"Adeus, querido pai", disseram os filhos João e Isabel

Filhos de Mário Soares destacaram a "coragem" do pai nos momentos difíceis.

Foto
João e Isabel Soares com o rei de Espanha Daniel Rocha

A coragem de Mário Soares nos momentos difíceis da sua vida foi nesta terça-feira recordada com emoção pelos filhos João e Isabel, no claustro dos Jerónimos, onde voltou a ecoar a voz do ex-Presidente da República 32 anos depois.

"Nós, tínhamos aprendido há muito, não se chorava à frente dos PIDES", disse João Soares, que recordou o dia em que em 1968 ficou a saber, com a sua irmã, avô e mãe, que iam deportar o pai para São Tomé e Príncipe, um dos momentos mais difíceis que Mário Soares enfrentou "digno" e "corajoso como sempre".

Na sua intervenção, João Soares evocou o percurso político do pai, que "sofreu um número de prisões elevado" e foi forçado ao exílio em Paris, durante quatro anos, onde "fez uma vida simples": "somos testemunhas disso", afirmou.

De cravo vermelho ao peito, João Soares destacou ainda o "homem livre" que se afirmou como uma das grandes figuras do Portugal democrático e que marcou, de alguma forma, a Europa e o mundo depois da revolução de 25 de Abril de 1974".

"Adeus, querido pai", disse João no final do seu discurso, uma frase, aliás, repetida quase na íntegra pela irmã, minutos mais tarde. "Até sempre, querido pai".

Com a voz embargada, Isabel Soares, filha, lembrou os "tempos difíceis esses das prisões, da deportação para São Tomé e do exílio em Paris" mas, frisou, "numa durante esse tempo" se ouviu a Mário Soares um "queixume, uma palavra de desalento ou desânimo".

"Nos dias cinzentos e de chumbo da ditadura, quando o íamos visitar ao parlatório a Aljube ou a Caxias, cheios de raiva contida e de lágrimas, porque a mãe ou o avô nos diziam que não podíamos chorar na presença dos 'pides' era ainda e sempre o pai que nos dava alento, nos consolava e dava ânimo", recordou.

A cerimónia de homenagem ao antigo Presidente da República, que morreu sábado aos 92 anos, começou com a audição das primeiras palavras que proferiu, enquanto primeiro-ministro, na cerimónia de assinatura do Tratado de adesão à Comunidade Económica Europeia, a 12 de Jnho de 1985, há quase 32 anos, no claustro do Mosteiro dos Jerónimos.

"Nestes claustros velhos de quatro séculos juntam-se hoje o passado e o futuro de Portugal. Ao realizar aqui a cerimónia histórica da assinatura do Tratado de Adesão de Portugal às Comunidades Europeias, quisemos sublinhar que a fidelidade às nossas raízes e tradições constitui condição essencial para a construção do futuro", disse então Mário Soares.

A cerimónia contou ainda com a audição do poema de Álvaro Feijó Os dois sonetos de amor da hora triste, pela voz da mulher de Mário Soares, Maria Barroso, que morreu em Julho de 2015.

O Coro do Teatro Nacional de São Carlos e a Orquestra Sinfónica Portuguesa interpretou os momentos de música na cerimónia de despedida a Mário Soares, que vai hoje a enterrar no Cemitério dos Prazeres, Lisboa, pelas 15h30, no segundo dos três dias de luto nacional decretados pelo Governo.

Sugerir correcção
Comentar