Piloto do avião em que viajava a Chapecoense comunicou ter falta de combustível

Um director da companhia aérea Lamia revelou que estaria prevista uma escala para reabastecimento em Cobija, no Norte da Bolívia.

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Uma gravação da comunicação estabelecida entre o avião da companhia aérea venezuelana Lamia, que transportava a Chapecoense e caiu na Colômbia vitimando 71 pessoas, e a torre de controlo do Aeroporto José Maria Córdova, em Medellín, confirma que o piloto Miguel Quiroga solicitou prioridade para aterrar por falta de combustível. O Avro RJ85, modelo onde viajava a equipa de futebol brasileira, tem uma autonomia máxima para 3075 quilómetros, apenas mais 100 do que a distância do voo entre Santa Cruz, na Bolívia, e Medellín, na Colômbia.

Na comunicação, divulgada nesta quarta-feira pela imprensa colombiana, o piloto Miguel Quiroga começa por solicitar à torre de controlo prioridade para a aterragem sem, no entanto, comunicar uma situação de emergência: “Em aproximação, solicitamos prioridade para a aproximação, apresentamo-nos com um problema de combustível.” Depois de obter a confirmação da informação fornecida pelo piloto, a torre de controlo comunicou a Miguel Quiroga os “vectores [direcção da pista] para proceder ao localizador e efectuar a aproximação”, mas após sete minutos de impasse, que terá sido provocado pela aproximação ao aeroporto de uma outra aeronave com falta de combustível, o comandante informa que o quadrimotor encontra-se em “falha total, falha eléctrica total e sem combustível”. Logo de seguida, na última comunicação com o aeroporto de Medellín, Quiroga refere que o avião encontra-se a 10 mil pés e volta a pedir os “vectores para a pista”.

Avião regional produzido pela British Aerospace entre 1983 e 2002, o Avro RJ85 com o registo CP2933 era um dos dois modelos que compõe a frota da Lamia, e tinha uma autonomia máxima de 3075 quilómetros, apenas mais 100 do que a distância entre Santa Cruz, na Bolívia, de onde partiu o voo que transportava a equipa da Chapecoense, e Medellín, na Colômbia. Em  declarações ao jornal colombiano El Tiempo, o general boliviano Gustavo Vargas, director da companhia aérea Lamia, revelou que estaria prevista uma escala para reabastecimento: “De Santa Cruz deveria ir a Cobija [no Norte da Bolívia, junto à fronteira com o Brasil] e, depois, para Medellín. No entanto, foram directos para Bogotá, onde [o piloto] tinha que avaliar a possibilidade de seguir ou aterrar”, disse Gustavo Vargas. “O aeroporto de Bogotá, segundo o plano de voo, era a alternativa. Antes de passar por Bogotá, tinha que tomar a decisão: se tivesse combustível, tinha que seguir, mas, se existisse algum problema com o combustível, devia aterrar [em Bogotá]”, acrescentou.

Ximena Suárez, hospedeira boliviana, de 28 anos, que sobreviveu ao acidente, relatou no hospital que “as luzes apagaram-se” e que “o avião desligou-se por completo e teve uma forte descida, seguida de um grande impacto”. Erwin Trutimu, outro membro da tripulação que também sobreviveu, explicou que escapou apenas com ferimentos no antebraço e no queixo por ter seguido os protocolos de segurança: “Muitos levantaram-se dos seus lugares e começaram a gritar. Eu coloquei malas entre as pernas para formar a posição fetal que se recomenda nos acidentes”. 

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