosta de trabalhar. Motivo para ter participado em todas as edições é o intercâmbio que diz existir durante os dias do evento que recebe profissionais de todo o mundo. “É um ambiente de bom convívio e que potencia a troca de ideias”, afirma. 

A convenção serve também para “arriscar” e funciona como laboratório. É aqui que diz experimentar e aproveitar para “fugir” aos trabalhos mais convencionais que vai fazendo no estúdio do qual é proprietário. Por isso mesmo, e à imagem do que aconteceu nos outros anos, prefere tatuar menos, mas obras maiores, que por sua vez dão mais trabalho. Nas edições anteriores optou por fazer “apenas” três tatuagens, embora fosse impossível fazer mais do que isso porque em cada uma pode perder mais de oito horas. Antes do início da convenção já tem as marcações feitas. Desta vez vai tatuar dois grandes trabalhos já marcados e vai reservar o dia de sábado para pequenas tatuagens que os visitantes lhe peçam no momento.

No recinto, os stands, 177, de acordo com a organização, estão marcados com as bandeiras de onde os mais de 350 tatuadores (cada banca conta pelo menos com dois) vêm. Austrália, Estados Unidos, Bulgária, Colômbia, Hungria, Rússia, Espanha, com a segunda maior delegação (80 tatuadores) a seguir a Portugal (150), ou Brasil, a terceira com maior representação (30), são exemplos dos países de origem dos artistas. Além dos stands de tatuagens há 3 palcos com música, que durante o evento vão ser ocupados por dez bandas. Há ainda uma área de alimentação e bancas de venda de merchandising. Em todo o recinto há animação, com números de magia de proximidade, malabarismo, entre outros. O público é heterogéneo. Há quem visite sozinho, mas há também famílias que passeiam no espaço.

De resto, foi esta franja do público que até ao momento mais prendeu a atenção de Miguel Angel, do México. Está com Luna Anunnaki a fazer uma tourné pelas convenções europeias e até chegar ao Porto passou por Dublin e Helsínquia. Na Irlanda já tinha acontecido o mesmo, mas cá diz assistir com curiosidade ainda a um maior número de famílias que visitam a convenção. Veio preparado e para chegar também aos mais novos trouxe uma série de tatuagens temporárias.

Até domingo, diariamente são distinguidos os melhores trabalhos. De acordo com Ilídio Moreira, da organização, vão ser entregues 72 prémios. São premiadas todos os dias as melhores tatuagens dentro das várias categorias: Black & Grey, Old School, New School, Colour, Oriental, Tribal / Dot work e Portrait. Dentro dos vencedores das categorias é escolhido o melhor daquele dia. No domingo, dos melhores de todos os dias escolhe-se o vencedor da convenção. Para casa, os vencedores levam um troféu e produtos e materiais de trabalho.

Este ano, Ilídio Moreira diz querer bater o record de público das edições anteriores. No primeiro ano, passaram por Gondomar 6 mil pessoas e no anterior chegaram às 10 mil. Nesta edição, e “seguindo a lógica de crescimento” do evento, que motivou a mudança de Gondomar para um espaço maior no Porto, esperam superar o número de entradas, que por dia custam 7,5 euros. Essa é uma meta também de “grande percentagem dos tatuadores que já há 3 anos são fiéis ao evento” e foram pedindo a deslocação da convenção para uma área maior e mais central.

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