Passageiros ficam em terra porque a CP não tem comboios na linha do Oeste

Entre 13 e 23 de Fevereiro foram suprimidos 16 comboios na linha do Oeste porque as automotoras avariam e a CP não tem outras para as substituir. Alguns são substituídos por autocarros.

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As automotoras da linha do Oeste são as mais antigas/velhas da frota da CP Sandra Ribeiro
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Rita Chantre

Desde que no início do mês a CP retirou da linha do Oeste duas automotoras que foram enviadas para a linha do Douro, substituindo-as por material mais velho, o serviço deteriorou-se e as supressões têm sido quase diárias.

Em dez dias houve pelo menos 16 comboios suprimidos porque a empresa, simplesmente, não tem material para pôr nos carris. A solução tem sido recorrer a autocarros para assegurar algumas circulações.

Carlos Coutinho, que vive na Malveira e trabalha nas Caldas da Rainha, contou ao PÚBLICO que desde há uma semana tem vindo de comboio até Torres Vedras, mas que aí é obrigado a fazer um transbordo para um autocarro que vem depois por estradas secundárias a “visitar” todas as estações e apeadeiros até chegar ao destino. Resultado: para além do incómodo do transbordo, chega às Caldas da Rainha com 20 a 40 minutos de atraso.

Pior, porém, são os passageiros que ficam em terra, abandonados em estações que já fecharam e não têm ferroviários para lhes dar informações. O primeiro comboio da manhã entre Torres Vedras e Caldas da Rainha foi suprimido nos dias 6, 9, 10, 13, 16, 17, 20, 21 e 23 de Fevereiro. Em nenhum destes dias a CP assegurou transporte alternativo. Os comboios que se realizam sofrem as consequências deste serviço caóticos e é frequente circularem com 60 a 80 minutos de atraso.

O envio de duas automotoras espanholas 592 para o Douro (região que tem maior poder reivindicativo do que o Oeste junto da CP e do governo) obrigou a empresa a substitui-las por automotoras que já estavam desafectadas do serviço comercial e, na prática, preparadas para abate.

Com uma frota envelhecida, as avarias são frequentes e a empresa fica sem comboios para assegurar um serviço que, na linha do Oeste, já é diminuto: apenas regionais entre Lisboa e Caldas da Rainha vocacionados para satisfazer uma procura local e uma razoável ligação de longo curso das Caldas para Coimbra.

A CP já recebeu pedidos de autarcas do Oeste para reunir com a administração da empresa, o que deverá acontecer no início de Março. Nessa altura, segundo o PÚBLICO apurou, a CP espera ter um plano de curto prazo para apresentar aos presidentes de câmara que solucione – provisoriamente – a situação.

Fonte da empresa diz que “todas as hipóteses estão em cima da mesa”, mas vai ser necessária muito criatividade para uma empresa ferroviária assegurar um serviço sem ter comboios.

A solução definitiva passa pela aquisição de novo material circulante, mas é necessário autorização da tutela, além de que é um processo que demora anos.

A Infraestruturas de Portugal, que há um ano anunciou a modernização da linha do Oeste para 2020 – o que permitiria utilizar comboios eléctricos nessa altura - já admitiu, no entanto, que o projecto está com um ano e meio de atraso. Sem uma boa infraestrutura e sem comboios, a CP está condenada a continuar a prestar um mau serviço

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