Situação na Venezuela: “Agora são as padarias, depois será outra coisa qualquer”

A região autónoma da Madeira tem uma numerosa comunidade emigrante na Venezuela. Responsável pelo Centro Social das Comunidades Madeirenses diz que portugueses estão "de mãos atadas".

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Pessoas na fila para o pão, em Caracas REUTERS/Carlos Garcia Rawlins

Não são só as padarias. O aviso é de Olavo Manica, ex-emigrante na Venezuela, e agora responsável pelo Centro Social das Comunidades Madeirenses (CSCM), que fala num clima de incerteza generalizado em todos os sectores de actividade naquele país.

A região autónoma da Madeira tem uma numerosa comunidade emigrante na Venezuela e a panificação é, tradicionalmente, uma actividade ligada aos portugueses. É por isso que, nesta "guerra do pão", estes emigrantes têm sido fortemente atingidos. Mas o problema, diz Olavo Manica, não é de agora.

“Já foram os terrenos agrícolas, os supermercados. Agora são as padarias, e depois será outra coisa qualquer”, diz o madeirense, lamentando que os emigrantes estejam “reféns” das políticas do Governo. “Estão de mãos atadas. As padarias são tomadas por grupos de apoiantes do Governo, e os empresários postos na rua sem nada”, descreve Olavo Manica, apontando casos em que os proprietários nem podem levar o dinheiro que está na caixa.

Depois de tomadas, todos perdem, prossegue. Os donos e os clientes. “O pouco pão que é feito não é vendido no local, mas sim levado para zonas mais desfavorecidas controladas pelo Governo.”

Vender tudo e regressar a Portugal ou recomeçar a vida num outro país não é uma solução. A cotação do bolívar face ao dólar é impeditiva para quem quer sair do país. “Teria que vender cinco ou seis casas na Venezuela, para conseguir comprar uma em Portugal”, exemplifica.

Mesmo assim, e de acordo com o gabinete do secretário regional dos Assuntos Parlamentares e Europeus, Sérgio Marques, os regressos da Venezuela têm vindo a crescer. No ano passado, contabilizou a mesma fonte ao PÚBLICO, registou-se um aumento na ordem dos 3%.

Um valor que será superior, e difícil de aferir com precisão. Existem os regressos silenciosos, em que as pessoas não se registam para beneficiar de apoios. Os que usam a ilha como plataforma giratória para emigrar para outro país. E os que cruzam as fronteiras da Venezuela, e recomeçam a vida num estado vizinho, como o Brasil, Colômbia e Panamá.

“Existem famílias separadas. Pais que ficam e mandam os filhos regressarem à espera que as coisas melhorem. Filhos que tentam segurar os negócios, mas insistem para os pais voltarem para a Madeira”, descreve. E insiste: o que está a acontecer na Venezuela não é novo. “É mais um capítulo destas políticas, que têm vindo a seguir um caminho contrário às de outros países.”

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