Vacinas da hepatite A são só para alguns e vão ser dadas na USF de Martim Moniz

"Comportamentos" que podem explicar transmissão da doença são sexo anal e sexo oro-anal, esclarece director-geral da Saúde

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Marco Duarte

As pessoas que tenham tido contacto com doentes infectados com o vírus da hepatite A ou que tenham comportamentos sexuais que “as coloquem em maior risco” vão poder vacinar-se gratuitamente na Unidade de Saúde Familiar (USF) da Baixa, no Martim Moniz (Lisboa), diz Isabel Aldir, directora do Programa Nacional para as Hepatites Virais da Direcção-Geral da Saúde (DGS). Mas para isso "necessitam de ter uma prescrição médica que identifique esta necessidade”, precisa. Há cerca de sete mil doses disponíveis, segundo o director-geral, Francisco George. 

Dados desta sexta-feira indicam que o surto de hepatite A em Portugal ascendia já a 125 casos (notificados desde Janeiro). São quase todos homens jovens, uma parte são homens que fazem sexo com homens, mas Isabel Aldir faz questão de frisar que este surto não está limitado a este grupo. "O que está aqui em causa são comportamentos de risco, não orientações sexuais", enfatiza.

"Os cidadãos que sejam identificados como beneficiários [da imunização] devem dirigir-se com receita médica [à USF da Baixa]” entre as 14h00 e as 19h00, explicou Isabel Aldir, à saída da reunião que juntou nesta sexta-feira responsáveis da DGS, da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), do Instituto Ricardo Jorge, da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e ainda das associações ILGA (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero) e o Grupo de Activistas em Tratamento (GAT). No encontro estiveram ainda a Liga Portuguesa contra a Sida, a associação Abraço e a Associação de Intervenção Comunitária, Desenvolvimento Social e de Saúde.

A explicitação dos "comportamentos" (a palavra vem substituir a expressão "homens que fazem sexo com homens") que podem conduzir à transmissão da infecção foi afinada num comunicado assinado por Francisco George.  No quadro das investigações e análises realizadas, "está comprovado que os seguintes comportamentos podem explicar a transmissão da doença, quando um dos parceiros está infectado: sexo oral (com ou sem preservativo), sexo oro-anal". Mas são ainda considerados os seguintes "factores associados: sexo anónimo, especialmente se com múltiplos parceiros, sexo praticado em saunas e clubes, entre outros locais", lê-se no comunicado.

Viajantes também em risco

A escolha da USF da baixa da capital para a vacinação tem uma explicação. “A situação é fundamentalmente expressiva na região de Lisboa e Vale do Tejo”, diz Isabel Aldir, que acrescenta que há casos em vários pontos do país, mas em muito menor número. A experiência poderá ser replicada noutros locais, se isso "se revelar necessário".

Além das vacinas, vai estar disponível uma reserva de um tratamento alternativo, a imunoglobulina (anticorpos que protegem as pessoas de uma eventual infecção), até porque, como precisou aquela responsável da DGS, não são apenas as pessoas que estiveram em contacto com os infectados neste surto que necessitam de prevenção. Também os cidadãos que viajam para países onde a hepatite A é endémica (uma das formas de transmissão da infecção é através da ingestão de água ou alimentos contaminados) necessitam de se vacinar ou de beneficiar do outro tratamento preventivo, explicou

A vacina contra ao vírus da hepatite A não integra o Plano Nacional de Vacinação e, para ser comprada nas farmácias, tem que ser prescrita por um médico. O director-geral da Saúde, Francisco George, já tinha pedido que as pessoas não “corram” às farmácias para comprar vacinas e Isabel Aldir aproveita para reforçar esta recomendação.

A infecção pelo vírus da hepatite A transmite-se essencialmente por via fecal-oral nos países onde a doença deixou há décadas de ser endémica, como é o caso de Portugal, mas a transmissão também ocorre através da ingestão de alimentos ou água contaminados ou má higiene das mãos. Portugal é um dos 13 países onde o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças identificou três clusters de hepatite A em Fevereiro.

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