Falta de especialistas põe urgências das duas maternidades de Coimbra em risco

Alerta parte da Ordem dos Médicos que diz que não se investe nem em equipamento nem na reabilitação de espaços desde 2012. Presidente do conselho de administração do CHUC diz que "é um exagero total dizer-se que está em risco o funcionamento das urgências".

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SERGIO AZENHA

A Ordem dos Médicos considera “alarmante” a falta de especialistas nas maternidades Bissaya Barreto e Daniel de Matos, em Coimbra, e alerta para uma situação de “catástrofe iminente” nos serviços de urgência das duas maternidades, mas também nos Hospitais da Universidade de Coimbra.

O cenário traçado pela Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos é de escassez de recursos humanos que pode inviabilizar “a elaboração de uma escala de urgência com o número de médicos indispensáveis ao funcionamento do serviço de acordo com as normas do Colégio da Especialidade de Ginecologia e Obstetrícia da Ordem dos Médicos”, afirma o presidente, Carlos Cortes. O responsável realça a necessidade de serem contratados mais médicos para que o problema seja resolvido.

Ao PÚBLICO, Carlos Cortes diz que o problema “não é só de recursos humanos”, mas é “transversal a toda a actividade”, afectando também as infraestruturas das maternidades.

A Ordem entende que o envelhecimento dos especialistas que estão actualmente ao serviço vem “piorar ainda mais esta realidade”. Números avançados pela secção regional da Ordem revelam que 75% dos médicos dos serviços de Obstetrícia e Ginecologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) têm mais de 50 anos, idade a partir da qual podem recusar fazer urgência.

Carlos Cortes refere ainda que, no caso da maternidade Bissaya Barreto, “não são contratados médicos especialistas desde 2010”. “A maternidade tem muitos médicos novos em formação, mas quando acabam a especialidade o Ministério da Saúde não abre vagas para eles se manterem na instituição”, lamenta.

O presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos deu a conhecer estas preocupações à administração do CHUC, ao Ministério da Saúde e à Administração Regional de Saúde do Centro. O PÚBLICO tentou obter um comentário por parte do Ministério da Saúde, mas sem sucesso. 

Já Martins Nunes, presidente do conselho de administração do CHUC, faz saber através do gabinete de comunicação que "é um exagero total dizer-se que está em risco o funcionamento das urgências das maternidades".

"Situação é muito grave"

O representante dos médicos da região Centro considera, contudo, que “a situação é muito grave” e que esta realidade não pode ser comparada “com o que se passa em qualquer um dos outros hospitais universitários do país”.

No caso de Coimbra, “o cálculo do número de médicos não poderá" fazer-se apenas pensado "no número de partos e na população de referência”, defende Carlos Cortes que explica que os serviços de ginecologia tratam também de doentes oncológicos.

Dados da secção regional mostram que em 2013 foram realizados 4823 partos nas duas maternidades do CHUC e que os dois serviços de ginecologia diagnosticaram 469 novos casos de vários tipos de cancro.

O “número elevado de médicos especialistas que saíram nos últimos anos” pode “colocar em risco” consultas e cirurgias nos serviços de ginecologia dos CHUC, que funcionam no edifício principal dos Hospitais da Universidade de Coimbra e na maternidade Bissaya Barreto.

A fusão que não aconteceu

A secção regional da Ordem dos Médicos lembra ainda que, no caso das maternidades, a fusão dos hospitais de Coimbra não se concretizou. Como essa fusão “não saiu do papel”, desde 2012 que não se investe em equipamentos nem na reabilitação dos espaços físicos.

“Há esta sensação de que agora não vale a pena [investir] porque vai haver uma nova maternidade”, diz Carlos Cortes. Mas o responsável refere-se à nova maternidade como “um projecto fantasma” sobre o qual “nada está definido”.  

Carlos Cortes volta a dar o exemplo da Bissaya Barreto, onde há “equipamentos envelhecidos” e “dificuldades na manutenção” devido à antiguidade de alguns aparelhos. 

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