UE acelera cooperação na defesa em resposta à eleição de Trump

Ministros da Defesa e Negócios Estrangeiros apoiam criação de estrutura permanente para coordenar missões civis e militares.

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Mogherini foi incumbida de apresentar propostas para que o plano possa começar a ser concretizado "no primeiro semestre" de 2017 Emmanuel Dunand/AFP

Menos de uma semana depois da vitória de Donald Trump nas presidenciais americanas, a União Europeia ultrapassou velhas resistências e aprovou um plano com vista ao reforço da cooperação em matéria de defesa, incluindo uma possível “estrutura permanente” para coordenar missões civis e militares.

Para já é apenas um roteiro, listando objectivos e áreas de intervenção, mas a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, foi incumbida pelos ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros dos Vinte e Oito de apresentar, “assim que possível”, propostas para pôr o plano em marcha “no primeiro semestre de 2017”.

“Não é uma coincidência” que a iniciativa – uma estratégia de saída para a crise em que o “Brexit” mergulhou a UE – seja aprovada agora, garantiram ministros e diplomatas presentes em Bruxelas, numa alusão à eleição de Trump, que durante a campanha disse que a NATO estava “obsoleta” e sugeriu que poderia não vir em socorro dos aliados se estes não começarem a gastar mais em defesa. “Claramente foi uma mensagem para que aumentemos e melhoremos a nossa coordenação”, disse Margot Wallstrom, chefe da diplomacia sueca, cujo país não pertence à NATO.

Uma das ideias que gera consenso é a criação de uma estrutura permanente – não ainda o quartel-general que se chegou a falar em Setembro – para coordenar todas as missões da UE (actualmente são 17, geridas por uma dezena de centros de comando). Os 28 querem também garantir que os batalhões de reacção rápida, criados em 2007 mas nunca utilizados, têm condições para ser mobilizados. Na reunião, adianta o jornal espanhol El País, foi ainda discutida a criação de um fundo para financiar operações “acordadas comumente pelos Estados-membros” e a possibilidade de os países que assim o desejem se envolvam em projectos de cooperação militar mais ambiciosos.

Mas se as ideias geram consenso, a forma como serão concretizados continua a gerar dúvidas, sobretudo dos países mais atlantistas, que temem que as estruturas europeias se sobreponham à NATO – um receio que será tratado terça-feira numa reunião dos ministros da Defesa da UE com o secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg.

Entre eles destaca-se o Reino Unido que, apesar de estar de saída e ter por isso levantado antigas objecções aos projectos de defesa comum, insiste que é prioritário que cada Estado-membro da NATO reforce os seus gastos com a defesa – dos 28 Estados-membros da NATO só cinco, incluindo o Reino Unido, cumprem a obrigação de reservar 2% do PIB com defesa. “Mais do que sonhar com um Exército europeu, a melhor aproximação à presidência de Trump seria os países europeus começarem a gastar mais com a sua própria defesa”, disse o ministro britânico Michael Fallon à saída da reunião em Bruxelas.

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