Ruptura entre PPE e socialistas deixa em aberto quem será o sucessor de Schulz

Populares acusam esquerda de romperem pacto assinado em 2014 ao apresentarem candidatura própria à presidência do Parlamento Europeu, permitindo que populistas tenham uma palavra a dizer.

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Pitella, Verhofstadt e Tajani num debate quarta-feira à noite em Bruxelas Francois Lenoir/Reuters

A dias da eleição do novo presidente do Parlamento Europeu, Bruxelas ferve de intrigas, trocas de acusações e, pela primeira vez desde que há memória, reina a incerteza sobre quem será o sucessor de Martin Schulz. Um clima que atingiu o seu auge quando Manfred Weber, o presidente do Partido Popular Europeu (PPE), o maior grupo do hemiciclo, acusou os socialistas e os liberais de terem rasgado o acordo assinado entre os três em 2014 garantindo que o cargo regressaria às mãos dos populares.

Este “regresso da política”, como lhe chamou o Politico, está a entusiasmar a imprensa e os críticos dos acordos de bastidores que há mais três décadas se tornaram prática entre os maiores grupos parlamentares em Bruxelas sempre que há uma decisão a tomar, um cargo a ocupar, uma política a definir. Ao invés, desta vez há sete candidatos em campanha e nenhum vencedor anunciado à partida – a eleição exige a maioria absoluta de votos entre os 751 deputados, mas se ao final de três votações nenhum dos candidatos atingir essa fasquia, apenas os dois mais bem colocados se defrontam numa quarta ronda.

Foi com o argumento de impedir que os eurocépticos – um grupo que cresce a cada eleição europeia – possam ter um papel decisivo a dizer nos lugares de topo das instituições europeias que os populares e os socialistas assinaram há três anos um acordo garantindo que, depois dos dois mandatos de Schulz, a presidência do Parlamento regressaria ao PPE, num entendimento subscrito também pela aliança liberal, liderada por Guy Verhofstadt, que é agora também candidato ao cargo.

Mas ainda antes de o alemão ter anunciado, em Novembro, que não iria lutar por um (inédito) terceiro mandato, ficou claro que os socialistas não estavam dispostos a aceder ao PPE a hegemonia nas presidências da UE – tanto o líder da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, como o chefe do Conselho Europeu, Donald Tusk, pertencem à família conservadora.

Acabou por ser Gianni Pitella, o líder do grupo socialista, a entrar na corrida, tornando-a mais incerta e enfurecendo o PPE. “Deixem-se ser claro, os que querem romper o pacto entre as forças pró-europeias serão responsáveis por permitir que os eurocépticos e os radicais possam influenciar as decisões nesta casa”, acusou Weber, na terça-feira, na mesma altura em que divulgava as duas folhas A4 do acordo de 2014, com as assinaturas dos líderes dos três partidos. 

O jornal El País adianta que tanto as equipas de Pitella como do candidato do PPE, o antigo comissário europeu e também italiano Antonio Tajani, têm multiplicado reuniões para conseguir o apoio das formações mais pequenas, embora garantam ambas que não vão pôr em causa o “cordão sanitário” que criaram em torno dos populistas – uma excepção que Verhofstadt não manteve ao negociar a adesão dos italianos do Movimento 5 Estrelas ao seu grupo, que acabaria por ser vetada pelos eurodeputados.

Pitella respondeu às acusações, afirmando que a escolha de Tusk para presidente do Conselho, em detrimento de um dirigente de esquerda, invalidou o acordo. Insiste também que a vitória do PPE nas europeias de 2014 foi mais modesta do que as três presidências que o partido quer acumular, dando a entender que, em caso de vitória do antigo aliado de Silvio Berlusconi, os socialistas vão dificultar a reeleição de Tusk, prevista para Maio. 

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