Transportes: “Se este Governo não der resposta, será cúmplice do anterior"

Não quer dar um prazo para lançar greves nos transportes, mas avisa que as respostas têm que ser imediatas. A degradação da qualidade existe, alerta Arménio Carlos.

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Transportes: “Precisamos agora é de não defraudar as expectativas" São José Almeida, Raquel Martins

Arménio Carlos está preocupado com os transportes públicos: “A pior coisa que podia acontecer” era, “depois de uma decisão acertada”, deixar que “o serviço público, por incapacidade da resposta, levasse à degradação da qualidade”.

 

Temos ouvido comentários de que a reversão da privatização dos transportes de Lisboa e Porto feita pelo Governo foi uma forma de comprar a paz social por parte da CGTP. Como vê este comentário?

Não nos foi proposto nenhum acordo e não fizemos nenhuma negociação. O que sempre defendemos foi o direito dos trabalhadores dos transportes e dos seus acordos de empresa e assegurar com essa luta a continuação da prestação de um serviço público de qualidade às populações. Foi uma luta dura. Valeu a pena. Temos de valorizar a decisão dos partidos que têm maioria absoluta na Assembleia da República e a decisão do Governo do PS que travou a entrega da gestão destas empresas públicas à iniciativa privada. Mas isso não chega, o que precisamos agora é de não defraudar as expectativas das pessoas. O que nós constatamos é que o Governo PSD-CDS degradou aos mais variados níveis aquelas empresas, do ponto de vista da redução de pessoal, do ponto de vista do financiamento — que leva a que uma boa parte da frota esteja imobilizada por falta de materiais — e até no plano das burocracias.

 

Essa degradação de que fala tem sido muito noticiada no Metro de Lisboa e não tem havido contestação por parte dos sindicatos. Pelo menos não se vê — e há dois ou três anos havia greves periódicas do Metro. Como é que explica isto?

Nós fazemos greves contra as políticas que põem em causa os direitos dos trabalhadores e das populações e, ao longo dos últimos meses, tenho estado em várias iniciativas dentro do Metro, da Carris, da Transtejo para chamar a atenção para este problema. Fizemos uma reunião com o ministro do Ambiente e está outra programada para este mês para tentar resolver o problema. A pior coisa que podia acontecer — e já dissemos isto ao ministro e ao Governo — era, depois de uma decisão acertada, que foi impedir a entrega da gestão das empresas à iniciativa privada, que o serviço público, por incapacidade da resposta, levasse à degradação da qualidade.

 

Não é isso que está a acontecer?

É. Por isso já dissemos ao Governo que, ou toma medidas imediatas para resolver este problema, ou será cúmplice de um processo que se iniciou bem e que pode terminar mal. Nós não queremos que este processo termine mal, depende agora do Governo dar resposta a estes problemas. Se quiser resolver a bem, como nós desejamos, as coisas avançarão naturalmente, os trabalhadores ficam satisfeitos e as populações com um serviço melhorado. Se o Governo não tiver isso em consideração, então assumirá as suas responsabilidades no que diz respeito à conflitualidade que eventualmente puder vir a verificar-se.

 

Qual é o prazo que dão ao Governo para resolver o problema?

Não temos prazos. Estamos a trabalhar num terreno que ficou minado pelo anterior Governo o que nos interessa é que rapidamente este processo seja ultrapassado. Isto não é difícil. É uma questão de sensibilidade política, de realismo e de eficácia. Do que precisamos é menos conversa e mais trabalho para resolver os problemas. Depende do Governo. Se quiser dar continuidade a uma linha de intervenção muito correcta e que implementou há um ano, muito bem, vamos no bom caminho. Se começar a frustrar expectativas, não teremos outro caminho senão dar sequência à responsabilidade pela ausência de medidas.

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