Curdos que Ancara considera "terroristas" anunciam acordo com russos

As YPG vão receber treino militar de uma unidade enviada por Moscovo. Turquia diz que não quer uma "região de terror" no Norte da Síria.

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Combatentes curdos das YPG no nordeste da Síria Reuters/RODI SAID

A milícia curda que controla parte do norte da Síria revelou ter estabelecido uma parceria com o Exército russo, que deverá passar pelo treino militar de milicianos das YPG. Moscovo não confirmou a aproximação às forças curdas, negando estar a ponderar construir uma nova base militar na Síria.

O porta-voz das Unidades de Protecção Popular (YPG), Redur Xelil, disse que o grupo alcançou um acordo com o exército russo que prevê o treino de membros das milícias. “A presença russa (…) está prevista por um acordo entre [as YPG] e as forças russas a combater na Síria, no quadro da cooperação contra o terrorismo, para ajudar a treinar as nossas forças nas tácticas de guerra modernas e para construir um ponto de contacto directo com as forças russas”, afirmou Xelil, através de um comunicado citado pela Reuters.

Tropas russas começaram já a chegar à cidade de Kafr Jina, na região de Afrin, perto da fronteira com a Turquia, disse o porta-voz das YPG, que sugeriu que Moscovo poderá construir uma base militar naquela zona. Xelil disse que o acordo entrou em vigor esta segunda-feira, mas não revelou quantos militares russos serão envolvidos.

O Ministério da Defesa russo disse, no entanto, não ter planos para construir novas bases militares na Síria e esclareceu que a presença russa no noroeste da Síria se resume a uma unidade que tem como missão “impedir violações da cessação de hostilidades” em vigor desde Dezembro.

O vice-primeiro-ministro turco, Numan Kurtulmus, disse que Ancara não irá permitir que o norte da Síria se torne numa “região de terror”, mas não se pronunciou sobre a potencial colaboração entre russos e curdos. O Governo turco considera o YPG uma organização terrorista ligada ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que lidera um movimento separatista no sudeste da Turquia e é responsável por vários atentados nos últimos meses. A Turquia e a Rússia mediaram o acordo de cessar-fogo actualmente em vigor e têm juntado esforços para combater o Daesh, apesar de estarem de lados opostos na guerra civil síria.

O responsável das YPG revelou ainda que o grupo pretende, nos próximos meses, aumentar o número de combatentes para cem mil. No final do ano passado, havia 60 mil milicianos nas fileiras do grupo curdo, disse Xelil. 

O investigador do Atlantic Council, Aaron Stein, disse que a aproximação entre a Rússia e os curdos se devia à crescente relevância que as YPG estão a assumir no conflito sírio. "Os curdos são agora o actor não-estatal mais consequente na Síria, a par da Al-Qaeda", afirmou Stein, citado pela AFP. "Eles vão ter um enorme papel quanto ao futuro da Síria", acrescentou.

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